Sala cheia para ouvir a guru de Madonna e Demi Moore
Chegou vários minutos depois da hora marcada (17.30), tudo por causa de um atraso no avião em que seguia, mas nem por isso houve qualquer sinal de desmobilização por parte das cerca de cem pessoas que ontem pagaram 42 euros para a ver e ouvir no Centro Cultural de Belém (CCB). Karen Berg, a guru do mundo da cabala, chegou, subiu ao púlpito e falou quase uma hora. Sem bocejos ou sinais de tédio na audiência.
Até que a líder espiritual iniciasse a sua intervenção, eram vários os presentes que iam folheando o livro Luz Simples, que Karen publicou originalmente em 2002 e que foi oferecido pela organização. Uma obra, pode ler-se, que "transmite uma mensagem simples, direta e que brota de dentro do coração" e que vem "do amor incondicional" que a principal figura da sabedoria cabalística procurou ontem transmitir. Nem o preço cobrado pela entrada, a fazer lembrar um concerto de uma estrela pop, foi obstáculo para a curiosidade que assaltava a plateia.
Ao contrário do que acontece noutros pontos do globo - e, tal como explicou o apresentador do evento, há hoje mais de 30 centros e cerca de 50 grupos de estudo do Centro Cabala espalhados pelo mundo -, ainda não existem figuras com notoriedade pública mergulhadas naquela escola mística de origem judaica. Nem ontem se revelaram no CCB. A plateia, aliás, era composta por ilustres desconhecidos que, em inglês, ouviram a longa exposição.
Mas Karen também não estranhou. Ainda que nos EUA a mulher que dá a cara pela cabala, ao lado do marido, Ray Philip Berg, tenha entre o seu leque de "alunos" personalidades como Madonna, Demi Moore ou Ashton Kutcher.
Na primeira fila, coabitavam vários credos e diversas áreas de estudo. O padre Avelino Alves, o xeque David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, Paulo Borges, antigo presidente da União Budista Portuguesa, a astróloga Maria Flávia de Monsaraz ou o investigador esotérico e epistemológico André Louro de Almeida. Dali puderam ouvir Karen explicar que um dos princípios da cabala passa por "acabar com a negatividade" nos seres humanos. E essa "negatividade" combate-se também através do respeito pela diferença, sustentou a oradora.
Karen Berg afirmou que é preciso "criar um mundo onde se possa rezar em pé ou de joelhos", pois "não importa" como o fazemos. Num tom apaziguador, que viria a ser secundado pelo painel que subiu ao palco para discutir o tema "Paz global", sublinhou o facto de cada religião ter o seu "percurso" e que o diálogo tem de passar por "encontrar similitudes" e não "diferenciações". Sempre com palavras do "Criador" na ponta da língua, Karen notou que Deus nada tem que ver com a "corrupção" do homem ou a "destruição" do planeta.
No painel seguinte, David Munir e Paulo Borges alinharam com o discurso pacifista e de aperfeiçoamento espiritual de cada um. "Todos temos a luz dentro de nós", afirmou o imã da Mesquita Central de Lisboa, ao passo que Paulo Borges classificou a espiritualidade como "um sopro" que nos pertence. Maria Flávia de Monsaraz colocou o acento tónico na "evolução" e nas "heranças kármicas" de cada um.