O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu esta sexta-feira que, segundo as sondagens, a saída do período de défices excessivos aumentou mais a autoestima do país do que vencer o campeonato de futebol ou a Eurovisão..Centeno, que falava na abertura da conferência "Fortalecer o capital social: o papel dos bancos centrais", que se realiza em Lisboa, a propósito da celebração do 175.º aniversário do supervisor financeiro, afirmou, citando sondagens, que a saída do período de défices excessivos "aumentou mais a autoestima dos portugueses do que, provavelmente, vencer o campeonato de futebol ou a Eurovisão"..Assim, conforme apontou, Portugal deve continuar a valorizar o capital social criado após 2017..Por outro lado, referiu que para garantir a igualdade de oportunidades, Portugal deve "apostar na educação"..Durante a sua intervenção, o governador do supervisor financeiro apontou ainda que, ao contrário do esperado, a pandemia de covid-19 reforçou a confiança no euro, que foi considerado "como parte da solução e não do problema", face à resposta das instituições..Mário Centeno referiu-se também ao conflito na Ucrânia e à consequente escalada de preços, nomeadamente na energia, um problema que disse afetar "a confiança nos agentes económicos e nas economias", vincando que são necessárias "ações políticas" para resolver esta questão..Já no que concerne aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) apelou à sua utilização "de forma produtiva".O PRR, que tem um período de execução até 2026, pretende implementar um conjunto de reformas e investimentos tendo em vista a recuperação do crescimento económico. Além de ter o objetivo de reparar os danos provocados pela covid-19, este plano tem ainda o propósito de apoiar investimentos e gerar emprego..A dotação total do PRR ultrapassa os 16.600 milhões de euros, distribuída pelas suas três dimensões estruturantes -- resiliência (11.125 milhões de euros), transição climática (3.059 milhões de euros) e transição digital (2.460 milhões de euros)..Seguiu-se uma sessão dedicada ao tema "um novo contrato social para os bancos centrais em tempos de mudança da preocupações da sociedade", que contou com a presença do governador do Banco de Espanha, Pablo Hernandéz de Cos..Este responsável começou por elogiar a reputação "muito elevada" que o BdP tem entre os bancos centrais, acrescentando que o capital social e a estabilidade financeira, temas em debate, são tópicos "muito complexos"..Hernandéz de Cos falou da independência dos supervisores financeiros, característica "que distingue os bancos centrais das demais instituições" e que se reveste de importância para todos os cidadãos..Por outro lado, referiu que para serem independentes, os bancos centrais têm de ter autonomia de decisão, caso contrário "essa autonomia não é utilitária"..O governador do Banco de Espanha destacou também o papel dos bancos centrais enquanto "avaliadores", o que disse ser "bastante difícil", tendo em conta que as próprias ciências sociais, nomeadamente a economia, nem sempre têm uma resposta para tudo, sendo, neste âmbito, necessário apostar "mais e mais" na literacia financeira..O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu "ser crucial", perante a guerra na Ucrânia, que Portugal e a Europa tenham uma ação política coordenada para garantir o "crescimento sustentável" das economias.."A curto prazo, a invasão da Ucrânia pela Rússia [...] vai atrasar a recuperação e causar um ambiente inflacionário. As novas pressões nos preços diminuem a confiança dos agentes económicos", afirmou Mário Centeno..A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.232 civis, incluindo 112 crianças, e feriu 1.935, entre os quais 149 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior..Neste contexto, para o antigo ministro, é "crucial" a coordenação entre "as ações políticas nacionais" e as da Europa, de modo a garantir um "crescimento sustentável das economias"..O Programa do XXIII Governo Constitucional, empossado na quarta-feira pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi, esta quinta-feira, aprovado na primeira reunião do Conselho de Ministros e hoje entregue na Assembleia da República..O documento vai ser discutido no plenário do parlamento nos dias 07 e 08 de abril..Na quarta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, antecipou que o documento "é conhecido" porque "é o progama eleitoral dos socialistas" às legislativas de janeiro passado.