Ryanair e Vueling vêm a Portugal contratar mais 700
A Groundlink já selecionou perto de 8000 portugueses para trabalhar na Ryanair desde 2008. No início de julho regressa em força com 300 novas vagas para tripulantes de bordo que vai tentar preencher em Lisboa, Porto e Funchal. E não é a única - na quinta-feira, a também low-cost Vueling estará no Porto com outras 400 vagas de emprego. A Qatar já tinha vindo ao Porto, no início de junho, contratar pessoal, à semelhança do que já fizeram companhias como a Emirates ou a easyJet.
A agitar o mercado das companhias aéreas está o elevado desemprego entre jovens licenciados e a maior disponibilidade para mudar de vida. Mas os sindicatos alertam: as condições de trabalho não são comparáveis entre as várias empresas e há casos em que o candidato tem de pagar todo o processo, o que pode significar vários milhares de euros.
"As companhias low-cost europeias com base em Portugal, oferecem condições de trabalho claramente inferiores às empresas de bandeira, sem atender à proteção de acordos de empresa que vão ao encontro de melhoramentos substanciais para quem trabalha", afirmou ao DN/Dinheiro Vivo a direção do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo (SNPVAC).
Não é só. "Os tripulantes que aceitam trabalhar para a Ryanair sujeitam-se a, literalmente, investir na empresa", afirma o sindicato liderado por Amélia Luciana Passo. Primeiro são pedidos "500euro euros de fee ou matrícula de candidatura - tão-somente para serem entrevistados, sem qualquer retorno. E, se aceites pela empresa, o pagamento da sua formação a um custo de 2599 euros". Para que o curso seja feito, acrescenta o SNPVAC, são pedidos outros 700 euros de "alojamento obrigatório no centro de formação, também a cargo do candidato". Ao todo, "um total de 3799 euros" que são investidos pelos candidatos sem qualquer segurança de ficarem aprovados.
O DN/Dinheiro Vivo questionou a Groundlink, empresa de recrutamento da Ryanair sobre a política de contratação, mas não obteve resposta até ao final desta edição. A empresa adiantou, porém, que desde 2008 já realizou a seleção de 8000 assistentes e comissários de bordo e que a taxa de sucesso (aproveitamento no curso e contratação) é de 94%. Estas seleções de candidatos foram realizadas "basicamente em Portugal, mas ao longo dos anos também fizemos seleção em algumas cidades de Espanha e nos Países Bálticos".
As companhias do Médio Oriente são as que oferecem melhores condições aos tripulantes de bordo: salários em regra duas vezes acima da média das empresas europeias, despesas e alojamento pagos e, muitas vezes, contratos sem termo. Há ainda o fator impostos, que em Portugal leva praticamente metade do vencimento. Além disso, estão em forte crescimento, o que contrasta com a situação das companhias de bandeira europeias que perdem cada vez mais terreno para as low-cost.
"Emirates, Etihad e Qatar estão em expansão agressiva com aumento de frequências de rotas, acompanhado pela encomenda de aviões de grande porte, sobretudo o A380, equipamento que corresponde a dois aviões de longo curso na oferta de lugares, ditos tradicionais, já que exigem o dobro de tripulantes por unidade", explica o SNPVAC.
A isto junta-se "o facto de todas essas companhias oferecerem quatro classes a bordo, em que a 1.ª classe e, sobretudo, a extensa classe executiva asseguram lugar para inúmeros tripulantes de cabina a fim de prestar o serviço de excelência conhecido pelo mundo", o que "aumenta exponencialmente a procura de tripulantes".
No entanto, o sindicato assume que as condições laborais e as proteções no trabalho não podem ser comparadas com as oferecidas no Ocidente. "Sabemos de relatos de tripulantes que nos deixam algo surpreendidos. Contudo, reconhecemos que não se pode exigir a empresas culturalmente diferentes das europeias a aplicação dos mesmos princípios verificados na Europa".