Pouco maior do que um simples postal ilustrado, o desenho de uma banal cena do quotidiano antigo - uma mulher a lavar os pés de uma criança numa bacia - é um tesouro resguardado num cofre da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP). A autoria confere-lhe um valor e fascínio óbvios: uma obra de Leonardo da Vinci, a única existente em Portugal.. Rapariga Lavando os Pés de Uma Criança é um desenho a pena, com tinta e aguada castanha, que tem ainda, no canto inferior esquerdo, Estudo Separado das Nádegas da Criança. São 185 mm x 111 mm de uma preciosidade pouco conhecida fora do circuito artístico..A história de como esta obra de Da Vinci foi parar à antiga Academia de Belas-Artes do Porto, precursora da FBAUP, onde é a joia da coroa da coleção de desenhos de mestres antigos, é um novelo complexo com algumas pontas soltas..A hipótese mais provável é que tenha chegado ao Porto, no início do século XIX, "pela mão de estudantes bolseiros" que o terão trazido de Itália, refere Mário Bismarck, professor catedrático e coordenador do curso de Desenho da Faculdade de Belas-Artes..Ora, durante muito tempo não se soube sequer que este esquisso era de Leonardo da Vinci, surgindo inicialmente atribuído a Raffaellino da Reggio, um pintor maneirista do século XVI, cujo nome na margem do desenho "terá sido provavelmente anotado como sugestão de autoria por um colecionador", diz o professor da FBAUP. Aliás, chegou mesmo a ser exibido como sendo de Raffaellino, numa exposição nas Belas-Artes, em 1962..Uma confusão originada, talvez, pelo facto de "ambos serem esquerdinos", diz Mário Bismarck. Uma fotografia da obra foi entretanto enviada ao connoisseur inglês Philip Pouncey, que em 1965 a identificou como fruto do génio renascentista. "Mais tarde veio ao Porto ver o desenho e em 1978 escreveu um artigo numa revista da especialidade [Apollo], a fundamentar a descoberta." Pouncey datou o desenho por volta de 1480, enquanto outro perito na obra de Da Vinci, Carlo Pedretti, reforçou a autoria mas apontou um período posterior, por volta de 1483..Entre as fundamentações, além do "estilo próprio de Leonardo e do enquadramento do desenho no percurso estilístico da sua obra", destaca-se também a particularidade de "no verso da folha se encontrar uma série de palavras escritas em espelho, a escrita invertida própria do Leonardo", descreve o professor catedrático..Daí para cá, o desenho já fez parte de exposições em museus reputados como o Metropolitan, o Louvre ou o Prado. Em Portugal, esteve exposto em raras ocasiões, a última delas em 2012. No resto do tempo, o valioso Rapariga Lavando os Pés de Uma Criança - que em 2004 estava avaliado em cerca de um milhão de euros - está guardado num cofre. "Por razões de segurança, naturalmente, mas também de conservação.".No ano em que se assinala o quinto centenário da morte de Leonardo da Vinci, o desenho já esteve em exposição na Holanda, no Teylers Museum, e vai voltar a poder ser visto no próximo outono, no Museu do Louvre, em Paris, na grande exposição que assinalará a efeméride.
Pouco maior do que um simples postal ilustrado, o desenho de uma banal cena do quotidiano antigo - uma mulher a lavar os pés de uma criança numa bacia - é um tesouro resguardado num cofre da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP). A autoria confere-lhe um valor e fascínio óbvios: uma obra de Leonardo da Vinci, a única existente em Portugal.. Rapariga Lavando os Pés de Uma Criança é um desenho a pena, com tinta e aguada castanha, que tem ainda, no canto inferior esquerdo, Estudo Separado das Nádegas da Criança. São 185 mm x 111 mm de uma preciosidade pouco conhecida fora do circuito artístico..A história de como esta obra de Da Vinci foi parar à antiga Academia de Belas-Artes do Porto, precursora da FBAUP, onde é a joia da coroa da coleção de desenhos de mestres antigos, é um novelo complexo com algumas pontas soltas..A hipótese mais provável é que tenha chegado ao Porto, no início do século XIX, "pela mão de estudantes bolseiros" que o terão trazido de Itália, refere Mário Bismarck, professor catedrático e coordenador do curso de Desenho da Faculdade de Belas-Artes..Ora, durante muito tempo não se soube sequer que este esquisso era de Leonardo da Vinci, surgindo inicialmente atribuído a Raffaellino da Reggio, um pintor maneirista do século XVI, cujo nome na margem do desenho "terá sido provavelmente anotado como sugestão de autoria por um colecionador", diz o professor da FBAUP. Aliás, chegou mesmo a ser exibido como sendo de Raffaellino, numa exposição nas Belas-Artes, em 1962..Uma confusão originada, talvez, pelo facto de "ambos serem esquerdinos", diz Mário Bismarck. Uma fotografia da obra foi entretanto enviada ao connoisseur inglês Philip Pouncey, que em 1965 a identificou como fruto do génio renascentista. "Mais tarde veio ao Porto ver o desenho e em 1978 escreveu um artigo numa revista da especialidade [Apollo], a fundamentar a descoberta." Pouncey datou o desenho por volta de 1480, enquanto outro perito na obra de Da Vinci, Carlo Pedretti, reforçou a autoria mas apontou um período posterior, por volta de 1483..Entre as fundamentações, além do "estilo próprio de Leonardo e do enquadramento do desenho no percurso estilístico da sua obra", destaca-se também a particularidade de "no verso da folha se encontrar uma série de palavras escritas em espelho, a escrita invertida própria do Leonardo", descreve o professor catedrático..Daí para cá, o desenho já fez parte de exposições em museus reputados como o Metropolitan, o Louvre ou o Prado. Em Portugal, esteve exposto em raras ocasiões, a última delas em 2012. No resto do tempo, o valioso Rapariga Lavando os Pés de Uma Criança - que em 2004 estava avaliado em cerca de um milhão de euros - está guardado num cofre. "Por razões de segurança, naturalmente, mas também de conservação.".No ano em que se assinala o quinto centenário da morte de Leonardo da Vinci, o desenho já esteve em exposição na Holanda, no Teylers Museum, e vai voltar a poder ser visto no próximo outono, no Museu do Louvre, em Paris, na grande exposição que assinalará a efeméride.