Saúde Mental no Ensino Superior: É urgente mudar!
A entrada no Ensino Superior representa a exposição a diferentes fatores de stress -- outro ambiente, outras rotinas, mais responsabilidade, mais exigência e, em muitos casos, a distância da família, dos amigos e uma casa para gerir sozinho. É uma mudança grande e importante que, se não for bem gerida em termos emocionais, pode determinar o aparecimento ou o agravamento de problemas psicológicos. No fim da linha pode até significar o abandono dos estudos.
Há muito tempo que a investigação apontava para aquilo que os estudos da Universidade de Évora e da Federação Académica do Porto vieram agora demonstrar: os nossos estudantes apresentam um declínio significativo na sua saúde mental e, consequentemente, nos seus níveis de bem-estar e qualidade de vida. Apesar disso, apenas uma pequena percentagem dos universitários procura ajuda nos serviços disponíveis nas Instituições de Ensino Superior. Porquê?
Existem razões várias. O tipo de apoio oferecido pelas faculdades, o preço e tempo de espera por uma consulta...
Como Psicóloga Clínica e Diretora de um Serviço de Psicologia de uma universidade digo que o motivo principal são o preconceito e os mitos associados à saúde mental decorrentes da falta de investimento na literacia na saúde.
É urgente mudar o estado de coisas. O país precisa de uma grande reviravolta nas políticas de saúde mental e as nossas faculdades precisam de construir soluções que respondam aos problemas dos seus alunos.
A Psicologia Clínica evoluiu e apresenta hoje um conjunto de intervenções centradas na pessoa, que têm em conta o seu contexto biopsicossocial. Não havendo recursos para as tradicionais consultas individuais, existem programas de prevenção e de intervenção -- cientificamente validados -- que abordam diferentes competências psicológicas. Aplicáveis em diferentes contextos, estes programas fomentam a educação para saúde mental, o autocuidado e a qualidade de vida. Tornam o estudante um agente ativo do seu processo de desenvolvimento pessoal e psicológico e permitem-nos, a nós, chegar mais rapidamente a mais pessoas.
O país precisa de uma mudança de paradigma. Não podemos continuar a fechar os olhos a esta realidade. É imperativo quebrar tabus e investir a sério na prevenção e na promoção da saúde mental no Ensino Superior. Esse é o futuro, esse é o caminho.
Diretora do Serviço de Psicologia da Universidade Lusófona no Centro Universitário do Porto