Salvar o priolo da extinção

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Salvar o priolo da extinção

Recuperação de 'habitat' está em curso com êxito

Só existe nos Açores, na ilha de São Miguel e, nesta, apenas numa área de seis mil hectares de difícil acesso: a serra da Tronqueira e o Pico da Vara. Mas o priolo, espécie única no mundo, está criticamente em perigo. Travar a sua extinção é o objectivo do projecto LIFE, liderado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que este ano termina. Ao que tudo indica, com "resultados muito positivos", como disse ao DN o coordenador, o biólogo Joaquim Teodósio.

O censo mais recente contabilizou um aumento da população de priolo, "que está agora em quase 400 indivíduos", adiantou o biólogo, sublinhando que o projecto termina, mas "as actividades de conservação da espécie terão de continuar", talvez num novo projecto.

Os primeiros censos do priolo, realizados na década de 90 pelo biólogo Jaime Ramos, da Universidade de Coimbra, deram o alerta. O número de aves rondava, por essa altura, as duas centenas, pouco mais. Até aí, o priolo era mais ou menos ignorado. Mas a lenta caminhada para um fim pouco feliz estava há muito em marcha, com o abate da floresta nativa, a laurissilva, desde o início da colonização humana.

O priolo e o seu habitat de laurissilva estão indissoluvelmente ligados. Sem ele, com os seus azevinhos e fetos endémicos, e bagas como as uvas da serra, base da sua alimentação, não pode haver priolo. Mas as bolsas da floresta nativa que restam estavam já nessa altura em degradação acentuada, com a invasão de espécies exóticas muito agressivas, como a conteira ou o incenso.

Em 2002, quando se iniciaram censos anuais desta ave açoriana, tornou-se claro que era preciso intervir rapidamente no habitat para o recuperar. E foi assim que nasceu o projecto LIFE Priolo, por iniciativa da SPEA.

Iniciado em 2003, o programa contou com um financiamento global de 2,8 milhões de euros (1,7 milhões atribuídos pela Comissão Europeia, através do projecto LIFE) e o restante assegurado pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, dos Açores, Direcção Regional dos Recursos Florestais, universidade dos Açores e SPEA, entre outros.

A poucos meses do final - o projecto termina em Setembro, com a divulgação do primeiro Atlas do Priolo -, os resultados são positivos e sobretudo importantes para a conservação da espécie.

Em números, além das quase 400 aves recenseadas, o projecto saldou--se no aumento de dois mil para seis mil hectares da zona de protecção especial (ZPE) do priolo e intervenção no habitat: erradicação de espécies exóticas em mais de 120 hectares de floresta, nos quais se concentra o maior número de aves da espécie, plantação de 50 mil exemplares de flora autóctone criados em viveiro e acções de educação ambiental, que "estão a dar bons frutos", conclui Joaquim Teodósio.

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