Saúde da voz dos portugueses avaliada em rastreio gratuito
A voz é o nosso principal meio de comunicação e este ano, pela primeira vez, uma especialista vai andar pelo país a avaliar a saúde das nossas vozes. O primeiro rastreio nacional foi lançado ontem e marca o Dia Mundial da Voz, que se assinala hoje.
Clara Capucho é a especialista que vai andar pelo país e que já realiza o rastreio no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, onde fundou a Unidade de Voz. Até dia 20 é possível visitar esta unidade e fazer o rastreio gratuito, nos dias 18 e 19 será aberto à população, nos outros é dirigido aos artistas. O norte recebe o primeiro rastreio descentralizado em maio. O exame é muito simples, assegura a otorrinolaringologista. "Avalia-se a voz, vê-se se é a ferramenta de trabalho na profissão, se é fumador, se tem alterações na voz, e depois a seguir passa-se a um exame físico que é ver as cordas vocais para ver se têm lesões ou não", explica.
Quem já passou muitas vezes por este exame foi o cantor Miguel Gameiro, que se associa sempre ao rastreio. O cantor reconhece que não tem muitos cuidados com a voz. "Quando comecei a cantar tinha imensos cuidados e depois também sentia que por qualquer coisinha ficava logo doente." Agora, cumpre regras "quando há mais trabalho". "Não bebo bebidas muito frias, faço aquecimento de voz, tenho cuidado com a alimentação depois dos concertos, por causa do refluxo. De uma forma geral, não sou metódico nos cuidados, mas não fumo, por exemplo", aponta.
No dia em que visitámos o serviço (na quinta-feira, dia 13), Eunice Muñoz tinha ido às lições de voz. "Há anos que a doutora Clara toma conta da minha voz e desde que fiz a intervenção à garganta [a um cancro na tiroide] que me deixou com pouca voz que faço aqui todo o trabalho para a recuperar". São as lições de 20 minutos, três vezes por semana, que já lhe permitiram recuperar alguma da voz perdida. Antes do problema de saúde a atriz de 88 anos confessa que não tinha grandes cuidados com a voz. "Não precisava", justifica. Agora aconselha toda a gente a fazer o rastreio, principalmente se sentir alterações na voz.
Os artistas da grande Lisboa já se deslocam com frequência à unidade do Egas Moniz, mas para aqueles que vivem longe da capital este rastreio vai finalmente chegar até eles. "Temos artistas em todo o lado e esperamos, junto da população em geral, ajudar a melhorar a sua condição de vida porque estes rastreios permitem detetar em tempo problemas mais graves que ainda se possam corrigir", sublinha Luís Sampaio, vice-presidente da GDA - Gestão dos Direitos dos Artistas, que patrocina este rastreio.
Atentos a esta avaliação devem estar os fumadores e os profissionais que trabalham com a voz (artistas, jornalistas, vendedores ambulantes, professores, oradores, entre outros). Entre os principais problemas estão "o refluxo gastro esofágico, que tem a ver com hábitos alimentares, e outras patologias como os nódulos e pólipos, ligados à má colocação de voz". Mais graves são os casos "de cancro da laringe, ligados aos hábitos tabágicos", acrescenta a especialista, sublinhando, no entanto, que quando detetados em fases iniciais, estes cancros "são curáveis e sem sequelas".