Quando Indira Gandhi perguntou ao seu chefe do Estado-Maior se estava preparado para uma nova guerra com o Paquistão, Sam Manekshaw respondeu-lhe com a sua habitual ironia de galanteador: "Estou sempre pronto, docinho." São muitas as pequenas histórias deste género que se contam sobre o general que liderou em 1971 a Índia na guerra pela libertação do Bangladesh, até então chamado Paquistão Oriental. Outra famosa troca de palavras com a enérgica Indira teve a ver com os rumores de que estaria a planear um golpe militar, aproveitando a sua enorme popularidade: "Não acha que seria um substituto à altura, senhora primeira-ministra? Tem um nariz comprido. Eu também tenho. Mas nunca meto o meu nariz nos assuntos dos outros." Retratado nos obituários da imprensa indiana com o seu uniforme cheio de medalhas, um imponente bigode branco e um olhar que se adivinha magnético, Sam Hormusji Framji Jamshedji Manekshaw morreu no final de Junho, tinha 94 anos. Mais do que um herói nacional, era um verdadeiro símbolo do país admirável que a Índia é..O homem que combateu pelos britânicos nas selvas da Birmânia durante a Segunda Guerra Mundial, e nos anos 70 se tornou o primeiro marechal da moderna Índia, era um parsi, comunidade de apenas 70 mil pessoas, conhecidos como adoradores do fogo, e que conta com alguns membros famosos, como os magnatas da família Tata ou Freddie Mercury, o antigo vocalista dos Queen (que na realidade se chamava Farrokh Bulsara). Mas se Sam Manekshaw pertencia a uma minúscula minoria num país de maioria hindu que hoje conta com mais de mil milhões de pessoas, que dizer então do major-general Jacob-Farj-Rafael Jacob, que no tal conflito de 1971 comandava no terreno as tropas indianas? J. F. R. Jacob, que chegou a ser governador de Goa, é um dos escassos cinco mil judeus do país. E para completar essa espécie de três mosqueteiros da terceira guerra indo-paquistanesa (Indira seria o quarto, uma D'Artagnan) tem-se ainda que somar um sikh com o improvável nome de Singh Aurora, o tenente-general que recebeu em Dacca a rendição de mais de 90 mil soldados inimigos..Manekshaw, Jacob e Singh Aurora ganharam fama há 37 anos. A Índia, entretanto, mudou tremendamente. Está mais rica, com uma economia que cresce perto dos dez por cento anuais e imita já o sucesso da China. Mas continua cheia de trios admiráveis. Por exemplo, no topo do poder, tem uma mulher, a hindu Pratibha Patil, como Presidente; um sikh, Manmonhan Singh, como primeiro-ministro; e, como se não bastasse ainda, Sonia Gandhi, nora de Indira e católica nascida em Itália, lidera o principal partido do Governo. Qualquer um deles esperará que um dia quando morrer se diga também aquilo que um leitor do Times of India afirmou sobre Sam Manekshaw: "Que os nossos filhos sejam como ele."|