Sacolas e legumes do norte de Moçambique crescem com dinheiro das areias pesadas

Há quase seis anos que o som de uma máquina de costura marca o ritmo da aldeia de Thopuito, no norte de Moçambique.
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A máquina pertence à associação Kanlikaniua e seis membros, maioritariamente mulheres, dão ao pedal para produzir sacolas que têm uma história especial.

Dali saem 3.000 peças por mês para um único cliente: a empresa mineira irlandesa Kenmare, que extrai minerais pesados de minas abertas ali mesmo ao lado.

A Kenamre usa as sacolas produzidas pela população vizinha da sua exploração para guardar amostras das diferentes fases de atividade mineira.

As três mil sacolas rendem cerca de 120 mil meticais por mês, o correspondeste a 1.700 euros.

Este é de 32 projetos apoiados pela empresa que opera na região há sensivelmente dez anos.

Outros estão focados nas áreas da agricultura e comércio, com criação de frangos e produção de ovos ou exploração de salinas.

Chiquinho Mpakiriua, residente na aldeia, deixou de pescar em 2014 e virou-se para a produção de vegetais depois de ter recebido um financiamento da Kenmare no valor de 140 mil meticais (cerca de 2.000 euros) e uma motobomba.

O equipamento permite-lhe regar um hectare de terra onde produz vegetais para abastecer o mercado de Thopuito e localidades vizinhas.

"Sinto-me bem", referiu à Lusa: "Desde que iniciei a produção de vegetais, vejo que algo melhorou".

A Kenmare tem dificuldade em dar emprego à população no seu projeto, já que parte significativa é analfabeta, pelo que nos últimos anos tem vindo a apostar em programas de financiamento a alguns membros da comunidade.

O objetivo passa por gerar rendimento e emprego que permita às famílias "investirem na educação", disse à Lusa, Regina Macuacua, responsável pela área social da Kenmare.

Ao mesmo tempo, a empresa tem apoiado a construção de estabelecimentos de ensino primário e técnico-profissional, a criação de programas de alfabetização e educação de adultos, assim como bolsas de estudo para jovens.

As iniciativas "enquadram-se nos programas de desenvolvimento comunitário, implementados pela Kenmare Moma - Associação de Desenvolvimento, pertencente à empresa", com a qual se pretende potenciar as oportunidade criadas pela mineradora ao nível da região.

A Kenmare Resources anunciou em janeiro ter extraído quantidades recorde de minerais do subsolo de Moma, norte de Moçambique, com boas perspetivas de negócio para 2018.

"Houve uma produção anual recorde de ilmenite, rútilo e zircão" nas minas moçambicanas, situadas junto à costa do Índico, na província de Nampula, refere a empresa num relatório de apresentação de contas.

Entre 2016 e 2017, a exportação aumentou 2% para cerca de um milhão de toneladas e os preços de todos os produtos da mina moçambicana subiram.

Relativamente a 2016 (que também já tinha sido um ano recorde), a produção de ilmenite aumentou 11% para 998.200 toneladas, a de zircão subiu 9% para 74.000 toneladas, enquanto o rútilo extraído cresceu 17% para 9.100 toneladas.

A produção de concentrado de minerais pesados diminuiu 6% para 1,3 milhões de toneladas.

Aqueles minerais, a que usualmente se faz referência com a expressão "areias pesadas" - por serem minúsculos cristais extraídos de areia -, são usados em aplicações industriais, tais como pigmentação de tintas e outros produtos, ou em sistemas de abrasão e isolamento, no caso do zircão.

A dívida líquida da empresa diminuiu de 44,8 milhões de dólares em 2016 para 34,1 milhões em 2017.

"Há trabalho em andamento para otimizar a capacidade das minas" no norte de Moçambique, anuncia a Kenmare, referindo que há 19 milhões de dólares aprovados para "despesas em estudos e projetos de desenvolvimento em 2018".

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