Rui Rio: Governo PSD "não vai destruir tudo o que os outros fizeram"

O discurso de Rui Rio no encerramento do 39º Congresso do PSD foi marcado por muitas críticas à governação do Partido Socialista em áreas como a Educação, a Saúde e o Ambiente. E deixou algumas pistas para o programa eleitoral social-democrata.
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Rui Rio chegou à sala onde se realiza o 39º Congresso do PSD debaixo de aplausos para fazer o discurso de encerramento da reunião magna do partido.

O presidente do PSD começou a sua intervenção dizendo que tem gosto por Paulo Mota Pinto continuar a ser presidente da Mesa do Congresso, saudando os novos eleitos e os que cessaram funções. Bem como todos os delegados, observadores e convidados.

"Encaro com muito relevante o diálogo entre partidos políticos. O entendimento quando possível é sempre melhor", diz Rio. "Existimos todos para servir Portugal, apenas nos distinguimos na forma de o fazer. Pelo que defendo que sempre que o entendimento é possível, ele é, obviamente, preferível à discórdia e à mera tática partidária de curto prazo".

Rui Rio lembra que Portugal vai a eleições a 30 de janeiro na sequência do "esgotamento de uma solução política de má memória" encabeçada pelo PS e assente na esquerda.

"De má memória, porque a sua principal marca identitária era a de uma permanente aposta no presente e a de um notório desprezo pela construção de um futuro melhor e mais sólido para o nosso País", refere o líder social-democrata.

O presidente do PSD recorda que a Europa estava a crescer antes da pandemia e que "o governo da denominada geringonça optou sempre por distribuir tudo o que esse crescimento facultava".

"Os larguíssimos milhares de milhões de euros que esta conjuntura permitiu pôr à disposição do governo, foram, porém, todos delapidados com o claro objetivo do PS de conseguir obter a aprovação dos seus Orçamentos do Estado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda", prossegue Rio.

Lembrando a governação de Passos Coelho, Rui Rio recordou que "mergulhados em governações socialistas, fomos, primeiro, obrigados a chamar a troika, para evitar a bancarrota a que essas governações tinham conduzido".

Saltando para o presente, Rui Rio defende que o atual momento está a ser usado a "desperdiçar um período de expansão económica, que, não tendo sido histórico, não deixou de ter sido mais uma oportunidade perdida na construção de um país mais próspero e mais competitivo".

"Em tempo de covid-19, fomos dos países que menos apoiou as empresas e as pessoas. Foi assim, porque antes não houve a capacidade e a vontade política para robustecer a economia, em lugar de gastar e de esbanjar. Não houve verbas com sentido estratégico para incrementar o investimento público, nem para apoiar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas, que são o grosso do tecido empresarial português, mas não faltou dinheiro para o Novo Banco, para a TAP ou para perdões fiscais à EDP".

Rui Rio prossegue referindo que governo de António Costa fica marcado por "falta de rigor e excesso de facilitismos", com discursos diferentes para fora e para dentro. "Em Bruxelas era casado com o rigor financeiro. Em Portugal vivia em união de facto com a geringonça. É isto, que tem de acabar", acusa.

Na opinião do presidente do PSD é essencial "dizer a verdade aos portugueses": "Menorizar o marketing e ser frontais, rigorosos e verdadeiros".

Rio fala também do Ministério da Administração Interna e dos escândalos protagonizados por Eduardo Cabrita, afirmando que a permanência de Cabrita no cargo foi "culpa de António Costa ". "É certo que o desempenho do ministro Eduardo Cabrita foi absolutamente desastroso, como desastroso foi o prolongado e cúmplice apoio que o primeiro-ministro lhe deu durante tanto e tanto tempo. Mas já antes, a ministra Constança Urbano de Sousa tinha tido notórias dificuldades em se adaptar a uma função que exige saber aplicar com bom senso o rigor, a autoridade e a disciplina".

Em democracia "não há facilistimos", prossegue Rio.

"É uma vergonha nacional a morte do cidadão ucraniano à guarda do SEF, mas é também motivo de grande preocupação a desorganização, a permissibilidade e a fraca operacionalidade para que o SEF foi lançado por este Governo", nota Rio

O líder do PSD falou também da Educação, dizendo que as políticas do governo "nos últimos seis anos é o melhor exemplo do que não deve ser feito". O que levou um agravamento "das desigualdades educativas".

Rio refere mesmo que "esquerda unida tudo fez para mudar o que o governo anterior", liderado por Passos Coelho, obteve. "Adotar e dar continuidade a um conjunto de políticas que contribuíram para que os alunos portugueses tivessem obtido em 2015 os melhores resultados de sempre nos testes internacionais".

"Acabaram com as provas finais de ciclo, aligeiraram o currículo, definiram um perfil do aluno em que o conhecimento e a disciplina passaram a letra morta, desautorizaram os professores, desinvestiram na escola pública, desprezaram o ensino profissional, ignoraram a educação de infância".

Falando sobre os professores, o presidente do PSD lamenta que não tenham a "dignidade e as condições de trabalho" que merecem.

