Saída de Stock da Cunha sem impacto na venda do Novo Banco
A saída de Eduardo Stock da Cunha da liderança do Novo Banco, que deverá ocorrer em agosto, não terá impacto no processo de venda da instituição, que está a decorrer e cuja expectativa é que esteja concluído no verão, dizem os analistas.
Stock da Cunha poderá assim regressar ao banco britânico Lloyds, onde trabalha com Horta Osório. Uma decisão que ainda não estará completamente fechada e que dependerá também do calendário da venda do Novo Banco, já que o objetivo é deixar este dossiê fechado, apurou o DN/Dinheiro Vivo junto de fonte próxima do processo.
A saída, "embora não fosse prevista antes do início do processo de venda, não deverá ter nenhuma implicação negativa", diz Tiago da Costa Cardoso, gestor da XTB. A mudança "não deverá ter nenhuma implicação negativa já que as reformas impostas por Stock da Cunha estão deliberadas e não se previa a execução de medidas adicionais".
Além disso, defende o mesmo analista, a saída do presidente executivo do Novo Banco "coincide com a data expectável da venda do banco pelo que a única consequência será, e tendo em consideração o desfecho da venda, qual o grupo de trabalho que irá encabeçar a direção futura do banco".
Também Albino Oliveira, da Patris Investimentos, não vê impacto na saída de Stock da Cunha. "O regresso ao Lloyds era esperado", começa por dizer, uma vez que "após as medidas que Stock da Cunha implementou, o Estado procura agora uma solução para o banco".
Já Pedro Lino, responsável da Dif Brokers, considera que a saída de Stock da Cunha não terá impacto mas por razões diferentes: "O processo de venda está fragilizado desde o início, uma vez que a administração já estava a prazo." O especialista explica que "não foi dado tempo para reestruturar nem recuperar a instituição de forma a ser possível a venda a um outro banco ou em bolsa".
Albino Oliveira refere ainda que "as notícias do seu regresso em agosto poderiam levar-nos a pensar que o processo de venda poderia ser concluído já nos próximos meses. Contudo, tendo em conta os atrasos que o processo sofreu no passado, é sempre possível que novos atrasos possam ocorrer".
Bruxelas alargou o prazo de venda do Novo Banco para agosto de 2017 mas o objetivo é que seja vendido até julho deste ano. A equipa liderada por Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado dos Transportes, está a trabalhar em dois cenários: na venda direta a institucionais ou na dispersão em bolsa, podendo ser vendido apenas uma parte do capital, incluindo uma participação minoritária. A equipa já esteve em road show por várias capitais financeiras, a reunir com potenciais investidores e, ao que apurou o DN/Dinheiro Vivo, o calendário está a ser cumprido.
A hipótese de nacionalização, contudo, não está excluída, pelo menos para António Costa. O primeiro-ministro já disse várias vezes que no Novo Banco "todas as soluções estão em cima a mesa".
O legado de Stock
A expectável saída de Stock da Cunha não surpreendeu. O gestor já tinha dito, em fevereiro, que só ficava no Novo Banco até ao verão. Agora já terá tudo definido com Horta Osório para regressar ao banco britânico. Até porque, a concretizar-se a venda no calendário previsto, o novo acionista quererá nomear a sua equipa de gestão.
À frente do Novo Banco, Stock da Cunha iniciou uma série de reformas, destacando-se sobretudo a reestruturação ao nível dos recursos humanos. Inicialmente estava previsto um corte de mil funcionários, número depois reduzido para 500 trabalhadores. Destes, a maior parte saiu por mútuo acordo e 69 funcionários foram abrangidos por um despedimento coletivo: 56 do Novo Banco e 13 de associadas.
Stock da Cunha, na apresentação de resultados de 2015 - quando oficializou prejuízos de 980 milhões de euros, penalizado por créditos problemáticos herdados do BES e pela anulação dos benefícios por impostos deferidos ativos -, definiu como objetivo para 2016 duplicar o resultado operacional para 230 milhões e aumentar os depósitos em 6%, para fixar o rácio de capital core Tier 1 acima dos 12%. O responsável também fixou a meta de vender 700 milhões de euros em ativos imobiliários até ao final do ano, na lógica de alienação de ativos não-core - no primeiro trimestre já foram vendidos 106 milhões.