San Marino. Há 19 anos sem ganhar um jogo, mas nem por isso infelizes

Há quem lhes chame o saco de pancada do futebol europeu e são considerados a pior seleção do mundo (último lugar do ranking FIFA, posto 207). A seleção de San Marino não vence um jogo desde abril de 2004, ou seja, há quase 20 anos. E vai já num registo de 133 desafios consecutivos sem triunfos. Amanhã, a equipa desloca-se à Irlanda do Norte, em jogo de apuramento para o Euro2024, e as expectativas são praticamente nulas..A última (e única) vitória foi obtida a 28 de abril de 2004 e num... amigável. Na receção ao Liechtenstein, a equipa do pequeno país de 61 quilómetros quadrados, situado na região centro-norte de Itália e com uma população estimada de cerca de 30 mil habitantes, venceu pela margem mínima, com um golo de Andy Selva..Seguiram-se 10 anos só com derrotas, até que a 15 de novembro de 2014, os são-marinenses conseguiram uma grande proeza, ao empatarem com a Estónia sem golos, na qualificação para o Euro2016..Além de Selva, que curiosamente até nasceu em Roma (Itália) e jogou em alguns emblemas italianos como Verona, Padova, SPAL, Sassuolo e Grosseto, San Marino só teve mais um nome que sobressaiu: Massimo Bonini, antigo médio da Juventus entre 1981 e 1988. Mas como a seleção só foi criada em 1990, o jogador passou a representá-la já no final carreira..O palmarés desta humilde seleção é constantemente notícia pela negativa. Desde a sua criação, em 1990, realizou um total de 198 jogos. Só venceu um, empatou oito e perdeu 189. E o número de golos consentidos também é digno de registo: 815 contra e só 28 marcados. Um vídeo disponível no YouTube, aliás, compila todos os golos e respetivas jogadas dos 28 golos marcados em toda a história da existência desta seleção, desde 1990. E tem a duração de 11 minutos e 48 segundos..Outro nome que ficou para a história de San Marino foi Davide Gualtieri, que em 1994, num jogo de qualificação para o Mundial, marcou um golo à poderosa Inglaterra aos 8,3 segundos. No final, os britânicos venceram por 7-1, mas aquele golo impediu-os de irem ao Campeonato do Mundo porque precisavam de um triunfo por sete golos de diferença..A justificação para tão fraco palmarés está no facto de a grande maioria dos jogadores não fazer vida do futebol, são quase todos amadores que têm outra profissão. Entre os habituais convocados costuma estar um mecânico, um banqueiro, um motorista e um empregado de uma fábrica de joias. O selecionador, Fabrizio Costantini, trabalha num armazém de móveis. Por isso, hoje, quando viajarem para a Irlanda do Norte, a maioria terá que pedir folga no trabalho.."Somos uma seleção diferente, não somos profissionais. Eu e grande parte dos meus colegas temos outro trabalho. É uma situação difícil, mas ao mesmo tempo temos muito orgulho em nós, apesar de estarmos no último lugar do ranking da FIFA. Somos um dos países mais pequenos do mundo, mas a nossa seleção não tem jogadores de outras nacionalidades. Até a Itália recorre a estrangeiros. Nós somos apenas San Marino e temos muito orgulho nisso", disse o capitão Matteo Vitaioli, que é designer gráfico. Os poucos que são profissionais jogam nos escalões secundários de Itália, casos de Filippo Berardi (Ancona), Nicola Nanni e Filippo Fabbri (Olbia)..Apesar de o futebol não ter expressão no país, San Marino ganhou há alguns anos uma claque. São cerca de uma dezena de adeptos e pelo nome, bastante divertidos. O grupo de apoio chama-se Brigata Mai 1 Goia, que em português significa Brigada Nunca 1 Alegria, numa referência irónica ao facto de a equipa nunca ganhar. "As outras claques exigem vitórias. Nós não. Queremos só apoiá-los até ao último minuto. O futebol para nós é uma diversão. Os nossos jogadores não jogam por dinheiro, jogam por amor", diz um dos fundadores..O humor é mesmo a palavra de ordem entre os adeptos. No Twitter, na San Marino Fan Account, o conjunto é apresentado como "a equipa mais azarada do mundo". E Martino Bastianelli, o fundador da página, descreve os sentimentos de forma curiosa: "Temos de contentar-nos com pequenas coisas. Um remate à baliza é motivo para celebrar; ganhar um canto deixa-nos felizes; marcar um golo é como vencer um jogo e um empate tem sabor a vitória.".Marcar presença numa fase final de uma grande competição parece um sonho impossível. E para já a qualificação para o Euro2024 está dentro da normalidade: seis derrotas, 21 golos sofridos e nenhum marcado..Mas ninguém leva a mal, do treinador aos jogadores, passando pelos (poucos) adeptos. Afinal, existe um certo romantismo nesta história e ninguém parece importar-se com as derrotas. Mesmo quando acontece um desastre como o de 2006, quando os são-marinenses foram goleados 13-0 pela Alemanha. Porque o amor à camisola está acima de tudo..nuno.fernandes@dn.pt

San Marino. Há 19 anos sem ganhar um jogo, mas nem por isso infelizes

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