Ruído e atropelos ou debater o país?
Passaram as festas natalícias, entrámos em 2021 e, de repente, parece que um novo estado de emergência pouco interessa. Os portugueses, em especial os que têm levado a sério as medidas anticovid, estão preocupados e querem saber se haverá um disparo do número de infetados e se estaremos perante uma terceira vaga da pandemia, após o alívio das medidas no Natal e alguma restrição no Ano Novo. Com o regresso ao trabalho e às escolas, as famílias precisam de saber com que nível de alarme devem contar. Para o efeito, os partidos políticos foram ouvidos ontem pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa acerca de um novo período de estado de emergência. À saída de Belém, as declarações dos partidos foram, no entanto, sobre a prestação de ministros deste governo. Desta vez, a polémica envolve a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, por causa da sua explicação, "lapsos" e carta a propósito da nomeação do procurador José Guerra para um cargo europeu. Antes foi Eduardo Cabrita, com o caso da morte de Ihor às mãos do SEF - e sobre o qual o DN volta hoje a dar notícia, fruto da contínua investigação jornalística -, e ainda Pedro Nuno Santos, com a polémica em redor do aumento de salários aos administradores da TAP, em plena reestruturação e despedimento coletivo.
Estamos no início de uma nova década, de um novo ano e a menos de 20 dias de eleições presidenciais. Além do combate eficaz à pandemia, deveríamos estar a discutir que país queremos, para, pelo menos, os próximos cinco anos. Questões de fundo: na Justiça, o sistema mudou, melhorou? Na Administração Interna, a brutalidade de agressões revelada pela investigação jornalística no caso SEF resolve-se apenas com uma demissão de uma diretora? Que problemas de fundo há na Administração Interna? E o que está a ser planeado para enfrentar a crise económica e social, enquanto a chamada bazuca não chega a Portugal?
Na passagem de ano, foram feitas previsões sobre os enormes desafios que há para 2021 e não paramos de discutir "lapsos" políticos, em vez de ideias para o país. Isto aplica-se aos debates das presidenciais, que se estendem até dia 12, em que os confrontos entre os candidatos pouco ou nada esclarecem em termos de uma estratégia para o futuro e, muito menos, sobre o papel do Presidente para os próximos cinco anos. Com exceções, tem-se optado pelo ruído e o atropelo. Depois, a culpa dos resultados, no dia 24, será apenas da abstenção?
Uma nota final para elogiar a Câmara Municipal de Lisboa que, por unanimidade, tornou Lisboa Menina e Moça, cantada por Carlos do Carmo, a canção oficial da cidade, no dia da despedida ao fadista.