Rui Rocha: "Não conseguimos influenciar o Presidente da República para que fale menos..."
Antigo gestor de Recursos Humanos, licenciado em Direito, 53 anos, deputado, foi escolhido para presidir à Iniciativa Liberal com a missão de lhe retirar um certo cunho elitista, pouco útil para crescer eleitoralmente. Nas próximas semanas reunirá uma convenção estatutária da IL e nesse processo continuam a ver-se as fraturas do processo interno que elegeu Rui Rocha contra Castro.
Já disse que a Efacec tem sido um sorvedouro de dinheiros públicos. Considera que a empresa não é afinal o ativo estratégico de que tem falado o Governo?
Todo este processo é um processo muito mal conduzido. Isto começou já há três anos e nessa altura o o ministro da Economia prometeu que que ia ser feita uma reprivatização rápida. O certo é que passaram três anos e o processo foi muito mal conduzido no sentido em que a promessa da reprivatização rápida não se cumpriu e não se cumpriu também a intenção de que os contribuintes não fossem chamados a suportar custos elevados. E nesta fase final é gerida com um anúncio durante um feriado, de mais 160 milhões que é necessário injetar para que depois a venda se concretize. Tudo isto é demasiado nebuloso, é demasiado dinheiro, é de facto um sorvedouro, como nós dissemos, e é por isso mesmo nós até já passamos a fase de chamar o ministro Costa e Silva [Economia] ao Parlamento para explicar. Já estamos num passo à frente e, portanto todo este processo é inaceitável.
Qual será o próximo passo?
Vamos apresentar um requerimento para que se constitua uma comissão parlamentar de inquérito à gestão deste processo da Efacec. É aquilo que hoje é desejável fazer e, portanto, eu faço aqui um desafio, não só à maioria do PS que viabilize, porque acho que há muito para esclarecer, os portugueses têm que ser esclarecidos. Mas faço também um desafio, se por acaso o PS vier a chumbar, coisa que eu espero que não aconteça, porque acho que precisamos de clarificação, faço também um desafio ao PSD, porque o PSD ao contrário da Iniciativa Liberal, tem a possibilidade depois de avançar com uma comissão de inquérito potestativa, portanto eu desafio o PSD para votar favoravelmente este requerimento da Iniciativa Liberal e se o PS chumbar, para não se acobardar neste tema e de facto para usar dos meios que tenham a seu dispor para que os portugueses possam ser esclarecidos.
Se vestisse a pele de primeiro-ministro que decisão teria tomado em relação à Efacec?
Em que momento?
No momento da sua reprivatização.
Na pele do primeiro-ministro teria obviamente deixado que o processo decorresse. Se a EFACEC não era viável a EFACEC tinha que arcar essas consequências, os seus acionistas tinham que arcar com essas consequências, e depois já haveria seguramente quem viesse a assegurar o tipo de valências que a Efacec pode ter no mercado.
Orçamento do Estado. O Presidente da República disse que não teria sido possível fazer uma proposta muito diferente. Isso não é terrível para a oposição toda, Iniciativa Liberal incluída? Não teria sido preferível que o Presidente não tivesse dito nada agora, até porque ainda não chegou a fase de promulgar ou não. Critica-lhe a verborreia?
Se há uma coisa que nós não conseguimos de alguma maneira influenciar o Presidente da República, é para que ele fale menos. Portanto isso é algo que nós já percebemos que não é possível assegurar. Já fui muito crítico dessa intervenção mas já percebemos, não é possível chegar a esse resultado que seria um Presidente da República um pouco mais conciso e um pouco mais contido.
E preferia que fosse assim?
Creio que valorizaria a função do Presidente da República se houvesse intervenções mais concisas, mais contidas, e no momento certo. Mas neste caso concreto, eu creio que a chave para entendermos esta intervenção do Presidente da República tem a ver sobretudo com a gestão tática que o Presidente e o primeiro-ministro vão fazendo de aperta e de afrouxa - aperta em determinados momentos, noutros momentos afrouxa. Entendo que o Presidente da República, apertando em determinados momentos, tem que recuar algo noutros momentos para não haver um clima de conflito permanente. Parece-me que o Presidente da República também não quer arcar com as consequências políticas desse clima de tensão permanente. Levo a esta intervenção sobre o Orçamento mais à conta dessa gestão tática do momento em que o Presidente da República tendo apertado em determinados momentos sentiu agora a necessidade de afrouxar um pouco a pressão.
