Saber distinguir espaço público e espaço privado

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As pessoas não sabem distinguir o espaço público do espaço privado. Em nossa casa, em privado podemos ter comportamentos, desabafos e liberdade para dizer e fazer coisas que não o devemos fazer em público.

Num espaço que é de todos, temos que ter algum cuidado e contenção para não interferir na vida dos outros.

Vou de manhã ao café tomar o pequeno-almoço e levo o jornal para ler. Infelizmente não o consigo fazer, a empregada do café começa a falar alto com os clientes de coisas que não me interessam absolutamente nada e pensam que estão em sua casa. Para ler é preciso algum silêncio. Quero lá saber a que horas se levantou! Se dormiu mal! E, o que tem para fazer durante o dia! As pessoas perderam os códigos de conduta e saber estar em público.

A maioria pensa que está em sua casa: falam alto, colocam o telemóvel muito alto, sentam-se no metro como se estivessem no sofá da sua casa.

As pessoas não percebem que perturbam as outras pessoas que estão junto a elas.

Na rua falam alto ao telemóvel, berrando com alguém que não sabemos quem é, ou contam segredos íntimos em que não nos interessam minimamente, deixam o carro no meio da rua a impedir o trânsito.

Parece que privatizaram tudo, a confeitaria, o café, o metro, a rua, etc. As pessoas fazem o que lhes vai na real gana pensando que estão em privado e não se preocupam com os outros. Pedir desculpa é algo que não sabem e é algo desnecessário. Quem usurpa o espaço público acha que esse espaço é dele, mas não o é.

O espaço público é de todos, se porventura se chamar à atenção que estão a incomodar, estamos sujeitos a uma resposta agressiva tipo insulto: "cale-se, se não está bem ponha-se", "está incomodado chame a polícia", " não me chateie", " meta-se na sua vida", etc.

Pois, não aprenderam com os pais nem na escola. Temos que reconquistar as boas maneiras, saber estar em público para podermos ser seres civilizados e sociáveis.

Por outro lado, os serviços públicos em Portugal deixam muito a desejar: escola pública, SNS, tribunais. Os anos de democracia foram, entre outras coisas, os de expansão e melhoria dos serviços públicos, porém, actualmente, estão em degradação e nem toda a gente tem dinheiro para ir ao privado: ter um filho num colégio privado ou ir a um hospital privado.

A única coisa que se vai mantendo assim-assim é o Estado-Providência para quem fez realmente descontos.

Empresas essenciais públicas, nas quais se acumularam muitos anos de riqueza colectiva, foram totalmente vendidas e o que pertencia a todos, serviu para enriquecer ainda mais alguns. O caso dos bancos, os correios, a electricidade, a água vai a caminho e os transportes como a CP e a TAP.

O que é publico está a desaparecer e infelizmente o que resta do que é de todos nós.

É urgente lançar com coragem e astúcia a reconquista do público, que é também o da nossa própria vida sossegada, livre e educada.

Fundador do Clube dos Pensadores

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