Rui Águas e a "luta desigual" de Cabo Verde com Portugal

Rui Águas e Henrique Calisto debateram esta terça-feira o treino em seleções nacionais no âmbito do Fórum Nacional de Treinadores que está a decorrer em Portimão
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O selecionador de Cabo Verde, o português Rui Águas, revelou que o campeonato e a seleção de Portugal são muito seguidos em solo cabo-verdiano, mas que muitos nativos ou descendentes de Cabo Verde alimentam a esperança de vestir a camisola da equipa das quinas.

"Em Cabo Verde há relva artificial em todo o lado e a utilização é massiva. Em África há o CAN e o CHAN, que é só para jogadores residentes no país, e financeiramente não conseguimos competir nas duas. E depois há uma luta desigual, que é cabo-verdianos ou descendentes que têm a dúvida entre representar Cabo Verde ou Portugal, que é uma gigante da Europa", confessou o técnico luso, que falou sobre o treino em seleções nacionais no Fórum Nacional de Treinadores que está a decorrer em Portimão.

Ainda sobre o futebol em Cabo Verde, Rui Águas lamenta a falta de dinheiro que há no país. "Cabo Verde é como se fizesse parte de Portugal. Tenho familiares em Cabo Verde e por isso a integração é fácil. Temos muito entusiasmo, muita música e muita alegria, mas não temos dinheiro. Ainda por cima, sou um selecionador que reside no seu país. Tivemos uma fase de apuramento para o CAN e os nossos adversários têm ligas profissionais. Há equipas em Cabo Verde que treinam às cinco da manhã porque não tem possibilidade noutras horas. São contextos muito difíceis", prosseguiu.

Meio milhão de habitantes e sem liga profissional

"O meu trabalho como treinador de campo é reduzido aos oito a dez dias de estágio. Além do pouco tempo que temos, não temos um grupo muito alargado de escolhas. Cabo Verde tem um grupo de jogadores que tem elevado a seleção para um patamar incrível, mas já temos poucos em Portugal e quase todos na II Liga. O nosso empenho é de melhorar a competição interna e tentar que os melhores jogadores venham para Portugal ou outros países. As viagens são as mais baratas: normalmente viajamos sete horas para o Dubai e mais oito horas para o destino final. Trabalhamos apenas a linha defensiva e as bolas paradas nos estágios devido à falta de tempo", acrescentou o antigo avançado de Benfica e FC Porto, que considerou "imoral" o facto de haver treinadores que orientam mais do que uma equipa por época na I Liga.

Ainda assim, Rui Águas salientou o facto de os tubarões azuis terem estado como melhor seleção africana no ranking FIFA há cerca de dois anos. "Há dois anos, chegámos a primeira equipa de África. Estou a falar de Cabo Verde, que tem meio milhão de habitantes e não tem ligas profissionais. Os jogadores da seleção são quase todos de fora de Cabo Verde. Em 25, 23 jogam fora", frisou. "Temos muitos avançados e extremos, mas depois temos escassez de médios e defesas. E guarda-redes ninguém quer ser lá nas ruas", lamentou.

Sobre a sua experiência à frente da seleção do Vietname, Henrique Calisto contou como moldou o conjunto nacional vietnamita tendo em conta as características dos jogadores. "Os clubes vietnamitas com mais dinheiro jogam em 4x4x2 com avançados africanos ou brasileiros possantes. Na seleção, sem esses estrangeiros, tínhamos que jogar num modelo diferente, mais latino, de passe e criatividade, em 4x3x3. O jogador asiático é rápido, mas no Vietname não há escola de formação. Naquele tempo, as grandes seleções do sudoeste asiático eram Singapura, Tailândia e Indonésia e fomos campeões pela primeira vez em 2008. E estamos a falar de uma competição que tinha 50 anos", sublinhou o antigo treinador do Paços de Ferreira acerca da Taça do Sudoeste Asiático.

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