Se não quiser ler coma um livro no Folio

O Festival Literário Internacional de Óbidos começa hoje. Mais de 250 eventos até dia 2.
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Quando se diz que já se fez de tudo na literatura há sempre um livro que vem mostrar que não se atingiu o limite da imaginação. É essa realidade que se pode encontrar entre os milhares de livros que estão na vila de Óbidos entre hoje e dia 2, bem como nas ideias das centenas de autores aí presentes que inovam a cada romance. Mas, nesta segunda edição do Festival Literário Internacional de Óbidos, o Folio, o leitor tem uma grande surpresa à sua espera. Trata-se da possibilidade de comer um livro!

Sim, é verdade, e pode fazê-lo todos os dias entre a hora do lanche e do jantar numa das 250 iniciativas que acontecerão ao longo desta edição do Folio.

O autor destas obras que vão unir a gastronomia à literatura é o chef do restaurante Vila Joya, Dieter Koschina, que vai estar hoje na inauguração e no último dia do Folio para confeccionar e apresentar ele próprio os livros que podem ser comidos, sendo que elementos da sua equipa permanecerão no espaço do festival durante as duas semanas do evento.

Para o Chef que está a comemorar os 25 anos na posse de duas trelas Michelin, este cozinhar de um livro entronca na categoria do paladar mental. Ou seja, os livros cozinhados também contam boas histórias. E já os elaborou no restaurante no Algarve ao sabor de várias formas: livros cozidos, assados, com saladas ou raviolis. Não tem limite a imaginação como os livros podem ser servidos, percebe-se.

Em Óbidos, o evento The Cooked Book vai contar com a confeção de um livro de fotografias, feito com papel especial que pode ir ao forno. Haverá duas versões: um de capa simples que será grelhado e outro em que capa e contracapa de pão irá ao forno. Sabor? Para isso é preciso ouvir a opinião gastronómica dos que experimentarem estas provas literárias. Quanto à qualidade das fotografias impressas no interior do volume, também será possível apreciá-las mal saiam do forno.

Diz o organizador, Carlos Coelho, que este projeto é "algo de muito especial e nunca visto", e que esta experiência resulta da vontade de combinar três ingredientes: "palavras, livros e chefs." Também a proprietária do restaurante, Joy Jung, considera que o livro que se come é o remate próprio para o fim de uma refeição: "Cada prato tem a sua própria história, que é escrita pelo chef. Daí que cada chef seja um escritor em cada menu que prepara".

Comboios especiais

O Festival Literário de Óbidos começa hoje pela 10.25 para os que quiserem deslocar-se àquela vila de comboio a partir da Estação do Rossio. Uma viagem em que estarão alguns dos autores participantes do Folio, e que será repetida até ao último dia, 2 de outubro, todas manhãs e à noite, pelas 00.30, num comboio especial para este evento.

A abertura do Folio acontece pelas 11.30 e os leitores que quiserem têm logo à disposição uma Feira do Livro de Saldos para procurar títulos que não encontra ou fazê-lo também na dúzias de livrarias que existem nesta Vila Literária.

Ao mesmo tempo são inauguradas várias exposições no espaço intramuros de Óbidos, como é o caso da Estreitando Margens, com fotografias de Maria João Coutinho e Simion Doru Cristea; instalações como a Filipe Seems de António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva; uma leitura de poemas de autores portugueses por 75 personalidades da cultura; a aula de António Mega Ferreira sobre Cervantes; a projeção do filme Cartas de Guerra de Ivo Ferreira, entre muitos outros eventos que terminam, a nível literário, com uma conversa do Nobel V.S. Naipul com José Mário Silva e, a nível musical, com os espetáculo tributo a Edu Lobo por Bena Lobo e Marta Hugon.

A partir de amanhã, a maior parte destes eventos mantêm-se abertos ao público durante as duas semanas, mas todos os dias acontecem aulas - com Helder Macedo, José Gil, Maria Filomena Molder, Clara Rowland, João Constâncio, entre outros, -, bem como debates com Andrea del Fuego, Afonso Cruz, Djaimilia Pereira, Pedro Mexia, Rui Horta, entre outros; apresentações de livros como a de A Vida no Campo de Joel Neto e vários concertos, como os de Sérgio Godinho, Júlio Resende e Camané, entre outros. A encerrar o Festival de Óbidos, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, debate com Afonso Camões, diretor do JN.

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