Ao fim de meses de incerteza e salários em atraso surge a primeira luz ao fundo do túnel. A administração da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS) está a trabalhar num plano de ação que "deverá estar concluído e será devidamente explicado" em breve. A garantia é dada ao DN/Dinheiro Vivo pela Santa Casa da Misericórdia..O objetivo, afirma a Santa Casa, é "garantir a sustentabilidade da instituição a médio e longo prazo". A intervenção ganha contornos de urgência numa altura em que voltam a chegar denúncias por parte de trabalhadores da FRESS, que não recebem salários desde julho. Ao DN/Dinheiro Vivo, dois funcionários da instituição, que querem manter o anonimato, falam em casos de "desespero absoluto" e apelam à atuação rápida da administração.."Há situações de fome aqui dentro e de pessoas que têm duas ou três rendas em atraso", explica um dos trabalhadores. O salário de julho foi pago às prestações. A meio desse mês entraram 250 euros e em agosto mais 250. O restante, para quem ganha mais do que 500 euros, só foi pago na segunda semana de setembro. O subsídio de férias também ficou por pagar..Segundo os mesmos testemunhos, a situação agrava-se no caso dos professores da Fundação, que ainda não receberam a totalidade dos vencimentos relativos ao último ano letivo, e a quem o ordenado de junho chegou apenas na semana passada. "A Fundação está a trabalhar à custa das dívidas que tem para com os funcionários e fornecedores. Estamos a financiar o funcionamento da casa e isso é insustentável." Só na última semana, pelo menos três trabalhadores pediram a suspensão do contrato, um regime que permite receber o subsídio de desemprego, e "muitos mais" admitem fazê-lo..A saída de quadros, diz um dos trabalhadores ao DN, pode comprometer o futuro da FRESS. "A Fundação está a ser sangrada e não é autorregenerativa. Há funções muito específicas, nomeadamente nas oficinas, e aí os técnicos desapareceram todos. O encarregado geral das oficinas foi-se embora e era uma pessoa com um enorme conhecimento que dificilmente é substituível.".O medo de represálias afasta, para já, o cenário de greve. O DN tentou contactar a administradora executiva da Fundação, Conceição Amaral, mas não obteve resposta. No entanto, no mesmo dia em que o contacto foi feito, a administração fez chegar por e-mail um comunicado aos trabalhadores. Agradecendo a "colaboração e dedicação" dos funcionários, os responsáveis afirmam que "estão a ser ultimadas decisões para ultrapassar o momento difícil fruto da fraca receção de receitas próprias e do não recebimento de trabalhos em curso". A administração da FRESS destaca ainda que conta "num curto espaço de tempo dar informações sobre os pagamentos" em falta..Contactada pelo DN em julho, já a propósito de vencimentos em atraso, Conceição Amaral tinha sublinhado que "a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem sido o parceiro essencial para a negociação da dívida existente ao Novo Banco", afirmando que a situação "jamais conseguiria ser resolvida pela FRESS sem que um grande apoio financeiro mecenático ocorresse"..A crise na FRESS teve início em 2014, após o colapso do BES, que era o seu principal mecenas. Em maio do ano passado, foi assinado um acordo com a Santa Casa da Misericórdia, e a Fundação passou a ser presidida por Edmundo Martinho, vice-provedor da SCML. No conselho de administração constam ainda dois vogais em representação da Câmara Municipal de Lisboa, que juntamente com o Ministério da Cultura "assumiram a responsabilidade de envidar todos os esforços necessários para estabilizar financeiramente a instituição", explica a SCML ao DN.