Sandra Tavares da Silva - Uma das melhores enólogas do mundo segundo o Financial Times
O amor que Sandra Tavares sente pela terra e pelas suas tradições nasceu quando era ainda criança e começou a pisar uva nos lagares do avô em Alcochete, onde passava grande parte do tempo.
Para além do campo, outra paixão era o voleibol. De tal forma, que aos catorze anos já fazia parte da Seleção Nacional de Voleibol, mantendo-se na modalidade até aos dezoito, quando entrou para a faculdade e compreendeu que não era compatível a vida académica com a prática desportiva, pelo menos ao nível em que já se encontrava. Teve de arrumar as sapatilhas.
Aos dezassete anos, graças à sua beleza, teve oportunidade de desfilar nas principais cidades da moda, depois de tirar um curso de modelo. Desta vez a conciliação foi mais fácil e, ainda hoje, guarda deste período memórias e experiências muito boas, de uma grande aprendizagem, que a ensinaram a superar desafios e frustrações.
O curso superior em Engenharia Agronómica, no Instituto Superior de Agronomia, foi uma sequência natural da sua infância e do seu amor pelo campo, que se intensificou a partir do momento em que o pai comprou a Quinta de Chocapalha, em 1987, na Aldeia Galega da Merceana, perto de Alenquer.
Em 1999, após terminar a licenciatura, com especialização em Viticultura, decidiu estudar Enologia em Itália, tendo ingressado no Mestrado em Enologia da Universidade Católica de Piacenza. Uma experiência que considera extraordinária, não só pelo conhecimento que adquiriu com alguns dos professores mais reconhecidos daquele país, como também pela vivência que lhe permitiu abrir horizontes e ser mais criativa.
A Quinta Vale D. Maria foi onde teve a sua primeira experiência profissional e o lugar onde encontrou o amor da sua vida - Jorge Serôdio Borges, um jovem de uma família ligada ao vinho há várias gerações.
Depois de casados, embarcaram juntos na sua própria aventura vínica, criando a Wine&Soul, em 2001, com o sonho de produzirem um vinho diferenciador do Douro capaz de mostrar bem a identidade de uma vinha velha excecional, a vinha do Pintas.
Mas a aceitação de uma mulher alfacinha, e com um passado na moda, na produção de vinho não foi fácil. Sobretudo, no início. Mas graças à sua resiliência, sempre que lhe diziam que não iria conseguir, redobrava forças para demonstrar que era capaz - "sempre segui os meus sonhos e quando se fechava uma porta arranjei forma de entrar pela janela".
Sandra Tavares faz questão de destacar o apoio recebido de Cristiano Van Zeller, umas das personalidades incontornáveis do Douro, que não se intimidou com os estigmas dela "ser mulher, modelo e de Lisboa" e acreditou sempre nas suas capacidades.
DestaquedestaqueO curso superior em Engenharia Agronómica foi uma sequência natural da sua infância e do seu amor pelo campo, que se intensificou a partir do momento em que o pai comprou a Quinta de Chocapalha, em 1987, na Aldeia Galega da Merceana, perto de Alenquer.
Ao longo dos anos, juntamente com o marido, ultrapassou muitos desafios, muitas horas de trabalho e noites sem dormir, mas o esforço acabou por compensar. Atualmente, depois de mais de vinte anos de atividade, a Wine&Soul produz mais de uma dezena de vinhos de excelente qualidade, com os quais têm ganho vários prémios e distinções.
Entre as condecorações recebidas, destacam-se: 98 pontos Wine Spectator Pintas 2011; 99 Pontos Wine Advocate Pintas Vintage Port 2018; Jorge Serôdio Borges Enólogo do Ano (2008); Wine&Soul Produtor do Ano (2011), Wine&Soul Produtor do Ano Vinhos Licorosos (2021) e Sandra Tavares Enóloga do Ano 2021.
Esta última distinção foi feita pela revista Grandes Escolhas, que considerou Sandra Tavares uma referência no sector vínico em Portugal. A publicação recorreu a adjetivos como "versátil e trabalhadora, decidida e perseverante, metódica e criativa" para justificar esta eleição e realçou ainda "o seu reconhecimento internacional pela arte e sabedoria com que produz alguns dos mais aclamados vinhos do Douro (Wine&Soul) e de Lisboa (Quinta da Chocapalha)".
Mas Sandra Tavares já tinha sido reconhecida como uma das melhores do mundo, pela jornalista e crítica de vinhos do Financial Times, Jancis Robinson, em 2020, altura em que o seu nome passou a constar entre as mulheres enólogas que têm deixado a sua marca distintiva no mundo dos vinhos. Uma marca, que segundo nos explica, tem a ver com a elevada sensibilidade que as mulheres têm na degustação de vinho e que afeta as suas decisões no processo de vinificação - "como somos estimuladas desde muito novas para os aromas e sabores, acho que temos qualidades incríveis e trazemos uma perspetiva diferente e enriquecedora. Características complementares que nos permitem oferecer maior complexidade e atenção ao detalhe".
Outra relíquia da vida de Sandra Tavares e Jorge Borges são os três filhos. Quando os questionamos acerca de conciliação entre vida profissional e familiar, lamentam não disporem de muito tempo para os acompanharem em todas as tarefas escolares e atividades extracurriculares. No entanto, consideram fundamental transmitirem-lhes um bom exemplo de trabalho, empenho, esforço e dedicação, esperando que eles compreendam e admirem o trabalho que desenvolvem em conjunto e que se sintam inspirados na sua vida.
*Autoras do livro Mulheres do meu país - século XXI inspirado na obra homónima de Maria Lamas. O livro, que tem design gráfico de Andrea Pahim, está à venda nas livrarias online e no FB. O DN publica nesta segunda quinzena de agosto uma seleção de 15 perfis de portuguesas notáveis.