Rui Jorge Rego: "É preciso exportar a marca Sporting"

É advogado e no mandato de Godinho Lopes foi secretário da assembleia geral da SAD. Aparece agora com um projeto que aponta ao mercado chinês e brasileiro. Roberto Carlos é o rosto principal no objetivo de captar grandes jogadores e lançar os leões no mercado mundial.
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Rui Jorge Rego, 46 anos, tem a sua vida de advogado "em suspenso" à espera do resultado das eleições do Sporting. O candidato da lista E é um autêntico cidadão do mundo, pois é filho de pai nascido em Goa (Índia) e mãe natural de Espinho, mas foi em Luanda que veio ao mundo, tendo entre os 2 e os 8 anos vivido no Brasil, antes de chegar a Portugal, onde vive atualmente, mais concretamente na Portela de Sacavém. Estas raízes talvez expliquem um pouco a base do seu projeto para o Sporting: a internacionalização.

Quando rebentou a crise em Alvalade, com a destituição de Bruno de Carvalho, estaria longe de se imaginar candidato, até porque, conforme assumiu ao DN, "não foi um processo automático", razão pela qual foi o último a apresentar-se. "Fui estabelecendo alguns contactos e percebi que tinha dois parceiros estratégicos que ajudariam o Sporting na vertente financeira imediata e na construção de um plantel mais forte", revelou, assumindo que a ideia inicial era disponibilizar o seu projeto para "candidatos e putativos candidatos", mas "não houve qualquer conclusão" nas várias conversas que teve.

"Depois de o projeto estar montado acabou por ser natural a minha candidatura", explica, considerando que "o Sporting não pode desperdiçar" aquilo que apresenta a sufrágio dos sócios leoninos. "A hipótese de ter parcerias estratégicas com o Brasil, a China, obviamente com Angola, criando esta ponte que apanha os países de língua oficial portuguesa, é um mundo de potencialidades que o Sporting não pode nem deve descurar", sublinha, lembrando mesmo os "erros históricos" do clube, e um deles vem logo à sua memória: "Não tivemos o José Mourinho como treinador por causa dos adeptos..." E, nesse sentido, diz que "tem de haver mais racionalidade" na gestão.

O primeiro impacto familiar foi "muito mau"

A decisão de avançar com a candidatura teve uma primeira reação negativa em casa. "A primeira reação da minha mulher foi má, muito má", assume com uma gargalhada... "Ficaram incrédulos a olhar para mim", revela, mas depois aceitaram naturalmente. "Conversámos e a minha mulher deu-me depois todo o apoio e os meus filhos acabaram por achar a ideia muito gira", acrescenta, considerando "essencial" esse suporte familiar, porque "não imaginava que a vida pudesse mudar tanto".

Além da família, Rego diz ter procurado o conselho de "muita gente" antes de anunciar que iria avançar, entre os quais os amigos e o seu irmão. "Isto não é uma coisa que se faça facilmente. Há sempre a análise dos prós e dos contras, mas todos me deram força. Ninguém me disse: não vás. Todos disseram para avançar porque tinha capacidade, competência, seriedade, honestidade, ponderação e que o Sporting só tinha a ganhar. E isso foi importante na minha decisão", revelou.

Há, no entanto, algo que o preocupa num futuro próximo e que se prende com os filhos. "Até agora têm estado protegidos, mas quando a escola começar vamos ver como será a reação das pessoas pela exposição que tenho tido nos últimos tempos." Mas na altura em que recebeu o DN, na casa de férias na Aroeira, a preocupação era a de dar "um ambiente mais relaxado" à família numa altura em que teve de abdicar dos seus dias de descanso por causa da campanha eleitoral: "Mudei-me para aqui com os meus filhos e a minha mulher porque é uma forma de estarem comigo perto de Lisboa, num ambiente de férias."

Apesar de se ter tornado mais conhecido, Rui Jorge Rego garante que isso "não irá mudar" a sua vida e o seu comportamento. "Para mim, é uma novidade sair à rua e ter as pessoas a olhar para mim, uns a dizer olá e outros a dizer seu isto ou aquilo", conta, embora garanta que para si "é normal lidar com as pessoas" na rua porque é algo que sempre fez e que adora fazer, até por causa da sua anterior experiência no desporto: "Já fui diretor desportivo de um clube de futsal, o Portela, e nessa altura quando ia ao café as pessoas abordavam-me para falar do clube."

Não perder o comboio europeu

Se for eleito, Rui Jorge Rego poderá servir o Sporting pela segunda vez, depois de ter sido secretário da assembleia geral da SAD durante o mandato de Godinho Lopes, um cargo de pouca visibilidade mas que foi "uma honra". Agora, a motivação de ter um cargo de maior responsabilidade em Alvalade é "acreditar que o Sporting não pode perder esta oportunidade de ter um projeto" que o orgulha.

"Percebi que se não o apresentasse aos sócios ele não ia ser submetido a sufrágio. Houve gente que me disse que o projeto era bom mas que não era o momento, contudo, não consegui resistir a este chamamento", revela, enquanto aponta para o futuro que em sua opinião não será muito longínquo. "Estou cansado de ver o Sporting querer um jogador e não ter oito ou dez milhões para pagar. Temos de mudar este modelo porque o futebol está a mudar, se o Sporting não apanha o comboio da I Divisão europeia pode vir a ter um problema no futuro", explica.

