Sánchez tem até quinta-feira para chegar a acordo com Iglesias

Líder socialista precisava de maioria absoluta na primeira votação, mas além dos 123 deputados do seu partido só conseguiu o "sim" do líder do Partido Regionalista da Cantábria. Na segunda votação, esta quinta-feira, só precisa de maioria simples e, se conseguir convencer a Unidas Podemos, tem prometidas abstenções suficientes para ter sucesso.
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Pedro Sánchez tem até à hora de almoço desta quinta-feira para chegar a um acordo com Pablo Iglesias se quiser ser investido primeiro-ministro espanhol. Na primeira votação, esta terça-feira, o líder socialista ficou muito aquém do número de votos de que necessitava, mas depois de ameaçar votar "não" a Unidas Podemos acabou por optar pela abstenção. Um gesto, disseram, para manter as negociações abertas para um governo de coligação de esquerda.

"Está a acabar o tempo, todo a gente sabe. Esse tempo que está a acabar obriga o PSOE a move-se, espero que seja rápido, porque nós demos todos os passos necessários para um governo de coligação e eles não deram nenhum. O último movimento foi a abstenção, como gesto para continuar a facilitar as negociações", avisou a deputada da aliança Unidas Podemos, Ione Belarra, em declarações aos jornalistas à saída do hemiciclo, após serem conhecidos os resultados da votação.

Sánchez conseguiu os votos favoráveis dos 123 deputados do PSOE e do único deputado do Partido Regionalista da Cantábria, o líder Miguel Ángel Revilla, num total de 124 votos. Para vencer precisava de maioria absoluta, isto é, de 176 votos.

A aliança Unidas Podemos (junta Podemos e Esquerda Unida), que tinha ameaçado votar "não", acabou por recuar à última hora e abster-se. O que explica o facto de a sua líder parlamentar, Irene Montero, ter na realidade votado "não" -- em avançado estado de gravidez, a companheira de Pablo Iglesias está em casa e pediu para votar antecipadamente, não indo a tempo de alterar o voto.

No total, Sánchez conseguiu 52 abstenções. Além da Unidas Podemos, do Partido Nacionalista Basco (apesar das queixas do seu líder de que não tinha sido suficientemente tido em conta nas negociações),do Compromís e dos bascos do Bildu.

Finalmente, Sánchez teve o voto negativo de Partido Popular, Ciudadanos, Vox, Coligação Canárias e Navarra Suma, assim como dos independentistas catalães do Junts per Catalunya e da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). Foram 170 votos "não", incluindo o de Montero.

Mas a ERC avisou que está disposta a mudar o seu voto para "abstenção" na segunda votação, onde Sánchez só precisa de maioria simples, estando dependente de os socialistas chegarem a acordo com a Unidas Podemos.

A votação decorreu em voz alta, no plenário, por ordem alfabética a partir do nome do deputado que foi sorteado para ser o primeiro, tendo os últimos a votar sido os membros do governo e da Mesa do Parlamento. Os 346 deputados presentes (há quatro deputados independentistas catalães detidos que estão ausentes) votaram um a um. A maioria absoluta é de 176 deputados.

A segunda votação decorre precisamente 48 horas depois da primeira, ou seja, será a partir das 14.25 de quinta-feira (13.25 em Lisboa), depois de um debate que começará às 13.30 (12.30 em Lisboa).

Negociação

No debate na segunda-feira, no frente a frente entre Iglesias e Sánchez, ficaram claros os problemas que enfrentam socialistas e Unidas Podemos para chegar a acordo de coligação.

"Não nos proponham ser um elemento de mera decoração no vosso governo, porque isso não podemos aceitar. Senhor Sánchez apenas lhe pedimos respeito e reciprocidade", disse o líder da Unidas Podemos.

Segundo a aliança, os socialistas só estão dispostos a oferecer ao partido de Iglesias uma vice-presidência com a área da infância, sem orçamento e poder poder real, além de ministérios menores. Nomeadamente um que incluía as áreas de Turismo, Habitação e Desportos, mas, por exemplo, não teriam liberdade para limitar o preço dos alugueres de casas, uma das propostas principais do partido.

Esta terça-feira, antes do retomar do debate no Congresso, a vice-presidente espanhola, Carmen Calvo, alegava que a oferta que foi feita à Unidas Podemos é "razoável e respeitosa", com os jornalistas espanhóis a concluir das suas palavras que o PSOE tinha aceitado que Irene Montero, líder parlamentar, assumisse uma vice-presidência social. Isto depois de o próprio Iglesias, na sexta-feira, ter dado um passo ao lado e renunciado a fazer parte do Executivo, alegando que não queria ser o obstáculo ao governo progressista de esquerda.

O problema, para a Unidas Podemos, é que consideram que o cargo estaria completamente esvaziado de sentido, já que temas como Trabalho, Igualdade ou Transição Ecológica continuariam nas mãos dos socialistas.

Além da desistência de Iglesias, a Unidas Podemos considera que já cedeu o suficiente ao renunciar aos grandes ministérios como Justiça, Defesa ou Fazenda.

A meio da tarde de terça-feira, depois de três horas de reunião de Sánchez com a sua equipa mais próxima, os negociadores do PSOE terão ligado aos da Unidas Podemos com uma nova proposta, que será discutida esta quarta-feira.

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