A crise instalou-se na coligação. O CDS/PP não gostou do que viu e ouviu dos lados de Barcelos, onde este fim-de-semana decorreu o congresso do PSD. E considerou mesmo que foi tratado pelos sociais-democratas como se fosse «o inimigo». A defesa das hostes laranja de que o PSD deve concorrer sozinho nas legislativas de 2006 deixou os democratas-cristãos profundamente crispados, de tal forma que há já quem antecipe «pontes» com o PS. .Um tratamento de parceiro «mal-amado» que terá sido referido pelo líder do partido, Paulo Portas, no almoço que ontem teve com o primeiro-ministro, Santana Lopes. Ao que o DN apurou, Portas ficou bastante irritado com o «divórcio» que os sociais-democratas querem antecipar - o primeiro sinal foi a sua ausência em Barcelos. Ontem, de parte a parte, tentou-se um controlo de danos. Já no sábado, Portas tinha jantado com o ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, em casa do democrata-cristão Abel Pinheiro. Ementa: os ataques que o CDS sofreu nesse dia no conclave, da parte de Marques Mendes e também de inúmeros militantes anónimos..No CDS/PP a irritação chega a tal ponto que os centristas deixam desde já um aviso: em caso de coligação pós-eleitoral, o PSD não é a única hipótese admitida pelo CDS. «Se continuar este clima crispado será muito difícil repetir uma coligação nos termos em que a última foi feita», afirmou ontem ao DN o deputado centrista Narana Coissoró. O vice-presidente do Parlamento foi mais longe: «O CDS não está refém do PSD para o exercício do poder. A História diz que já encontrámos outra solução [coligação com o PS] uma vez . E já aprovámos dois orçamentos de Guterres.».Uma opinião que está longe de ser única. Segundo um dirigente democrata-cristão, «há uma corrente no partido que, não sendo maioritária, acha que se devem restabelecer pontes que foram cortadas com o PS». Uma aproximação que, considera, é facilitada pela nova liderança dos socialistas, agora afastada do «radicalismo de esquerda» de Ferro Rodrigues..Para Narana Coissoró, no congresso social-democrata «foi mais que evidente que o CDS é um parceiro mal-amado»: «Desde a JSD ao delegado mais anónimo e aos ex- -ministros, todos correram para os microfones para dizer que não gostam do CDS, que não querem o CDS.» O deputado conclui, por isso, «que a única coisa que mantém a coligação é o actual Governo». .José Manuel Rodrigues, líder do CDS Madeira e presidente do Conselho Nacional do partido, adverte que os centristas chegaram ao Governo «pelo seu próprio pé» pelo que não estão dispostos «a ser a mulher a dias do PSD». .Outro dirigente também não esconde o desagrado pela forma como o CDS foi tratado. «O que é normal é os dois partidos concorrerem juntos em 2006, se forem separados estão a assumir que algo correu mal.» E deixa o aviso: «O CDS não tem medo de ir sozinho a votos.».Um membro da comissão executiva afirma, por seu turno, que as palavras de Morais Sarmento - o ministro considerou que antecipar a morte da aliança não é defender a estabilidade - foram «muito avisadas e oportunas». Uma ideia subscrita pelo CDS, que faz também questão de sublinhar o tom de empenho de Santana que, nos seus discursos, optou por um registo de viabilização da coligação. Outra ideia consensual é a de que o partido de Portas tem sido o esteio e o garante da estabilidade da aliança. .Entre os populares já se pede a realização de um congresso extraordinário, uma hipótese já admitida pelo vice-presidente do CDS, António Pires de Lima, que apontou para o primeiro semestre do próximo ano. Da parte da PSD, não há qualquer intenção de antecipar um congresso para ratificar listas conjuntas . . * Com Nuno Simas