Salário mínimo: UGT aposta nos 615 euros

A União Geral de Trabalhadores escolheu Figueiró dos Vinhos, a terra-natal de Carlos Silva, para as comemorações do 1º de maio
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Uma praça de gente madura ouviu hoje, em Figueiró dos Vinhos, o secretário-geral da UGT deixar ao país a sua proposta para o aumento do salário mínimo nacional em 2019: 615 euros. Carlos Silva levou à sua terra-natal (onde é presidente da Assembleia Municipal) as comemorações do 1º de Maio, num total de 100 autocarros e um número estimado de cinco mil pessoas.

A pacata vila do desertificado interior-norte do distrito de Leiria viu-se inundada de gente e de festa, mas era de sindicalismo e políticas sociais que a organização queria falar. "Esta é uma bandeira político-sindical que não abdicamos de desfraldar. E será em sede de concertação social que, estamos convictos, será possível ir além do valor acordado em sedes partidárias. Porque é nesta sede que se promove a paz social entre quem empresa e quem trabalha", disse Carlos Silva, que aproveitou o longo discurso para atacar outros temas - e outros parceiros. A UGT - sublinhou - "nunca teve receio de lutas, preferindo que as mesas de negociação sejam o palco preferido. Mas quando a via do diálogo conduz a resultado zero, então chega o momento de ir para a rua. E é isso que acontecerá nos próximos dias", avisou Carlos Silva, referindo-se à greve convocada pela FESAP (Federação de Sindicatos da Administração Pública e de Entidades com fins Públicos). "Infelizmente parece haver em alguns setores do movimento sindical dirigentes que se acham predestinados a terem o exclusivo da iniciativa", denunciou o secretário-geral da UGT, que ainda assim garante que "apoiará, sem reservas mentais ou ideológicas, as greves convocadas pela FESAP para os dias 2 e 3 de maio para a área da Saúde, e para o da 4 de maio para os trabalhadores não docentes da Educação". Da mesma maneira que, a 19 de maio, apoiará a manifestação nacional de professores, no Marquês de Pombal, em Lisboa.

Mas ontem, a mais de 180 km de distância, rodeado de montes queimados pelo fogo de junho passado, Carlos Silva concentrou-se no interior e naqueles três concelhos: Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, cujos presidentes de câmara e comandantes dos bombeiros subiram ao palco, ao lado do batalhão de dirigentes sindicais. Aí, o secretário-geral da UGT defendeu a redução do IRC à taxa de 0% (durante um período inicial de três anos, passando gradualmente para uma taxa reduzida) como forma de garantir a atração de empresas no interior. A ideia é ter "como contrapartida a obrigação de criar postos de trabalho, sendo que uma parte deles deve ser com contratação sem termo", sublinhou Carlos Silva. "Mais do que falar do passado, importa hoje falar do futuro, do que importa fazer para que outras populações sejam atraídas para o interior do país e alterem este ciclo de muitas décadas de desertificação, de envelhecimento das populações e de baixa natalidade, de falta de investimento público e privado que fixe os jovens e atraia outros".

"Por que não atribuir uma taxa de IRC [Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas] de 0% durante um período de início de implantação das empresas", propôs Carlos Silva, que falava à agência Lusa à margem das comemorações da UGT do 1.º de Maio, em Figueiró dos Vinhos, distrito de Leiria. Segundo o líder da UGT, a taxa seria depois aumentada gradualmente para outros níveis. A proposta da redução do IRC teria como contrapartida a criação de empregos e a contratação ser feita sem termo. Durante o discurso, Carlos Silva voltou a abordar a questão, considerando que devem ser criadas dinâmicas fiscais próprias para o interior do país, por forma a atrair investimento privado.

Carlos Silva aproveitou ainda para dar uma boa-nova; dois representantes de sindicados do setor da construção e obras públicas de Toronto e Ontário, no Canadá, ambos lusodescendentes, trouxeram um cheque no valor de 35 mil dólares para entregar às corporações de bombeiros da região. "Não é dinheiro da UGT", salvaguardou Carlos Silva, pois que se tratava, afinal, de recolha feita pelos emigrantes no Canadá. E essa foi a maior ovação que tomou conta da praça do Município. Entre as bandeiras, António Rodrigues Ferreira não escondia a emoção. Não fazia parte de nenhum grupo organizado, mas fez-se ao caminho a partir da Lousã, quando soube da comemoração do 1º de maio em Figueiró dos Vinhos. Foi delegado sindical na juventude, quando trabalhava na Companhia de Papel Prado, antes de emigrar para o Luxemburgo e fazer a vida como empregado de mesa. Agora, aos 64 anos, goza a reforma entre cá e lá. Era um entre muitos reformados que compunham a maioria daquela assistência, mesclada com alguns casais de meia idade e alguns jovens -como os que vieram do pólo de Sesimbra da Escola Agostinho Roseta. "Espero que em breve seja uma realidade aqui, em Figueiró dos Vinhos, como fator de criação de ritmo e de dinâmicas novas neste concelho e nesta região, com ofertas formativas que respondam às necessidades do mercado de trabalho", anunciou Carlos Silva. Depois as bandeiras recolheram e a praça continuou em festa. Afinal, havia ali quem estivesse a guardar lugar desde cedo, alheia à mensagem da UGT mas ansiosa pela chegada do artista Toy.

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