Sánchez garante apoio de Rivera e a esquerda bate com a porta

Líder do Ciudadanos fez apelo de união ao PP e admitiu pela primeira vez participar num governo socialista.
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"Para mim é uma honra partilhar o acordo com Albert Rivera e o Ciudadanos e espero ter a honra de partilhá-lo também com outras forças políticas", declarou Pedro Sánchez na assinatura do entendimento com o Ciudadanos, com o qual garantiu o sim dos 40 deputados do partido de Rivera à sua investidura. Quanto ao desejo manifestado pelo líder do PSOE, esse deverá ser mais difícil de concretizar, tendo em conta a reação dos partidos de esquerda, Podemos à cabeça.

Resultado de quase um mês de negociações, as 66 páginas do Acordo para um Governo Reformador e de Progresso são, na opinião de Sánchez, "um caminho de reformas progressistas necessárias a Espanha", "não excluem nenhum espanhol" e "olha à esquerda e à direita". No sábado, o PSOE irá perguntar aos seus 195 mil militantes, através de uma consulta interna não vinculativa, se concordam ou não com este acordo. A aprovação final será dada pelo Comité Federal do partido, na segunda-feira, um dia antes de Sánchez se submeter ao debate de investidura.

Sabendo que os 130 deputados de PSOE e Ciudadanos são insuficientes, Albert Rivera, na assinatura do acordo, pediu "vontade política" ao PP para que torne possível um governo liderado por Sánchez. "Não podemos fazer isto sozinhos. Precisamos de mais partidos", declarou o líder do Ciudadanos. "O problema não é aritmético, é de generosidade e capacidade de diálogo. Não há vontade política. Convido-os a juntarem-se a esta nova transição", prosseguiu.

Num sinal de comprometimento com o PSOE, Rivera disse ainda não descartar a sua participação no governo socialista, algo que sempre tinha recusado. "O acordo engloba 80% do nosso programa", justificou.

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A resposta do PP não tardou em chegar, com Mariano Rajoy a dizer que o acordo "não serve para nada". "Não é um acordo de investidura, nem de governo, porque não tem votos suficientes", declarou o primeiro-ministro em funções.

Sem vontade de mudar

Como já se tinha adivinhado pelas palavras de Pablo Iglesias proferidas na terça-feira à tarde, o Podemos não aceitou bem o acordo entre PSOE e Ciudadanos, mas disse que iria continuar a negociar com os socialistas. Ontem esse incómodo traduziu-se numa posição mais radical: "A escolha do PSOE é incompatível connosco", declarou Íñigo Errejón, o número dois do partido, anunciando que não iriam abandonar as negociações com os socialistas, incluindo a reunião de esquerdas - PSOE, Podemos, Esquerda Unida e Compromís - que estava marcada para ontem à tarde.

"Não vamos ser figurantes de um acordo cosmético", prosseguiu o também líder da equipa de negociações do Podemos, considerando que "o que foi hoje [ontem] apresentado é um acordo redigido a pensar no PP", atribuindo ao PSOE a responsabilidade desta rutura.

Errejón afirmou ainda que, se os socialistas continuarem a defender o acordo agora assinado com o Ciudadanos, a investidura de Sánchez será uma "investidura falhada". "Na verdade, o Podemos não tinha uma verdadeira vontade de mudança", acusou, por seu turno, o líder dos negociadores socialistas, Antonio Hernando, que acusou o Podemos de "mentir".

A Esquerda Unida também mostrou o seu descontentamento em relação ao acordo, com o seu líder a classificá-lo de "muito regressivo e contrário aos interesses das classes populares". "Não apoiaremos algo assim", afirmou Alberto Garzón.

Impulsionador das negociações entre as quatro forças políticas de esquerda, Garzón adiantou que iria comparecer "por cortesia" na reunião de ontem, mas para dizer que iria deixar de negociar. "Não sou eu que decido sozinho, mas a impressão é a de que o PSOE já escolheu. Nessas condições de acordo com o Ciudadanos estamos perante um claro não", disse o líder da Esquerda Unida ao El País, revelando a intenção de voto do seu partido.

Contas feitas, neste momento, o socialista conta com 131 votos a favor da sua investidura como primeiro-ministro, que será debatida na terça-feira - 90 do PSOE, 40 do Ciudadanos e 1 da Coligação Canária. Apoios insuficientes para a maioria absoluta de 176 deputados que precisa e cujo cenário não deverá mudar perante o fim das negociações à esquerda.

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