O Mosteiro de Seiça, na Figueira da Foz, vai finalmente ser recuperado. O monumento (agora classificado) estava há décadas ao abandono, mas já no verão passado fora adjudicada a obra de requalificação à Teixeira Duarte - uma empreitada no valor de 2,7 milhões de euros. Entretanto, Santana Lopes ganhou as eleições. E coube-lhe a ele assinar o auto de consignação da obra, no final de dezembro, sabendo que aquela vai ser uma intervenção difícil, uma vez que o estado de ruína é considerável.."É uma obra muito relevante para a Figueira, para a região e até para a Europa", disse ao DN o presidente da Câmara da Figueira da Foz. "Para mim significa muito porque comecei neste processo em 1991, quando fiz o despacho para entrar em vias de classificação. E quando o comprei em 2000 [já estava aqui na Figueira] aos privados. Este caso, por si, demonstra o modo como às vezes se trata do património em Portugal", sublinha, recordando todo o processo que envolveu essa aquisição. Nessa altura, o mosteiro "estava nas mãos de privados que debulhavam lá arroz", conta Pedro Santana Lopes. Desse período difícil de negociações, o autarca guarda um rol de memórias, convicto de que valeu a pena. Porque no início de janeiro "finalmente começou a obra"..Quando regressou à autarquia figueirense, já o despacho para classificação de monumento nacional estava feito e a obra adjudicada. Antes do natal, coube-lhe fazer o auto de consignação da obra.."Pelo seu significado, é talvez a obra mais importante. Mesmo que eu faça três mandatos aqui na Figueira, porque é o património mais relevante que o concelho tem"..A reabilitação do Mosteiro de Seiça, na Figueira da Foz, implica uma intervenção cuidada, que inclui a remoção das árvores no topo da igreja em ruínas, cujas raízes ameaçam a fachada do século XVI..O mosteiro, localizado num vale da freguesia de Paião, no sul do concelho litoral do distrito de Coimbra, junto à linha ferroviária do Oeste e ribeira de Seiça, teve origem na fundação da nacionalidade, embora o conjunto edificado atual seja dos séculos XVI e XVIII.. Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 2002, o Mosteiro de Santa Maria de Seiça só viria a ser classificado como Monumento Nacional em abril do ano passado. "De fundação lendária, deste edifício monástico, doado no século XII por D. Sancho I à Ordem de Cister, sob patrocínio do Mosteiro de Alcobaça e sob invocação de Santa Maria, conforme uso em todos os mosteiros da Ordem, não resta mais do que uma imponente e impressionante ruína", descreve a Câmara no seu portal, acrescentando que o "complexo monástico cisterciense, localizado junto à ribeira de Seiça, foi fundamental na reorganização territorial e social das povoações do estuário do Mondego, pela introdução dos seus avançados conhecimentos de técnicas agrícolas (desbravamento de terras, drenagem de solos, etc. ...)"..Mas com a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, o conjunto arquitetónico foi apropriado pelo Estado, tendo posteriormente sido entregue à Junta de Paróquia de Nossa Senhora do Ó do Paião a Igreja e a Sacristia do Mosteiro de Santa Maria de Seiça, através de Carta de Lei de 22 de fevereiro de 1861, emitida por D. Pedro V. Em 1895 a Junta de Paróquia vendeu o Mosteiro de Seiça a particulares e em 1911 o Mosteiro foi vendido novamente. Assim se manteve até aos 1990, quando a Câmara da Figueira o adquiriu.."O seu riquíssimo recheio há muito que foi reaproveitado por outras igrejas e capelas do concelho. A grande chaminé que o ladeia, testemunha também o seu reaproveitamento enquanto unidade fabril de descasque de arroz, durante o século XIX, e serve hoje como local de vigia das cegonhas que guardam o silêncio e a quietude deste local", descreve a autarquia..Foi classificado como imóvel de Interesse Público desde 2002. Em 2004 foi adquirido pelo Município da Figueira da Foz. Dos 2, 7 milhões de euros estimados para a obra, 85% serão financiados através de fundos comunitários, no âmbito do programa Portugal 2020. Os trabalhos de recuperação devem estar concluídos dentro de dois anos..O único vestígio que ficará da fábrica de descasque de arroz é a chaminé, com dezenas de metros de altura e onde habitualmente nidificam cegonhas, localizada na lateral do Mosteiro, entre o edifício e a linha do Oeste..dnot@dn.pt