Sangue 'viking' no berço do IKEA

Herdeiros dos piratas e mercenários que noutros séculos percorriam mares e rios do Leste, os suecos são inventores e inovadores, apesar de viverem num país frio e quase sem sol.<br />
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Ao longo das últimas gerações, os suecos foram ficando conhecidos pelas mais diversas coisas: a instituição dos prémios Nobel, os filmes realizados por Ingmar Bergman e os protagonizados pelas actrizes Ingrid Bergman e Greta Garbo, as canções dos ABBA ou dos The Hives, um hotel todo feito de gelo, o mobiliário barato e moderno do IKEA, a hipnotizante trilogia de livros Millennium de Stieg Larsson ou as peripécias da princesa Vitória, herdeira do trono sueco.

Tudo invenções e personalidades vindas de um país frio e quase sem sol, mas muito fértil em inovação. Não fossem os suecos os herdeiros dos vikings. Este era pelo menos o nome atribuído aos varegues, ou seja, os po-vos escandinavos que nos séculos IX e X viajaram para leste e sul, vindos nomeadamente da Suécia. Viviam do comércio, da pirataria, das actividades mercenárias, percorriam rios e portos daquilo que mais tarde viria a ser a Rússia. A cristianização sueca deu-se um século depois, por via de missionários alemães e ingleses que ali chegaram.

A Suécia esteve envolvida em várias guerras no decorrer dos séculos XVII, XVIII e XIX, a última delas foi contra a Noruega - com a qual manteve uma união que acabaria pacificamente dissolvida em 1905. O reino sueco acabou por tornar- -se neutro nas duas grandes guerras mundiais e na Guerra Fria, não fazendo hoje parte de nenhuma aliança militar - embora tenha participado nalguns treinos da Orga-nização do Tratado do Atlântico Norte, ou seja, NATO.

Monarquia constitucional e democracia parlamentar, a Suécia foi durante muitos anos liderada pelos sociais-democratas. Quando entrou para a União Europeia, no dia 1 de Janeiro de 1995, era esse o partido que estava no poder. Olof Palme, que governou duas vezes, até ser assassinado à saída de um cinema em Estocolmo, em 1986, levou mais longe do que ninguém a conciliação entre a economia de mercado e o Estado social. Era crítico do apartheid, de Salazar, mesmo da Guerra do Vietname - o que causou problemas com os EUA. A identidade do seu assassino nunca chegou a ser conhecida, tendo o tema inspirado as várias teorias da conspiração.

E os suecos gos-tam bem de uma boa conspiração. Isso po-de ajudar a explicar o sucesso obtido por Larsson, jornalista falecido em 2004, na sua trilogia de livros sobre uma pirata informática, Lisbeth Salander, que decide vingar-se do sistema que a abandonou e aliar-se a um jornalista, Michael Blomkvist, na investigação de redes de prostituição e de uma trama que chega até aos mais altos chefes da secreta sueca. Até que descobrem que o maior inimigo é o pai de Lisbeth.

Apesar de falarem svenska, língua sueca em língua sueca, há muito que os suecos descobriram que o passaporte para a fama é o inglês e a internacionalização. E mesmo com grande parte dos filmes realizados por Bergman em sueco, foi em Hollywood que se consagraram Greta Garbo e Ingrid Bergman. Isto já para não dizer que grande parte dos europeus tem hoje em sua casa móveis desenhados e produzidos pela empresa sueca IKEA.

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