São 1643 vagas, mas haverá jovens médicos sem lugar para formação
É o maior número de vagas de sempre para formar jovens médicos em especialistas. São 1643, mas não irão chegar para todos os 2200 que estão a terminar o ano comum, o primeiro prático em hospital ou centro de saúde depois de terminada a faculdade. No ano passado 114 já não tiveram lugar, mas este ano - tendo em conta a diferença - podem ser 600. O Parlamento aprovou duas resoluções que recomendam ao governo que garanta lugar para todos os clínicos que terminam o curso. Ordem dos Médicos afirma que capacidades estão esgotadas e não é possível assegurar mais lugares.
A escolha das especialidades para os próximos seis anos de formação será feita junho, com mais 75 vagas do que no ano passado. "É o maior número de vagas de sempre. Estamos num nível nunca antes visto. Houve fusões com a criação dos centros hospitalares que levaram a encerramentos de serviços e, apesar disso, tem-se conseguido aumentar as vagas. A Ordem dos Médicos tem feito um enorme esforço para conseguir máximo. Mas não é possível vagas todos os anos. Chegámos ao limite", diz ao DN José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos.
À limitação de serviços de serviços cheios de internos e estudantes do sexto ano e dos constrangimentos provocados pela fusão de serviços, há ainda as reformas antecipadas dos médicos graduados, os mais velhos que podem dar formação. Ainda assim, foi possível fazer crescer o número de vagas. Como? "Tentámos ao máximo aproveitar todas as capacidades no seu limite. São 50 especialidades e muitas delas conseguiram aumentar mais uma vaga. Pela primeira vez temos 26 vagas de medicina intensiva, que era subespecialidade e passou a especialidade. Nos últimos anos entraram muitos internos e, como tal, também saem mais quando acabam a formação, lugares que são agora preenchidos", explica José Manuel Silva.
No ano passado 114 médicos ficaram sem acesso a uma vaga da especialidade. O Governo encontrou uma solução transitória, que permitiu que ficassem a trabalhar no Serviço Nacional de Saúde (SNS) a fazer urgências. É este o cenário que se pode repetir em maior escala. A terminar o ano comum estão 2200 jovens médicos, o que torna claro que mesmo este número máximo será insuficiente para todos: 600 estão à partida sem vaga para fazer especialidade.
No final podem não ser tantos, contando com desistências e emigração, já que há internos que escolhem fazer a especialidade fora do país. Mas em contrapartida, há também jovens que tiram o curso no estrangeiro e que depois do ano comum regressam a Portugal. "É evidente que é impossível arranjar vagas para todos. Chegou a altura de selecionarmos pela qualidade. Há muito tempo que a Ordem defende uma nota mínima de seleção. Houve um consenso de o mínimo ser 45%, mas não chegou a ser definida. Não será preciso porque naturalmente não haverá lugar para todos", acrescenta o bastonário.
Recentemente, o Parlamento aprovou duas resoluções que recomendam ao Governo que crie vagas para os 114 jovens médicos que no ano passado ficarem sem lugar para o internato da especialidade, tal como encontre uma solução para garantir vagas a todos os que terminam o ano comum.
José Manuel Silva garante que não é possível, nem faz sentido. "Nenhum país do mundo garante a quem acaba o curso no país e ainda menos para quem acaba fora. Não deve admirar a ninguém não termos vagas para todos. Em Espanha, todos os anos, existem 6 mil vagas para internato para 13 mil candidatos.
Este ano o concurso para escolha da vaga de especialidade realiza-se em junho e ao mesmo tempo vão estar a escolher os internos que terminaram o ano comum (o chamado concurso A) e aqueles que já tinham escolhido uma especialidade, mas que agora querem mudar (concurso B). As regras serão um pouco diferentes: para o concurso B vão estar disponíveis 5% das vagas totais e a escolha será feita com base no resultado do exame de seriação até que o limite de vagas seja atingido.