Rui Moreira reverte decisão de retirar estátua de Camilo do Largo Amor de Perdição
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, recuou esta sexta-feira na intenção de retirar do Largo Amor de Perdição a estátua "Amores de Camilo", porque a sua doação e instalação naquele espaço foram aprovadas pela autarquia em 2012.
"Ao contrário da informação que estava na posse do presidente da Câmara do Porto, a doação [da estátua] previa também a colocação da estrutura no Largo Amor da Perdição, doação essa que tinha sido aprovada pelo Executivo Municipal em 2012", refere nota da autarquia à Lusa.
Esta manhã, Moreira havia afirmado que iria, por decisão própria, retirar aquela estátua de Francisco Simões do Largo Amor de Perdição por considerar a mesma "feia e de mau gosto" e na sequência de uma petição com 37 signatários, entre os quais artistas, advogados, curadores e políticos, conforme noticiou o jornal Público na quarta-feira.
A 23 de outubro de 2012, a Câmara do Porto, então liderada por Rui Rio, aprovou chamar "Amor de Perdição" ao largo fronteiriço da Cadeia da Relação e aceitar a doação da estátua "Amores de Camilo", de Francisco Simões, para a colocar na Rua da Cadeia da Relação.
"Neste contexto, não pode o Presidente da Câmara anuir, sem mais, ao que foi solicitado, pelo abaixo-assinado, que é do conhecimento público", acrescenta a nota desta sexta-feira da autarquia.
Segundo a câmara, tal não impede que "futuramente, e em qualquer momento, o assunto possa a vir ser suscitado no mesmo órgão municipal".
Camilo Castelo Branco escreveu "Amor de Perdição" em 1862, cerca de dez anos depois de sido preso na Cadeia da Relação, acusado de cometer adultério com Ana Plácido.
Durante a manhã, Rui Moreira havia explicado a decisão de retirar a estátua. "É uma decisão minha. Há coisas em que tenho de ouvir os órgãos, há coisas em que tenho de ouvir a população, há coisas em que tenho de decidir quando sei que há posições extremadas dos dois lados. Aqui há quem queira e quem não queira [retirar a estátua do largo], as pessoas que se dirigiram a mim sobre esta matéria são pessoas por quem temos de reconhecer que têm o mérito de se atravessarem por isso", afirmou.
O edil portuense havia afirmado que a decisão de retirar a estátua surgiu na sequência da carta que recebeu, que tem entre os signatários "os dois maiores críticos de arte da cidade do Porto", referindo-se a Bernardo Pinto de Almeida e Miguel Von Hafe Pérez.
"Essas pessoas refletem um sentimento relativamente aquela estátua que corresponde ao meu. Não é por nenhum puritanismo, não é por ser pornográfico, não entendo isso assim. Temos a menina nua e vamos continuar a ter. Se me perguntar, acho que aquilo, de facto, é feio, é de mau gosto, e esta é, de facto, uma decisão do presidente da câmara", observou.
"Não vamos demolir a estátua, não vamos derreter a estátua. Ela sairá dali e amanhã pode vir outro presidente que queira por lá a estátua outra vez", referiu, quando anunciou a retirada da estátua.
Entretanto, surgiu outra petição contra a remoção da estátua, que contava esta sexta-feira pelas 13:00 com 3525 subscritores.