O candidato da lista E está bastante preocupado com uma Europa do futebol em que os ricos estão cada vez mais ricos. "As regras internacionais estão a cavar o fosso", diz e explica a sua teoria: "Na Liga dos Campeões dão dinheiro à elite para que as equipas sejam mais competitivas, se nós não estivermos nessa elite temos um problema sério e toda a gente concorda comigo." E é tendo em conta este pressuposto que lança uma crítica aos outros candidatos, em jeito de desabafo: "As soluções que vejo os outros apresentarem são fazer um balneário mais forte, dizer que sou muito bom, que conheço isto e aquilo, que sou um líder nato e que agora vai ser diferente... mas nós temos 40 anos disto!" É por isso que quer um novo Sporting, mais robusto financeiramente porque "é verdade que a equipa mais fraca pode ganhar à mais forte, mas é uma ou duas em dez ocasiões".

Roberto Carlos essencial na expansão da marca

A aposta num nome grande do futebol mundial como é Roberto Carlos é o sinal de grandeza que Rui Jorge Rego quer para o seu Sporting. O antigo internacional brasileiro vai ter "um papel importante nas contratações" e explica porquê: "Quando é o Roberto Carlos a convidar um jogador para o Sporting, a conversa é logo diferente, afinal trata-se de um ídolo à escala mundial."

Além da facilidade de chegar aos grandes jogadores que o candidato da lista E pretende ver em Alvalade, a antiga estrela brasileira abre outras portas ao Sporting e é isso que exemplifica ao revelar a sua experiência recente. "No dia seguinte a anunciar o Roberto Carlos já tínhamos três clubes a querer falar connosco, e é isto que é preciso entender. Clubes turcos, árabes e investidores. Ou seja, já havia muitas pessoas a querer falar com o Sporting", revela. "Esta é uma forma de o Sporting poder expandir a sua marca", sublinha, lembrando que Portugal "é um mercado pequeno e tem uma capacidade económica reduzida no espaço europeu", razão pela qual defende que "é preciso exportar". "Temos de fazer parcerias... o mundo mudou", avisa.

A palavra-chave é, pois, "parcerias" e, como faz questão de defender, "em várias áreas". "No scouting, no merchandising, no e-comerce e noutra coisa que pode parecer desumana, mas com a qual o Sporting pode ganhar muito dinheiro: se formos buscar miúdos à III Divisão brasileira por 300 ou 400 mil euros e os trouxermos, quando eles vestirem a camisola do Sporting, sendo um clube formador, podem passar a valer três ou quatro milhões", enumera, deixando mais um aviso: "Esta é a realidade e o Sporting tem de olhar para isto. Não podermos menorizar o clube, temos de ter parcerias com clubes brasileiros, chineses e todas as instituições de onde o Sporting pode retirar rendimento."

Dois ou três reforços já em janeiro

E todo este projeto será alavancado por um investidor brasileiro, Júlio Brant, o ex-candidato às eleições do Vasco da Gama, que garante um investimento de 120 milhões de euros. E a prioridade é "comprar jogadores" para a reabertura do mercado, em janeiro, pois "o plantel vai precisar de dois ou três jogadores".

Ainda assim, Rui Jorge Rego não descura as questões financeiras que afetam o Sporting. "Temos 33 milhões de euros de dívidas a fornecedores e outros, é assim que está no relatório e contas, que estão vencidas e precisamos de regularizar. Além disso, temos um descoberto bancário de perto de 29 milhões de euros, que também temos de regularizar. É preciso renegociar a forma de pagamento, de preferência com os próprios credores, temos de perceber se é possível pagar menos", começa por dizer, não se esquecendo do empréstimo obrigacionista sobre o qual "é preciso trabalhar imediatamente", pois "é preciso fazê-lo porque se não ninguém volta a acreditar no Sporting".

Um apelo à união após as eleições

Independentemente do resultado das eleições, Rui Jorge Rego diz que "o Sporting precisa de união e quem lidera as suas fações tem de entender isso". Nesse sentido, defende que "cabe a todos os candidatos" ter noção disso porque "o que cada um disser terá impacto a partir de 9 de setembro", o dia seguinte às eleições. "E Bruno de Carvalho também tem de entender isso", acrescenta, enquanto faz votos de que o antigo presidente "não tenha sido alvo de um processo político, mas exclusivamente jurídico e disciplinar".

Tendo em conta as sondagens que foram públicas, o candidato da lista E não encara estas eleições como uma espécie de rampa de lançamento para um futuro ato eleitoral. "No dia 9 não penso mais em eleições e, se perder, espero não ter de voltar a candidatar-me. Espero que quem ganhe faça um bom trabalho, porque o clube precisa de estabilidade", adianta, ao mesmo tempo que defende que quem vencer tem de ter "capacidade de ouvir os outros", lembrando que "há coisas boas em todas as candidaturas" e nesse sentido coloca as suas ideias à disposição de quem ganhar: "O projeto é bom e o Sporting tem de o implementar."

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