No entanto, quando afrouxou o que aconteceu a seguir foi que o primeiro-ministro pôs João Galamba a encerrar o debate do OE no Parlamento. Ia pedir-lhe um comentário a isso também.
O primeiro-ministro usa o debate do Orçamento para colocar a encerrar João Galamba, sem contraditório, sem possibilidade nenhuma de contraditório dos próprios deputados, numa manobra claramente de desafio ao Presidente da República. Acho isto uma coisa inaceitável. E por um motivo simples: estávamos naquele momento a discutir o Orçamento em vésperas do mês de novembro. Um mês de novembro em que o próprio CEO do SNS veio dizer que seria um mês terrível. E, portanto, temos um primeiro-ministro preocupado com jogadas, com esta liturgia de desafiar o Presidente da República, de afirmar a sua capacidade de desafiar, quando o país está em vésperas de ter um problema seríssimo na saúde, que aliás já começou ontem, que hoje continua com dezenas de hospitais, cerca de 40 hospitais, muito limitados. O primeiro-ministro, em vez de se preocupar com a gestão do país, está preocupado em desafiar o Presidente da República. Acho que é uma má prioridade. E deixe-me dizer também relativamente a essa conduta do primeiro-ministro, que nós tivemos, se bem se lembram, ali no princípio do ano, o momento do "habituem-se". O primeiro-ministro aparece na capa de uma revista, sentado numa pose difícil de perceber, se quiserem, e diz aos portugueses, "habituem-se". Depois, seguramente, os seus assessores de comunicação disseram-lhe que aquilo não era o caminho, que não podia ter aquele tipo de arrogância, não podia passar aquele tipo de arrogância. E teve aqui meia dúzia de meses em que esteve mais contido. E agora estamos outra vez no momento em que o primeiro-ministro está convencido que é o dono do país, que dispõe do país, que desafia o Presidente da República, que desafia o país. Não se tratam só de episódios lamentáveis, como dizer, por exemplo, à Iniciativa Liberal que não representa quem trabalha, isso é absolutamente lamentável, mas não se trata só disso, nem se trata especialmente disso. Olhemos, por exemplo, para a questão do IUC. O que é isto, se não um enorme desafio aos portugueses, para além de um exemplo de enorme crueldade fiscal? O que é isto, se não esse desafio, "faça o que quero, disponho o caminho".
Mas o Governo objetivamente conseguiu ou não que este Orçamento ficasse reduzido à questão do IUC? É curto ou não é curto para a oposição?
É curto. Se tiverem reparado, no debate do Orçamento as referências ao IUC foram muito poucas por parte dos partidos da oposição e quem quis trazer o tema foi o primeiro-ministro. A Iniciativa Liberal, por exemplo, apresentou no final da semana passada a sua proposta sobre o IUC, que consiste não só em revogar o aumento de 25 euros para os carros antigos, os carros mais antigos, como reduzir mesmo o IUC, 25 euros, até o limite de 25 euros por ano, até a sua extinção. Mas vamos ser objetivos: há muito para criticar neste Orçamento e o primeiro-ministro teve aí até algum azar, porque no momento em que se discute um Orçamento aparece um número do PIB em que há, em termos, em cadeia, uma redução do PIB e, portanto, não teve muita sorte no espetáculo que queria montar que lhe dava jeito a discutir apenas o IUC. É certo, deve-se discutir o IUC, mas há muitas críticas para fazer ao Orçamento e se quiserem eu posso já enunciar um conjunto delas.
O Governo roubou, afinal, bandeiras de redução fiscal ao PSD e à própria IL. E agora?
Sobre essa última parte não é verdade.
Agora, nesta matéria, com que bandeiras fica a Iniciativa Liberal?