E aponta para o que fará, se for eleito primeiro-ministro a 30 de janeiro. "Um governo do PSD terá de dar uma especial atenção aos professores, desde a sua formação inicial, até ao seu recrutamento e profissionalização. Temos de tornar a profissão mais atrativa para os jovens. Se não o conseguirmos, vamos enfrentar no futuro uma grave carência de professores".

"Considerá-los todos como iguais é, neste como em todos os demais setores da nossa sociedade, não só desvalorizar o mérito e a competência, como ignorar um elemento absolutamente decisivo para o sucesso, que é o brio profissional", disse.

A saúde foi o tema seguinte focado por Rui Rio no seu discurso, com o presidente do PSD a dizer que o Serviço Nacional de Saúde está "novamente fragilizado". "O SNS não está a dar resposta satisfatória às necessidades das pessoas", prossegue Rio.

"O PSD não pode deixar o Serviço Nacional de Saúde à sua sorte, e, muito menos, seguir a mesma lógica da esquerda mais radical, que, proclamando querer salvá-lo, apenas tem contribuído para a sua degradação", refere o líder do PSD. E aponta para a necessidade de uma "reforma que coloque verdadeiramente as pessoas em primeiro lugar".

"Portugal precisa, também, de uma política de saúde que aposte mais na adoção de estilos de vida e de nutrição saudáveis e que atue para além da simples reação à doença", vaticina, "ao contrário de um ministério que tem sido doença".

Passando para o Ambiente, Rui Rio afirma que esta é uma área de "importância estratégica absolutamente decisiva". "Portugal tem condições únicas para ser um país de referência em matéria de sustentabilidade ambiental e energética. O sol, o vento, a floresta, os rios e o mar, que temos em quantidade, são todos eles, elementos fundamentais para a descarbonização que temos de prosseguir. Não nos falta competência científica e tecnológica em universidades e politécnicos de referência. Temos um tecido empresarial resiliente e inovador. E temos experiência, e até erros cometidos no passado, que nos podem colocar num patamar de elevada maturidade", refere o presidente do PSD.

Na visão de Rui Rio, os socialistas falharam vários dos objetivos a nível ambiental, nomeadamente no "incumprimento das metas europeias para eficiência energética, para a separação de bioresíduos, para a utilização dos biocombustíveis e para o fomento das próprias energias renováveis". "Teve uma inércia incompreensível no dossier da concessão das redes de baixa tensão e, no âmbito do PRR, apresentou um investimento nulo para o combate à erosão costeira".

Nesse sentido, Rui Rio promete, caso venha a liderar o próximo governo, concretizar "um plano nacional descentralizado envolvendo todos os municípios portugueses e premiando, em sede de transferências do Estado, o seu contributo para a neutralidade carbónica".

Outros dos objetivos será "reduzir a circulação de automóveis com motor térmico nos centros urbanos e neles construir novos espaços verdes".

Rio defendeu também a necessidade de combater "os interesses instalados" no Ambiente, "sempre que estes forem incompatíveis com o interesse público maioritário". "O clima do monopólio há décadas impera no nosso país", afirmou.

Rui Rio garantiu que "Portugal precisa de um novo governo" e avançou com a necessidade de levar a cabo uma política económica apoiada "no desenvolvimento tecnológico e criando condições para o aumento da produtividade, e, consequentemente, dos salários". Prosseguiu dizendo que pretende "mais e melhores empregos para os portugueses", mas ao mesmo tempo dizendo que tem de haver uma política que não prejudique "sistematicamente a tarefa das empresas que criam riqueza".

"Não é aceitável um País com a sua classe média sufocada em impostos e em que o seu salário de referência pouco se distingue do mínimo em vigor".

Já em jeito de conclusão, Rui Rio garantiu que, se vencer as legislativas de 30 de janeiro, o seu governo "não vai desfazer tudo o que os outros fizeram".

"Precisamos de um novo governo com coragem para levar a cabo as reformas que nos diversos setores da nossa vida coletiva se apresentam como necessárias. Um novo Executivo que se distinga da governação socialista que, durante os últimos seis anos adiou o país", refere Rui Rio, acusando o PS de ter uma "confrangedora falta de coragem para enfrentar os reais problemas de Portugal".

"Somos um partido reformista. Não vamos fazer nenhuma revolução, nem vamos destruir tudo o que os outros fizeram", garantiu Rio.

Para o final, o presidente do PSD deixou uma citação de Winston Churchill, afirmando que "um homem com convicção pode superar uma centena de outros que apenas têm opinião".

"É essa convicção que queremos transmitir a todos os nossos compatriotas", refere. "Portugal não pode estar condenado à estagnação, nem a ser um parente cada vez mais pobre da União Europeia".

"Cumprir Portugal é, no futuro próximo, superar a estagnação e criar condições para a melhoria sustentada das condições de vida dos portugueses", declara Rio Rio, terminando com a seguinte mensagem: "Temos de acreditar que o Portugal do século XXI, pode voltar a ser grande. Tão grande quanto a dimensão da sua História".

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