Se anda como pato não é tigre!

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"A avaliação de risco é independente da vacinação". Ou seja, vacinados ou não vacinados, não importa. O risco é o mesmo e as orientações a seguir são iguais. Existiu um contacto mesmo com as duas doses? Então é quarentena. Quem o disse foi o secretário de estado da Saúde, esclarecendo que António Costa é "um cidadão exemplar" (ao contrário de Cabrita?) pois está em isolamento porque, volvido mais de mês e meio sobre a segunda toma, esteve com alguém com covid, ainda que mantendo sempre a distância e usando duas máscaras. Contacto de baixo risco? Ora, se Costa é essa encarnação da Aretê, bússola, farol nas trevas, "a avaliação de risco é independentemente da vacinação" significa o quê? Que a vacina não serve para nada ou serve só para protecção individual parcial? Ou significa que a avaliação de risco é mal feita (urgente mudar a matriz nesta fase endémica que não ameaça a capacidade hospitalar)? Talvez não estejamos perante um português modelo mas sim mediante um teatrinho de tiranetes e títeres, bazófias e bufões? Afinal, se a vacina não dá imunidade não se deve fazer publicidade enganosa, a informação deve ser clara e permitir que cada um escolha livremente, nunca condicionando direitos, liberdades e garantias. O argumento de que são cidadãos que, eventualmente, poderão onerar o serviço nacional de saúde significa que vamos também cobrar a fumadores, obesos, não-activos, consumidores de álcool e outras substâncias, abusadores do sal, todos com doenças evitáveis?

Mas esta é apenas mais uma embrulhada. Entre as máscaras que dão uma falsa sensação de segurança e as máscaras obrigatórias no acesso à praia, entre saber-se que a mortalidade de covid é sobretudo elevada entre idosos e os abandonar em lares infectos, entre os estudos com homens grávidos e a incapacidade de distinguir quantos morreram de e com covid, parece que mora aqui um lança-caos. Entre a brutal negligência de doentes oncológicos ou cardiovasculares, os horários restritos que apenas concentraram mais pessoas nas lojas e os transportes públicos apinhados, entre não testar e testar à toa, entre praias vazias e marginais lotadas, caminha como um lança-caos. Entre os portugueses confinados e os apelos para que desconfiassem e fossem apoiar a selecção, entre o virus alfacinha que só é perigoso ao fim de semana, ou a variante nacional que ataca só de noite, as pessoas multadas por comerem gomas e sandes, a Constituição da República rasgada e pisada, grasna como um lança-caos. Entre os portugueses com restrições e os estrangeiros livres, entre a plebe amordaçada e os governantes a viajar para o futebol, entre as stayaway covid, a lei da censura e os passaportes sanitários, entre o só são 15 dias e já lá vão mais de uma dúzia de meses, nada como um lança-caos. Enfim, a caminho do segundo ano desta gestão da covid errática, radical, perigosa, contraditória, classista, e devidamente descontada uma eventual apoplexia inicial, fica a questão: parece mesmo que tudo isto é um lança-caos. E se parece um lança-caos, nada como lança-caos e grasna como lança-caos, então provavelmente é mesmo um lança-caos. Programa de saúde pública é que não é, de certeza. Em política, o que parece, é. Resta saber: E para quê? Porque quiseram lançar o caos?

Psicóloga clínica.
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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