A Iniciativa Liberal vai apresentar propostas concretas em termos de Orçamento. E, como tem acontecido nos últimos anos, vai apresentar a proposta mais ambiciosa de redução do IRS para os portugueses. Não é verdade que [o Governo] tenha roubado bandeiras à Iniciativa Liberal. Eu compreendo esse comentário relativamente ao PSD. Vimos uma rentrée em que o PSD dizia que queria baixar impostos já, nomeadamente o IRS, e passado dois meses vemos umas jornadas parlamentares do PSD em que a mensagem que aparece é de um programa de emergência para a classe média. Divergimos completamente do PSD nessa abordagem. O que a classe média precisa é que a carga fiscal, nomeadamente o IRS, se reduza e se reduza para além daquilo que é a proposta do PSD e daquilo que é a proposta do PS. Somos muito mais ambiciosos nessa proposta. A classe média não precisa do assistencialismo, nem do PS nem do PSD. O que precisa, primeiro, é que o país cresça, e isso o PS não está a conseguir fazer, e a classe média e os escalões muito baixos de rendimento sejam libertados desta carga fiscal que oprime e tira rendimento aos portugueses.
Essa proposta ambiciosa, o que é que pode ser?
Mais uma vez, o PS e o PSD apresentaram propostas menos ambiciosas em termos de valor de desagravamento. A Iniciativa Liberal vai apresentar uma proposta mais ambiciosa, como digo, e vai apresentar uma proposta para todos.
Para os escalões todos?
É sobretudo para todos.
Não fica no quinto?
É sobretudo para todos. Neste sentido, o PS e o PSD, por exemplo, agora estão a direcionar as suas propostas de desagravamento, por exemplo, para os jovens. E aquilo que nós dizemos é, deve ser para todos. Deve ser para os jovens, deve ser para as pessoas de meia-idade, deve ser para os idosos. Um jovem não se preocupa só com os seus primeiros anos de trabalho, preocupa-se com aquilo que pode ser a construção da sua vida, da sua família, da sua presença. Não faz nenhum sentido, a não ser por taticismo político puro e duro, fazer aqui dos jovens um objetivo mas depois, passado uns anos, as pessoas acordam, um dia já não são tão jovens, olham para o país e dizem que caíram numa armadilha. A Iniciativa Liberal não faz armadilhas, muito menos aos jovens, mas não faz armadilhas aos portugueses. Aquilo que nós vamos apresentar é uma proposta ambiciosa, dirigida a todos, que não vai distinguir entre jovens e menos jovens.
Vamos falar ainda de jovens outra vez. O mercado da habitação disparou nos preços. Imaginemos um estudante pobre de Trás-os-Montes que quer ir estudar Medicina para Lisboa ou para o Porto, tendo até notas para isso, mas que depois não consegue porque não tem dinheiro para pagar um quarto porque os custos enlouqueceram. Como é que explica as virtualidades do liberalismo e do livre mercado a um jovem que tenha este problema de se ver impossibilitado de ter futuro porque não tem dinheiro para pagar um quarto?
O problema é de tal ordem que, de facto, é um problema para esse jovem concreto que citou, mas é um problema para todos, para jovens e para menos jovens. Mas temos que ter primeiro uma visão sobre qual é a origem do problema.
E qual é a origem?
É claramente a falta de oferta. Temos construído e licenciado nova construção nos últimos anos a um nível muitíssimo baixo.
Um liberal dirá apenas que isso é resultado de uma economia fraca.
Há propostas liberais para fazer. Apresentámos em setembro um programa que chamamos Habitação Agora, que tem um conjunto de propostas muito claras e que seriam essenciais para dinamizar a oferta.
Quer dar aqui um exemplo para perceber o que estamos a falar?
Se olharmos para o mercado de construção, nós hoje ainda temos taxas de IVA para a construção a um nível de 23%.
Então o que faria? Baixaria o IVA para a construção da habitação?
O IVA da construção, naturalmente, porque não podemos ter um discurso que diz que a habitação é um bem essencial e depois ter uma taxação, impostos que tratam a habitação como um bem de luxo. Isso não é aceitável. Mas temos ainda mais uma proposta nesta matéria. Atualmente, continuamos a pagar IMT quando fazemos a aquisição da habitação própria. É o imposto que António Guterres já disse que é o imposto mais estúpido do mundo. Entretanto, passaram 20 anos e os portugueses continuam a pagar o imposto mais estúpido do mundo. Por exemplo, Rocha Andrade [1971-2022], secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do PS durante um período e um grande académico, também se pronunciou sobre esta matéria com uma clara indicação de que este imposto não fazia sentido. Qual é a consequência do IMT na aquisição da habitação própria e permanente? É que a habitação já é cara, mas quem está a comprar, muitas vezes jovens, que já têm dificuldade em ter financiamento porque os bancos, obviamente, não financiam todo o esforço que é necessário, têm ainda que pagar uma percentagem alta sobre o preço de IMT. Não faz nenhum sentido que este imposto mais estúpido do mundo continue a existir 20 e tal anos depois do diagnóstico feito por António Guterres. Isso baixaria o custo da habitação.
