Saúde 24 reforçada passa a seguir doentes depois das cirurgias

Bastonário dos médicos questiona utilidade do serviço. Enfermeiros defendem que traz ganhos para a saúde dos utentes
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A Linha Saúde 24 vai passar a ter, a partir de junho de 2017, mais serviços, como marcação de consultas, seguimento de grávidas e de pessoas que fizeram cirurgias em ambulatório. O bastonário dos médicos questionou ontem a utilidade deste serviço e defendeu mesmo que se deve preparar o seu encerramento. Mas o Governo não só não vai acabar com ele como vai transformá-lo no Centro de Contacto do SNS. A bastonária dos Enfermeiros afirma que a Linha tem ganhos em saúde e o sindicato defende que não deve encerrar. Para o presidente da Associação dos Médicos de família é preciso avaliar o serviço antes de qualquer decisão.

"O hospital pediátrico de Coimbra não recebe encaminhamentos há um ano. É a prova da inutilidade da Linha. Há lá comparação possível entre o cidadão poder falar com o seu médico ou enfermeiro de família, que o conhece, e poder pedir um conselho? A Linha foi criada quando havia falta de médicos de família. Caminhamos para a cobertura quase total. Temos de habituar as pessoas a ligar para os centros de saúde e falarem com quem as conhece. Que se prepare o encerramento da linha e se invista esse dinheiro nos centros de saúde e hospitais pois são eles que respondem às necessidades das pessoas", defendeu ao DN José Manuel Silva, bastonário dos médicos, considerando que a nova oferta da Linha pode ser feita pelos serviços.

A Saúde 24 começou a funcionar em abril de 2007, um alargamento da Dói Dói Trim Trim. Desde então foram ligaram 2,3 milhões de pessoas, recebidas 7 milhões de chamadas, 60% das quais feitas entre as 18.00 e a 01.00. "É quando os centros de saúde não funcionam. Prevemos terminar o ano com 900 mil chamadas e nos últimos dois anos houve um aumento em média de 150 mil chamadas por ano", refere Sérgio Gomes, da Direção Geral da Saúde.

Dá informação de saúde pública, serviços disponíveis no SNS, aconselhamento para medicamentos não sujeitos a receita médica e faz triagem e aconselhamento. "Em cerca de 30% das chamadas são aconselhados cuidados em casa e 17% a 20% são encaminhadas para urgências. O ano passado avaliámos 110 mil chamadas entre junho e setembro, 50% não tinham indicação para urgência e metade não foram mesmo. A estimativa, olhando para a média de urgências, é que se tenha poupado 2 milhões de euros."

A partir de junho de 2017 a Linha passará a ser o Centro de Contacto do SNS, com um custo de 30 milhões anuais, num contrato válido por três anos. "Vamos ter outros serviços incluindo seguimento de cessação tabágica, hipertensos, grávidas, diabéticos e telecuidados de apoio a pessoas que fizeram cirurgias de ambulatório. Será um seguimento de cinco dias, com chamadas feitas a determinadas horas, numa articulação direta com os serviços dos hospitais ou centros de saúde que identificam os doentes e o que pretendem avaliar e nós ligamos e damos a informação".

Ana Rita Cavaco, bastonária dos Enfermeiros e que trabalhou na Linha Saúde 24, afirma que esta não deve ser encerrada. "Traz ganhos em saúde. Concordo com o bastonário dos médicos quando diz que é preciso reforçar os cuidados de saúde primários, mas não podem ser estes a fazer atendimentos quando os enfermeiros não chegam para as consultas e não há telefonistas nos serviços. A mais valia da linha está em dotar as pessoas de cuidados que possam fazer em casa e não entupir as urgências". O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses considera exagerado falar em fechar a Linha. "O que achamos é que se deve ver o que está a funcionar bem e o que deve ser melhorado", afirma Guadalupe Simões.

Já Rui Nogueira, presidente da Associação dos Médicos de Família, defende que "deve ser feita uma avaliação primeiro para saber qual a sua utilidade, se deve ser redimensionada e reorientada".

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