Saber perguntar
Há uma pergunta extraordinária na lista de 30 que o PSD fez ao governo sobre a Caixa Geral de Depósitos. Passos Coelho quer "informações detalhadas sobre os 50 maiores devedores da CGD, bem como dos 40 maiores créditos em incumprimento". Perguntar é saudável, é politicamente essencial, ajuda o país a melhorar. Respondessem os governos a um décimo das dúvidas que lhes são postas e Portugal estaria talvez um pouco melhor do que está hoje. Mas perguntar tem a sua ciência, nem todas as questões fazem sentido. Um partido político não é um jornal, tem incentivos diferentes - em princípio um jornal não quer governar o país. Acresce que um partido que esteve no governo durante quatro anos, que tutelou o banco público e que nomeou a respetiva administração teve certamente acesso a esta informação; ou só agora passou a considerar oportuna a divulgação da lista negra de devedores? Se um banco, público ou privado, divulgar a sua lista de credores em falta, o melhor é mudar já de ramo de atividade. Não se trata de secretismo, mas de confidencialidade - é suposto o antigo primeiro-ministro perceber a diferença, ele que é um defensor da economia de mercado. Infinitamente mais acertadas são as perguntas do PSD que dizem respeito aos valores da recapitalização da Caixa: quatro mil milhões? Três mil milhões? Porquê esta imensidão de dinheiro? As explicações talvez sejam prematuras, a futura administração terá de olhar para o balanço e decidir, mas é bom que seja apresentado um dossiê completo de modo a permitir uma discussão sólida, não superficial, o contrário do que tem acontecido no debate sobre os salários e o número de futuros administradores da CGD: é evidente que as remunerações e a organização têm de estar em linha com o mercado, embora com um teto para evitar alucinações, é isso que tem de ser verificado - e vai ser. Isso e a competência. Na administração cessante do banco público, o vice-presidente ganhava o mesmo que um vogal - qual é o sentido disto? Um primeiro-ministro pode andar em turística, é uma opção exclusiva dele que não afeta os outros, mas não pode ganhar o mesmo que um ministro, porque no limite isso pode prejudicar-nos a todos, distorcendo a qualidade.