Mudando de assunto. A IL já começou a dizer, com enorme antecedência, que não quer o Presidente Lula no Parlamento nos 50 anos do 25 de Abril. E como é que responde a quem lhe pergunta, a partir de que momento é que se tornou importante para a Iniciativa Liberal, roubar bandeiras ao Chega? Porque a questão de contestação ao Lula no Parlamento foi objetivamente uma grande bandeira do Chega com aquele espetáculo que se conhece. De onde vem necessidade?
Não há nenhuma necessidade nesse aspeto. Devo-lhe dizer que a IL tem uma visão liberal, de liberdade, para Portugal e para todo o mundo. Temos sido nós que temos recorrentemente levantado as questões dos regimes da China, nomeadamente no que diz respeito às tradições para Hong Kong e para territórios chineses. Portugal é o único país da União Europeia que mantém a extradição para a China e temos lutado para que isso não aconteça.
Estamos a falar do Brasil.
Mas eu vou falar de tudo.
O Brasil é uma democracia.
Porque isso insere-se...
É uma democracia, não é?
Sim, sim, insere-se nessa perspetiva. Mas fomos o primeiro partido a participar em manifestações pela Ucrânia, pela liberdade e queremos liberdade em todo o mundo. E quando estamos a falar sobre a presença de Lula, não estamos a falar de uma presença de um Lula qualquer, estamos a falar de presença de Lula na cerimónia, era essa a ideia inicial, comemorativa do 25 de Abril. Estamos a falar, já não, da liberdade na China, da liberdade da Ucrânia, estamos a falar da liberdade em Portugal. Sobre a vinda de Lula fomos o primeiro partido a dizer que estávamos contra essa participação. Isso foi uma tentativa de dividir os portugueses, da mesma maneira que há uma tentativa de dividir os portugueses quando se nega a comemoração do cinquentenário do 25 de Novembro. Queremos celebrar a liberdade, a nossa liberdade, em todo o mundo e em todos os momentos que merecem liberdade. Essa é uma bandeira da Iniciativa Liberal.
Portanto, vêm cá os Chefes de Estado da lusofonia quando forem os cinquenta anos do 25 de Abril, mas há um que a Iniciativa Liberal não quer.
Eu não sei se há apenas um.
Ou também que não quer o Presidente angolano, por exemplo, ou o Presidente de Moçambique.
Não sei se há apenas um, é isso que eu estou a dizer. O que nós entendemos é que Lula da Silva, naquele momento, tinha um conjunto de declarações que aliás veio a repetir posteriormente, e que deram razão à Iniciativa Liberal, em que manifestamente aquilo que é uma posição quase unânime em Portugal, que é a defesa da Ucrânia, estava a ser posta em causa. Se houver insistência na presença de Lula da Silva na cerimónia do cinquentenário do 25 de Abril, nós estaremos contra, assim como estaremos contra qualquer outro...
E o que é que ele fará além de estar contra? Não estará presente?
É uma questão a ver, mas seguramente nos pronunciaremos naquela altura...
Mas admite não estar presente nesse momento?
Admitimos, admito todas as possibilidades e portanto, mas seguramente será contra a visão que ele tem, que pessoas que não defendem a liberdade estejam presentes no dia da liberdade.
Mas sabe que a liberdade é a liberdade de Lula dizer coisas contra as quais o senhor pensa, não é? Ele tem a liberdade de não concordar consigo.
Tem toda a liberdade.
Além de ser um Presidente eleito.
Aliás, sim, mas o meu problema não é nada disso. A mesma posição a Iniciativa Liberal teria, e isso creio que nos distingue de alguns partidos, teríamos exatamente a mesma posição se estivéssemos a falar de Bolsonaro. Também tomou posições pró-Rússia e nós estaríamos exatamente na mesma posição. Isso distingue-nos claramente de outros partidos.
A última sondagem DN/JN/TSF, feita pela Aximage, dá o Bloco de Esquerda a ultrapassar a Iniciativa Liberal. Como é que lê estes sinais?
