São muitos, os que pensam que a imagem é tudo!

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Há muitos Alexandres e Marias. São muitos, os que pensam que a imagem é tudo!

Esta deverá ser a questão central. Não é uma "voz única".

Nos últimos dias, temos assistido a uma indignação coletiva sobre uma crónica que referiu algumas apresentadoras portuguesas, umas que seriam um modelo a seguir (não pelas suas competências profissionais) e outras mulheres que - segundo o autor - não se enquadram nos ideais de beleza seja pela roupa que vestem para apresentar programas de televisão, ou pelo aspeto do seu corpo - podemos ler "robusta, com tendência para aumentar de peso" e o conselho dado é "devia concentra-se nesse problema de resolução difícil, que exige, disciplina e capacidade de sacrifício, muito sacrifício...", ou refere outra mulher que ao usar roupa sem mangas se denota flacidez nos braços. E como resultado "disto tudo" uma das apresentadoras não está "a aproveitar a maior oportunidade profissional da sua vida para tratar da imagem" e, nesse sentido, segundo a autor pode correr o risco de ser substituída, quem sabe por uma apresentadora mais magra e que vista roupas adequadas ao seu corpo - "Acorda Maria".

Acordem todas as Marias e todos os Manuéis, são MUITOS, os que julgam os outros pela sua imagem. Quantas vezes já leram, ouviram ou comentaram o corpo de alguém? Estás mais magra? Estás mais gorda? O que projetamos, procuramos e padronizamos como um corpo/rosto perfeito e belo? Seja no mundo real ou virtual, a sociedade vai influenciando aquilo que "devemos querer e seguir". E a imagem tem grande relevo.

E se não for para muito mais, que este artigo hostil e misógino, tenha como resultado um "além da indignação social", que possamos todos em conjunto, perceber de que forma estamos "TODOS" a contribuir para este "paradigma estético" que afeta negativamente tantas mulheres e adolescentes.

A comunidade em que estamos inseridos (real ou virtual), pode julgar de forma muito cruel - impõe à partida a imagem que devemos ter, a roupa que devemos usar, o que devemos gostar - deixando tantas vezes um espaço reduzido para a autenticidade ou identidade - se for diferente da maioria.

Cada vez temos mais pessoas (e cada vez mais jovens) que não gostam da sua imagem e, quando "vamos mais a fundo", percebemos que a sua perceção de imagem ideal foi muito influenciada por padrões de beleza quase irreais - filtrados.

Que nos possamos todos questionar sobre isto que dizemos e fazemos. E o que decidimos valorizar, desvalorizar e até criticar. Uma autoimagem negativa influencia negativamente a saúde mental e o bem-estar. Podendo contribuir para uma baixa autoestima, baixos níveis de autoconfiança e autoeficácia. Uma mulher ou uma adolescente que estão desconfortáveis com o seu corpo ou com a sua imagem, podem desenvolver sofrimento psicológico - tristeza, vergonha, angústia, isolamento, comportamentos autolesivos, aumentar o risco para perturbações do comportamento alimentar, perturbações de ansiedade (...).

O filtro deve estar em nós.

Psicóloga. Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde

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