Sabores que aquecem a alma: Aguardentes a combinação perfeita para este Outono

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Nas décadas de 60 - 70 do século passado, era comum "Caldeiras Bagaceiras" nas adegas dos viticultores, para destilação dos seus bagaços. O grande foco de produção de aguardentes vínicas, não seria o envelhecimento, mas sim a beneficiação do Vinho do Porto.

No ano de 1970, teve início no Núcleo Experimental do Centro Nacional de Estudos Vitivinícolas, uma série de estudos focados na exploração das potencialidades da região da Lourinhã para a produção de aguardentes vínicas envelhecidas. Esses estudos foram conduzidos utilizando barricas de carvalho, em conformidade com as práticas estabelecidas em Cognac. Além do carvalho, foram realizadas análises também em madeira de carvalho-português, carvalho-americano e de castanho português.

No que se refere ao processo de destilação, este era simples numa fase inicial. Apenas na segunda metade do séc. XVIII, começa a verdadeira evolução dos alambiques. De alambiques de alquimistas ou de serpentina, passa-se para algo semelhante ao que temos atualmente, em que as partes essenciais são: a caldeira, o capitel, o bico e o refrigerante.

Com uma história ancestral profundamente enraizada em tradições seculares, a aguardente continua a cativar os sentidos em todas as partes do mundo. Da cálida Grappa italiana à aromática Marc francesa, à versátil Cachaça brasileira, cada variante transporta-nos para o ADN da cultura e identidade local. Em Portugal, a aguardente é destilada em várias regiões, desde o Algarve, famoso pelas suas aguardentes de medronho, até ao Douro. Contudo, não se pode falar deste tema sem fazer uma especial menção à Aguardente DOC da Lourinhã, a nossa "Lourignac", a única equiparada à Cognac e Armagnac. De salientar, que a região da Lourinhã sempre foi reconhecida pela sua aguardente de qualidade. Outrora para fortificação dos vinhos do Porto e atualmente como produtora de aguardentes vínicas envelhecidas. Em termos de perfil apresenta-se frutada e com notas de frutos secos conferidos pela madeira bem integrada, a sua cor é topázio e na boca surge macia, frutada e persistente.

Importa referir que as aguardentes nacionais são uma ótima opção para aquecer e descontrair em estações como o outono. Eu, particularmente, sou um adepto de aguardentes vínicas envelhecidas. Os aromas resultantes do envelhecimento em barrica, a complexidade que se revela a cada gole e a natureza contemplativa deste destilado convidam a reservar um momento para relaxar e apreciar a tranquilidade do tempo consigo mesmo.

A combinação deste néctar, embora cada vez menos popular, traz prazer ao apreciar uma boa cigarrilha ou charuto, especialmente nas noites e tardes frias, quando se mesclam perfeitamente com o calor acolhedor de uma lareira. Harmonizar com doçaria conventual, frutos secos ou chocolates amargos é igualmente prazeroso. Uma sugestão para os apreciadores!

Esta temporada do ano desperta em mim uma certa nostalgia. Recordo com carinho os encontros do São Martinho, quando acendíamos fogueiras para assar castanhas, degustávamos os vinhos novos, a água-pé, a jeropiga e, muitas vezes, aquecíamos com aguardentes enquanto compartilhávamos histórias de tradições que perduravam entre gerações de jovens e idosos.

Deixo-lhe o convite: deguste aguardentes portuguesas neste outono, aqueça a alma e aguce os sentidos a cada gole.


CEO, Garrafeira Nacional

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