Saúde Mental nas Empresas: agir ou reagir?
No último ano, o trabalho causou stress, depressão ou ansiedade a perto de dois em cada cinco trabalhadores em Portugal. No entanto, pouco mais de 10% das empresas no país têm procedimentos para lidar com os riscos psicossociais -- que são vários.
Em 2020, a perda de produtividade associada ao stress e a outros problemas de saúde psicológica teve um impacto de 3,2 mil milhões de euros nas nossas empresas. Em 2022, esse valor subiu para 5,3 mil milhões de euros.
Num cenário socioeconómico especialmente preocupante, a resposta às nossas pessoas, mas também às empresas e instituições onde trabalham, deverá passar pela prevenção e não apenas pela reação e resposta.
Hoje, sabemos que se conseguirmos tomar as necessárias medidas de prevenção e promoção da Saúde Psicológica e do bem-estar, podemos acumular uma poupança de cerca de 1,6 mil milhões de euros, por ano, às empresas portuguesas. Esta é a conclusão da análise recentemente desenvolvida e lançada pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, em Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações: Relatório do Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho.
Poder-lhe-ia acrescentar as consequências físicas associadas a problemas de saúde mental. E, em dois simples exemplos, conseguimos perceber o quão destrutivos podem ser: o stress e a ansiedade são dos mais relevantes fatores de risco das doenças cardiovasculares, e a depressão está associada a um aumento da mortalidade em 50%. Acresce o burnout que é o culpado por acidentes de trabalho e que, em 2020, afetou 156 mil pessoas em Portugal.
Assim, torna-se fundamental compreender e promover o impacto pessoal, social e económico da prevenção dos problemas de saúde mental.
O mesmo relatório da Ordem dos Psicólogos Portugueses faz o diagnóstico e aponta soluções, assinalando os custos e benefícios no cuidar da saúde mental dos profissionais portugueses, num processo evolutivo e comparativo a uma primeira versão do mesmo estudo, de 2020. Pessoas felizes, pessoas produtivas é o desafio para o presente e o lema para o futuro.
É evidente que precisamos de trabalhar em formas de minimizar o enorme peso do contexto profissional na saúde mental. Mas como é que o fazemos? Em primeiro lugar, promovendo boas práticas laborais e valorizando os trabalhadores, como também a Agenda do Trabalho Digno tem vindo a impulsionar. Por outro lado, importa responder diretamente ao problema, através de condições ajustadas aos contextos, de intervenção direta de psicólogos do trabalho que desenvolvam planos de prevenção e intervenção nos riscos psicossociais, assim como com avaliações de indicadores e estratégias bem definidas junto desses profissionais de saúde.
Sejamos claros: não há saúde sem saúde mental. E, sem saúde mental, o risco do aumento de custos em saúde e redução de rendimento e produtividade cresce exponencialmente.
A promoção de ambientes de trabalho saudáveis reduz os custos psicossociais, mas também contribui para identificar e prevenir outras situações preocupantes que podem estar ao nosso redor, sem que o percebamos, da violência ou assédio laboral e sexual, à redução de situações de discriminação e minimização de stress ocupacional. Um espaço de abertura e de diálogo sobre saúde -- principalmente a mental -- será sempre um espaço de conforto e proteção entre todos.
Promover ambientes laborais saudáveis é fomentar saúde, qualidade de vida e do trabalho produzido, felicidade e responsabilidade, independentemente do seu contexto. Todos somos chamados a este desafio e a este lema, mais cedo ou mais tarde. Melhor do que reagir, será sempre prevenir.
Deputado do Partido Socialista à Assembleia da República