Sanna Marin: "A Rússia está mais isolada do que nunca"
Sanna Marin foi direta ao assunto. A sua visita ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, acontece num "momento sombrio", com a Europa em guerra, o mercado energético a viver em "incerteza", ao que se soma um ano de seca e calor extremo, a comprovar o fardo das alterações climáticas, e a inflação e ameaça de recessão.
"O inverno vai ser duro. Mas não temos outra escolha que não mantermo-nos unidos", diria mais na tarde, na conferência de imprensa.
Sobre as questões prementes relacionadas com a energia, Marin advogou medidas para baixar os preços da eletricidade e estabilizar os mercados, a curto prazo. A médio e longo prazo disse que a única forma de sair da crise energética é "investir fortemente na produção de energia renovável e sem emissões", mas também em redes de distribuição comuns e em tecnologias de armazenamento. Em paralelo, há que "eliminar gradualmente os combustíveis fósseis russos o mais rapidamente possível".
A chefe do governo finlandês não teve palavras brandas para com Moscovo. "A Rússia quer um mundo de esferas de interesse que não podemos aceitar. A Rússia pode desafiar-nos, chantagear-nos e ameaçar-nos, mas nós não cederemos. A guerra de agressão russa desencadeou as candidaturas da Finlândia e da Suécia à adesão à NATO", o que, na sua perspetiva, não só vai "reforçar a segurança de toda a Europa do Norte" e a Aliança Atlântica, como teve o condão de juntar os povos europeus. "As ações da Rússia unificaram o Ocidente como nunca antes, enquanto a Rússia está mais isolada do que nunca."
Sobre a guerra, Marin diz que é dever dos europeus continuar a apoiar a Ucrânia de todas as formas, o que inclui impor mais sanções, "ainda mais rigorosas", de forma a que se torne "mais caro para a Rússia continuar a guerra". Para a finlandesa não é aceitável que "turistas russos passeiem livremente pela Europa" enquanto os seus militares matam civis ucranianos.
Mostrou-se favorável ao ingresso da Ucrânia na UE, bem como de outros países, desde que tenham cumprido os critérios exigidos por Bruxelas.
Já na conferência de imprensa, Marin disse aguardar por propostas concretas da Comissão Europeia, embora reconheça que tem de haver um equilíbrio devido à questão energética. "A questão da energia não se vai resolver em curto prazo. Estivemos errados, cometemos um erro com a Rússia. Já devíamos ter tratado destes temas antes para não estarmos a ser chantageados por Putin", concluiu.
Minutos antes, ao dirigir-se aos deputados europeus na sexta sessão de debate de líderes europeus com eurodeputados, Marin destacou a importância da autonomia europeia, que considerou ser uma das discussões mais importantes da atualidade. "A guerra mostrou como é importante para a Europa ter a sua própria produção de material de defesa e como somos vulneráveis quando se trata de energia. Temos de reconhecer quão ingénuos temos sido em relação à Rússia e quão equivocados temos estado nas nossas ideias sobre as ações da Rússia. Deveríamos ter ouvido mais de perto os nossos amigos dos estados Bálticos e da Polónia, que viveram sob o domínio soviético."
Em relação à União Europeia, Sanna Marin crê que este não é o momento para mudanças nos tratados, mas sim de trabalhar com os atuais, ainda que executando mudanças, tendo dado como exemplo o aumento das decisões por maioria qualificada no domínio da política externa e de segurança comum.
Das intervenções dos eurodeputados, ficou a crítica do belga Philippe Lamberts (Verdes) às sucessivas rejeições do governo finlandês na defesa da biodiversidade, quando antes Marin tinha mostrado a favor de investimentos na "transição ambiental", ou o emotivo elogio da também belga Assita Kanko a Marin, criticada na Finlândia depois de terem sido publicadas fotos e vídeos em que estava numa festa a dançar. "Somos pessoas normais, não somos robôs", afirmou, lamentando que as mulheres em particular são "excessivamente escrutinizadas", e lamentando que a igualdade entre géneros não é um dado adquirido. "Gosto de roupa e de sapatos. Isso faz de mim uma má política?", perguntava Kanko, que terminou a sua alocução dirigindo-se a Marin: "Uma mulher pode dançar e liderar um país a caminho da NATO. Ao tentarem desestabilizá-la, fizeram de si um ícone."
Questionada pelos jornalistas que mensagem deixaria a uma jovem que pense em entrar para a política, Sanna Marin não foi robótica, mas arrumou o tema em segundos: "Se fores capaz e forte, podes mudar o mundo. Simplesmente, fá-lo."
cesar.avo@dn.pt