Olhamos para as sondagens como elemento de reflexão, mas olhamos como tendência. Não olhamos para os resultados concretos.
Ficou preocupado com o que viu?
Não, não fico preocupado e aí vamos à questão da tendência. Eu acho que há duas mensagens fundamentais como tendência do conjunto de sondagens que saíram nos últimos tempos. Por um lado, é a erosão clara do PS. O PS perde uma parte significativa do seu eleitorado. Por outro lado há um claro crescimento da Iniciativa Liberal face aos resultados que teve nas eleições legislativas de 2022. Depois esse crescimento, numas sondagens é mais pronunciado e noutras é menos, mas a tendência que nós podemos tirar é que, havendo hoje eleições, a Iniciativa Liberal teria uma melhor votação do que teve em janeiro de 2022. Não olhamos nem com entusiasmo para aquelas sondagens que nos colocam acima de outros partidos e que nos dão valores mais altos, nem com preocupação para aquelas que nos dão abaixo de algum partido ou com crescimentos menos pronunciados. Olhamos para isto como indicação, como tendência, e na tendência a Iniciativa Liberal está a crescer, em alguns casos de forma mais forte, em outros casos de forma um pouco menos pronunciada. Mas há uma clara tendência de crescimento, por um lado, e há uma clara erosão da capacidade eleitoral do PS. São esses dois dados que eu tiro.
Há um núcleo do partido que tem tido maior visibilidade, o de Leiria, precisamente, e que usou imagens feitas por inteligência artificial e histórias também fictícias sem o assinalar. Parece-lhe um caminho correto na forma de comunicar com os portugueses?
Comparo essa forma de comunicação com aquilo que aconteceu, por exemplo, com o PS na campanha eleitoral de 2015: o PS utilizou um conjunto de cartazes, na rua, atribuindo determinadas histórias a determinadas pessoas e veio-se a comprovar que essas histórias não eram verdadeiras. Acho que estamos a falar de coisas completamente diferentes, porque é óbvio naquela comunicação que é uma comunicação, precisamente, feita com inteligência artificial.
Mas não admite que os portugueses se sentem enganados com este tipo de comunicação?
Não me parece que seja o caso, porque estamos, precisamente, a falar de algo em que é óbvio que se trata de inteligência artificial e, portanto, por natureza, tratando-se de inteligência artificial, as pessoas sabem que aquela pessoa não existe. Trata-se de um avatar, se quisermos.
Mas, se bem me recordo, não está assinalado que o é.
Pois, mas é o que eu digo, é tão evidente que se trata de inteligência artificial que não creio que haja essa leitura de possibilidade de engano, ao contrário daquilo que acontecia, por exemplo, na comunicação do PS, em que se imputava aquela pessoa concreta, com o rosto real, uma história de vida, que não era a história de vida que lhe competia.
Quando é que a IL vai ter um cabeça de lista ao Parlamento Europeu? Qual seria a sua escolha, se fosse dependência inteiramente de si? João Cotrim Figueiredo, Rui Moreira?
A IL terá um candidato até o fim do ano, um cabeça de lista. Neste momento é uma discussão que está a ser feita dentro do partido, já não faltará muito tempo para essa discussão estar concluída. Posso-vos garantir que será um membro da Iniciativa Liberal. Excluímos qualquer outro tipo de soluções e de nomes que possam não corresponder a esse perfil de candidato.
E qual é a meta da Iniciativa Liberal nessas eleições?
Temos feito um caminho nos diferentes Parlamentos onde estamos representados. Começámos com um deputado em Portugal, no Parlamento nacional, depois crescemos para oito. Depois, antes disso, elegemos o primeiro deputado regional aos Açores, agora elegemos o primeiro deputado regional à Madeira e, portanto, o objetivo da Iniciativa Liberal é, num primeiro momento, estar presente em todos os Parlamentos e depois, num segundo momento, que é aquele momento em que estamos já a nível nacional, mas não estamos nos outros Parlamentos, fazer um crescimento com base nessa primeira eleição. Um ótimo cenário é elegermos o primeiro deputado da Iniciativa Liberal ao Parlamento Europeu, o mau resultado seria não ter essa eleição.
Mas é uma fasquia baixinha, quer dizer, eleger um.
