Sánchez à beira do poder se Rajoy não o travar demitindo-se

Socialistas têm os votos para a moção de censura, mas primeiro-ministro podia renunciar antes. PP diz que não o fará
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Pedro Sánchez chegou à liderança do PSOE no verão de 2014 e em março de 2016, apesar de ter sido segundo nas eleições, teve hipótese de ser primeiro-ministro. Mas não teve os apoios no Congresso. Dois meses depois, os socialistas tiveram o pior resultado eleitoral de sempre e em outubro foi forçado a demitir-se por não querer apoiar a investidura de Mariano Rajoy. Em maio de 2017, contra todas as expectativas, foi reeleito líder com o apoio de 50% dos militantes. Ontem, conseguiu os votos no Congresso para afastar Rajoy e hoje pode tornar-se primeiro-ministro. Tudo depende do próprio Rajoy, que pode demitir-se antes e evitar esse cenário.

O Partido Nacionalista Basco (PNV) anunciou ontem, primeiro dia do debate da moção de censura, que vai votar hoje ao lado dos socialistas. Esta moção foi desencadeada pela sentença do caso Gürtel, no qual políticos e empresários foram condenados num esquema de corrupção que ajudou a financiar o Partido Popular (PP). Em Espanha, uma moção de censura implica a apresentação de um candidato a assumir a chefia do governo - neste caso, o próprio Pedro Sánchez.

Os votos do PNV eram os cinco que faltavam para o PSOE conseguir ultrapassar a barreira dos 176 necessários para ganhar - tem 180, o que inclui os 84 socialistas, os 67 do Unidos Podemos e 24 de outros cinco partidos, incluindo os independentistas catalães. Esta é a quarta moção de censura desde o regresso da democracia em Espanha, em 1977, e a segunda contra Rajoy (Podemos tentou em 2017). Será a primeira a ser bem sucedida, caso não haja surpresa de última hora.

Moção avança ou demissão?

Após a votação de hoje, Sánchez torna-se primeiro-ministro. Mas ao longo da sua intervenção no debate, Sánchez disse pelo menos cinco vezes que caso Rajoy se demitisse, a moção seria suspensa. "Demita-se agora e tudo terminará. O seu tempo já acabou. Demita-se e esta moção de censura acabará aqui e agora", afirmou.

Se o primeiro-ministro se demitisse, o rei Felipe VI teria que ouvir os partidos e voltar a propor um candidato à investidura - e nesse caso Pedro Sánchez arriscava não ter votos suficientes. Espanha acabaria por ir a eleições antecipadas, mas até lá o PP continuaria interinamente à frente do executivo - há dúvidas sobre se seria liderado por Rajoy ou pela vice-presidente Soraya Sáenz Santamaría.

No debate, Rajoy rejeitou essa possibilidade de forma dúbia. "Um dirigente demite-se quando perde o apoio dos cidadãos ou da Câmara e eu tenho o apoio dos cidadãos e, neste momento, da Câmara", afirmou de manhã. À tarde, o primeiro-ministro esteve ausente do hemiciclo e já depois de ser conhecida a intenção de voto do PNV foi a secretária-geral do PP, Maria de Dolores Cospedal, que falou. "Rajoy não se demite porque não há garantia de que possa governar alguém do PP", afirmou, dizendo que "não é momento de demissão" porque isso não seria benéfico nem para o interesse de Espanha, nem do PP.

Novas eleições

O Ciudadanos, que está à frente nas sondagens, é contra a moção de censura, defendendo antes eleições antecipadas - isso mesmo voltou a pedir ontem a Rajoy. O líder do partido, Albert Rivera, acusou no debate os socialistas e os populares de pactuarem para levar o governo - que a partir de hoje será liderado por Sánchez - até ao fim do mandato, com o objetivo de travar a ascensão do Ciudadanos nas sondagens.

"Você quer ser primeiro-ministro a qualquer preço", disse Rivera a Sánchez, indicando que Espanha não merece um "governo zombie", como era o do PP, mas também não merece "um Frankenstein". A expressão tem sido usada para a aliança entre os socialistas e todos os partidos que o apoiaram. Um governo que, confirmou Sánchez, irá trabalhar com o Orçamento de Estado que deixa o PP (falta ser aprovado no Senado), apesar de o PSOE ter votado contra.

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