Sainz vs Verstappen. A rivalidade do futuro já agita a Fórmula 1

Espanhol e holandês andam "picados" quase desde a chegada à Toro Rosso, no início de 2015. Na Austrália, a rivalidade entre as duas jovens promessas voltou a fazer faísca.
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Na Toro Rosso, equipa-academia da Red Bull, não crescem apenas as estrelas do futuro da Fórmula 1 (à imagem de Sebastien Vettel): também ganha forma a rivalidade que promete agitar o "grande circo" nos próximos anos. A relação entre Carlos Sainz Jr. e Max Verstappen faz faísca desde antes da chegada de ambos à scuderia de Faenza (Itália). E o arranque da nova temporada só veio inflamá-la ainda mais.

No Grande Prémio da Austrália, Sainz Jr. e Verstappen, dois jovens lobos, filhos de vultos do automobilismo, voltaram a mostrar ânsia de liderar a alcateia. O holandês, primogénito de Jos Verstappen (correu na F1 entre 1994 e 2003), acendeu o rastilho, ao queixar-se da estratégia da equipa, que não o deixou ultrapassar o espanhol, na fase final da corrida de Melbourne.

Max - que tem 18 anos e bateu vários recordes de precocidade na categoria-rainha das competições automóveis - seguia bem posicionado na prova, mas a paragem após o acidente de Fernando Alonso travou-o: no recomeço, houve uma falha de comunicação na sua ida às boxes (que demorou demasiado) e reentrou em prova já atrás de Sainz Jr. Verstappen perguntou se podia tentar ultrapassar o colega, mas o seco "sim" do engenheiro da equipa, via rádio, chegou acompanhado da mensagem "Carlos, continua a puxar". "Isso só pode ser uma piada, f...", queixou-se o holandês, que ainda forçou a aproximação, chegando a tocar no colega de equipa.

Verstappen acabou a corrida em 10.º lugar, atrás de Sainz Jr. E voltou a lamentar-se: "Antes daquela paragem nas boxes estava muito mais rápido e a afastar-me dos demais. Depois fiquei preso atrás do Sainz e não tive hipótese de ultrapassá-lo." Já o espanhol preferiu desdramatizar, dizendo que foi "uma corrida interessante" e garantindo que ambos têm "uma rivalidade saudável". No entanto, o acumular de episódios do género desde que ambos chegaram à Toro Rosso, no início da época passada, mostra mais do que isso.

Carlos Sainz Jr., de 21 anos e filho do piloto homónimo (uma lenda dos ralis), começou a marcar terreno ainda antes de chegar à equipa, que já tinha contratado o holandês. "Se Verstappen merece o lugar, eu mereço ainda mais. Ele foi terceiro no seu campeonato, que foi ganho por outro estreante, enquanto eu estou numa divisão acima e fui o piloto mais jovem de sempre a ganhar, com recorde de vitórias e de voltas mais rápidas. Magoa-me ainda não ter o acordo confirmado", apontou, em outubro de 2014.

Ao longo do ano de estreia - com ambos a fazerem a dupla mais jovem de uma scuderia na história da F1 - a tensão manteve-se. Sainz Jr. alegou, mais do que uma vez, que as decisões da equipa favoreciam Verstappen. E o pico da rivalidade chegou em Singapura, com o holandês a não respeitar instruções para permitir a ultrapassagem d o espanhol. "Não vi qualquer razão para o deixar passar. Se fosse o contrário, ele também não me teria deixado passar", justificou. "Sei que ele gosta de fazer o papel de bad boy mas não vou mudar o meu comportamento", respondeu o filho de Carlos Sainz.

A polémica em Singapura - Max acabou em 8.º, Carlos em 9.º - lançou os dois para um final de época bem distinto. Verstappen iniciou ali uma série de seis corridas seguidas a pontuar e terminou o Mundial em 12.º lugar, com 49 pontos, bem à frente de Sainz Jr. (15.º, 18 pontos).

"O novo Senna? Então e eu...?"

O espanhol não escondeu a insatisfação. "Sempre que tive as mesmas oportunidades e fiabilidade que ele, estivemos muito perto. Se o Max é assim tão bom - e penso que é - não devo estar muito longe. Se dão mais importância ao Max, não depende de mim. Os números mostram que ultrapasso quase tanto quanto ele, mas o que vou fazer? Se dizem que ele é o novo Senna e eu o conseguir bater... então quem serei eu?", provocou, já no início deste ano.

Perante o tom inflamado, os responsáveis da Toro Rosso tentam pôr água na fervura. "Tudo neles me impressionou muito. A pilotagem, o conhecimento técnico do monolugar, a cooperação com os engenheiros, assim como a forma de atuarem nos eventos", elogiou, em finais de 2015, o chefe de equipa Franz Tost, chegando a comparar Verstappen e Sainz Jr. a Sebastien Vettel. O piloto da Ferrari, tetracampeão do mundo pela Red Bull (2010-2013), despontou na Toro Rosso.

No entanto, mais do que o alemão, os promissores Sainz Jr. e Verstappen parecem imitar outras lendas. Afinal, a sua rivalidade já faz lembrar as divergências históricas entre colegas como as de Mansell e Piquet (Williams, 1986), Senna e Prost (McLaren, 1988) ou Hamilton e Alonso (McLaren, 2007). Eles já marcam lugar para o futuro.

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