Não, é uma fasquia realista.
Apoiaria uma candidatura presidencial de Pedro Passos Coelho?
Eu não me vou pronunciar sobre presidenciais por uma questão muito simples. Como presidente da Iniciativa Liberal, o meu mandato termina em princípios de 2025 e portanto é absolutamente extemporâneo eu estar a comprometer o partido neste momento com determinada visão e determinado compromisso.
Poderá a IL voltar a ter o seu próprio candidato?
Não me vou pronunciar diretamente sobre candidatos. O que vou dizer é que a Iniciativa Liberal tem apresentado listas autónomas e candidatos autónomos e quase sempre novas caras.
O cidadão Rui Rocha vê João Cotrim de Figueiredo como uma hipótese dessa candidatura?
Eu diria que João Cotrim de Figueiredo é um excelente candidato a várias coisas...
Tiago Mayan foi o candidato da IL nas últimas presidenciais e agora protagoniza com outros militantes do partido uma proposta de alterações estatutárias que vai ser discutida numa convenção nacional nas próximas semanas. Já houve quem falasse, sobre a proposta de alterações estatutárias formulada pela direção, que está na iminência a criação dentro da IL de um "regime totalitário, como o PC ou o Chega", o que são acusações gravíssimas. Parece que as fraturas do último congresso nunca mais acabam...
Há uma incorreção: não é uma proposta da direção, é do Conselho Nacional da Iniciativa Liberal. Mas há uma questão que resolve, na minha opinião, definitivamente essa questão: os membros da Iniciativa Liberal vão ser chamados a votar esta proposta de revisão dos estatutos e as outras propostas de revisão dos estatutos, sejam elas globais, sejam pontuais, numa convenção plenária, portanto todos os membros da Iniciativa Liberal vão poder votar estas propostas. Pergunto qual é o partido que tem um processo tão participativo, tão aberto e tão livre em que isto é votado numa convenção presencial ou online, de forma absolutamente aberta, em que todos os membros da Iniciativa Liberal podem participar. Os estatutos da Iniciativa Liberal serão aquilo que os seus membros desejarem, manifestando-se pela maioria necessária para aprovar uma nova versão dos estatutos. Se isto não é democracia ao seu melhor nível, eu pergunto o que será.
Descarta em absoluto uma aliança pré-eleitoral com o PSD para as próximas legislativas?
Não é uma possibilidade para a Iniciativa Liberal. Na minha moção de estratégia está uma clara indicação sobre a posição que esta Comissão Executiva tem sobre esse ponto. Nós iremos a legislativas, sejam elas quando forem, de forma autónoma, com listas próprias e com as nossas próprias ideias. Isso é muito bom para a Iniciativa Liberal, porque temos coisas diferentes a dizer ao país.
Sentiu-se traído com a escolha do PAN pelo PSD para uma aliança na Madeira?
Não, não, de todo. Essa escolha do PAN pelo PSD Madeira é uma escolha legítima que o PSD Madeira fez. Agora, o que me parece é que eleitores do PSD e eleitores do PAN, e eleitores do CDS, esses sim se sentiram traídos e que essa discussão foi uma discussão difícil para as direções de ambos os partidos dentro dos próprios partidos. A Iniciativa Liberal fez o que tinha a fazer, tinha que dar oportunidade de uma solução estável, porque seria melhor para os madeirenses ter essa solução estável do que não a ter. E nós manifestamos essa disponibilidade. Não temos mais nada a dizer sobre o tema.
A Iniciativa Liberal rompeu o acordo com o PSD nos Açores. Como vai a Iniciativa Liberal votar o Orçamento regional? O Presidente do Governo Regional já disse que tem condições para se manter na presidência do Governo mesmo com o Orçamento chumbado. Que intervenção é que advoga para o Presidente da República?
Sobre a questão dos Açores, há um princípio que nós temos no partido e que cumprimos, que é o princípio da autonomia dos nossos núcleos. Nós temos o nosso núcleo dos Açores, temos o nosso deputado regional. Ele está neste momento a fazer a avaliação do Orçamento e eu não vou substituir a avaliação que quer o deputado regional, quer o núcleo regional farão. A Iniciativa Liberal será mais uma vez responsável e votará em função do sentido de responsabilidade do que o sentido de responsabilidade lhe ditar.