Sánchez tenta acordo de última hora para formar governo
A decisão do rei Felipe VI deveria ser tomada dentro de poucas horas: recomendar ao secretário-geral do PSOE e primeiro-ministro em funções Pedro Sánchez para se apresentar no Congresso dos Deputados para a investidura do governo ou convocar novas eleições.
O monarca espanhol começou ontem a receber os partidos com assento parlamentar, iniciativa que conclui hoje. À tarde recebe Sánchez no Palácio de Moncloa. No final do dia deveria dirigir-se aos espanhóis e comunicar a decisão. No entanto, avançou a agência EFE, Felipe VI considera adiar por alguns dias sua decisão sobre a investidura devido à situação de incerteza política, às conversas de última hora entre os diferentes partidos e à possibilidade de se chegar a um acordo nos próximos dias que evite a repetição do sufrágio.
O prazo final para a investidura do governo é dia 23.
O líder socialista, por sua vez, fez uma ronda telefónica aos dirigentes dos três maiores partidos com o objetivo de chegar a um acordo que viabilize a formação do governo.
A porta-voz do PSOE, Adriana Lastra, pediu uma abstenção generalizada aos maiores partidos para que "não bloqueiem Espanha".
Nas eleições de 28 de abril, o PSOE elegeu 123 deputados. Sem maioria parlamentar, Sánchez tentou recolher apoios, mas foi recusando as propostas de um governo de coligação com a Unidas Podemos de Pablo Iglesias (que ainda assim precisaria do apoio parlamentar da Esquerda Republicana da Catalunha).
No dia 23 de julho, na primeira tentativa de investidura, Sánchez não obteve maioria, cenário que se repetiu em 25 de julho, quando a Unidas Podemos voltou a abster-se, depois de o PSOE ter recusado as condições do partido de Iglesias para uma coligação.
Os socialistas queriam uma solução semelhante à de Portugal, de apoio parlamentar, baseada num acordo programático. Por fim, na semana passada, Iglesias terá proposto uma coligação à experiência, pelo período de um ano, algo que foi de novo rejeitado.
Perante as recusas de Sánchez, a Unidas Podemos anunciou a abstenção. No entanto, a coligação de esquerda advertiu que, em caso de acordo entre PSOE e Ciudadanos, o conteúdo do mesmo seria objeto de análise "para se decidir o voto final".
À saída da audiência com Felipe VI, Pablo Iglesias, Iglesias afirmou: "Pedro [Sánchez] tem duas propostas. O razoável é que opte por uma delas. Querer ser primeiro-ministro a troco de nada não sei se é o mais razoável." Ainda assim, voltou a mostrar disponibilidade para um governo de coligação.
Na segunda-feira, o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, propôs uma abstenção do seu partido bem como do Partido Popular caso o PSOE se comprometesse a não aumentar os impostos, a romper com o governo da região de Navarra (no qual os socialistas governam com os separatistas bascos) e a não indultar os políticos catalães que aguardam as sentenças no processo do referendo sobre a independência da Catalunha.
O principal negociador da Unidos Podemos com o PSOE, Pablo Echenique, criticou a tentativa de aproximação entre socialistas e C's: "Vamos ver se descobrimos hoje que o verdadeiro 'sócio preferido' de Pedro Sánchez é o mesmo de 2016 e o mesmo que aparece na foto de Colón, ao lado da extrema-direita."
Echenique refere-se a uma manifestação que juntou em fevereiro, na plaza de Colón, os líderes do Ciudadanos, do Partido Popular (PP), Pablo Casado, e do Vox, Santiago Abascal.
Pedro Sánchez respondeu ao apelo de Rivera por carta, tendo declarado que "não há impedimento algum para facilitar a investidura", e a reafirmar que um governo socialista "não irá vacilar em fazer uso das suas competências para garantir a soberania nacional, a integridade territorial do país e a coexistência", o que inclui "a aplicação do artigo 155.º da Constituição".
No entanto, em comunicado, a formação de centro-direita considera o teor da mesma "um insulto" a todos os espanhóis. "É mentira que o PSOE esteja a cumprir com as três condições propostas e, além disso, rejeita uma reunião com a oposição para abordar esta solução de Estado."