Santa Grace de Mónaco, 'ora pro nobis'

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Olivier Dahan, realizador de Grace de Mónaco, respondeu assim aos que, como os filhos da princesa Grace e do príncipe Rainier, o acusam de deturpar os factos, abusar da verdade histórica e especular descaradamente sobre as vidas destes: "O meu filme é uma ficção inspirada em factos reais." A julgar pelo escancarado, desmesurado e hilariante disparate que é Grace de Mónaco, a proporção entre as doses de realidade e de ficção é de um para 99%. A fita, cujo título alternativo poderia ser Grace de Mónaco: Princesa-Modelo, Mulher de Estado, Detetive Real e Santa do Jet Set, poderia também virar franchise. Na parte II, Grace torna-se secretária-geral da ONU e acaba com a fome no mundo; e na III, provoca o fim do comunismo. Se a Hola! ou a Point de Vue publicassem ficção, o argumento do filme estaria lá como ervilha em vagem. Início dos anos 60. Grace de Mónaco (Nicole Kidman) apercebe-se, pobrezinha, que vive numa gaiola dourada e que Rainier anda totalmente absorvido pela grave crise financeira e fiscal que opõe o minúsculo Mónaco à poderosa França de De Gaulle, e por isso aceita o convite de Hitchcock para fazer Marnie. Mas percebe então que as suas obrigações para com o marido, o principado e os súbditos são mais importantes do que a realização pessoal. Volta as costas a Hollywood, aprende a ser princesa, a falar francês e a entender o protocolo, vira mulher de Estado, conquista os monegascos, expõe um putsch dentro da família real, amacia De Gaulle, resolve a crise com montes de glamour e reconquista Rainier. Só lhe falta, no final, levitar. Dahan realiza em estilo camp-kitsch até que os olhos nos doam, os diálogos são de rir até à dor de barriga, as interpretações homogeneamente pavorosas e a Grace de Nicole Kidman parece o cruzamento de uma tia zombie com um manequim de alta costura. E agora, todos juntos: Santa Grace, ora pro nobis...

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