Rubí vive numa aldeia mas a net tornou a sua festa global

Pais fizeram vídeo para convidar a população local para a quinceañera. No Facebook, responderam 1,3 milhões. Polícia esteve lá
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A menina de Crescencio e Anaelda Ibarra fez 15 anos, idade que no México se celebra com pompa e diversão. Os pais prepararam a tradicional quinceañera, uma festa que incluiu missa, três bandas e uma corrida de cavalos, e convidaram familiares e todos os ilustres da terra, Joya, no estado de San Luis Potosi. E alargaram o convite à população, o que fizeram através de um vídeo no Facebook, que se tornou viral. Resultado: 1,3 milhões responderam "sim". A família Ibarra percebeu, então, onde se tinha metido e pediu ajuda à polícia. Felizmente só apareceram milhares, mas muito mais do que os 1969 habitantes da sua aldeia.

O caso não é inédito. Em setembro de 2012, na cidade holandesa de Haren, com 19 mil habitantes, uma jovem convidou os amigos do Facebook (FB) para a festa dos seus 16 anos. E mesmo com a designação de "privado", eles partilharam o convite e chegou pelo menos a 30 mil. A aniversariante cancelou a festa e saiu de casa, mas apareceram três mil "convidados", o que obrigou à intervenção da polícia antimotim. Houve seis feridos e 20 detidos.

Mas a festa de Rubí Ibarra juntou, nesta segunda-feira, milhares de convidados, com a polícia a delimitar o espaço onde acontecia. À missa, que iniciava os festejos pelas 13.30, apenas assistiram a família e os amigos, incluindo o governador de San Luis Potosi. Não se registaram tumultos, como na Holanda, só que a festa também acabou em tragédia. Morreu um participante na corrida de cavalos, cujo prémio era de dez mil pesos (450 euros).

O que é que os dois aniversários têm em comum, além de festejarem a vida de duas jovens? Ambas publicitaram o evento numa rede social sem terem a noção de que estavam a falar para o mundo. Começaram no Facebook e as mensagens tornaram-se virais, partilhadas por "n" pessoas e sem controlo por quem as emitiu. Além de que o vídeo da festa de Rubí saltou logo para o You Tube.

"Se eu colocar um anúncio na minha escola apenas tem acesso quem passa naquele espaço. Se colocar o anúncio numa rede social perco o controlo. Quem vai para uma rede social propagandear alguma coisa tem de ter a noção de que não terá controlo sobre isso, em particular se for uma rede social como o YouTube", avisa Gustavo Cardoso, sociólogo dos media.

A rede Facebook tem introduzido limites ao número de pessoas pelas quais é difundida uma mensagem, até porque as visualizações geram dinheiro, mas nada evita que os amigos partilhem os conteúdos. Já a lógica do YouTube é conquistar um maior número de públicos. Salienta o sociólogo que os vídeos realizados com esse objetivo nem são os mais visualizados. E o caso mexicano tinha tudo para se tornar viral: uma família mexicana da classe alta, uma festa onde nada foi poupado, o que não se limitava à música e à comida, e incluía uma corrida de cavalos. O convite universal foi a cereja no topo do bolo.

Muitos responderam por brincadeira, mas outros quiseram estar presentes. Aliás, uma companhia aérea ofereceu descontos de 30% para o estado de San Luis Potosi com o slogan "Vai à festa da Rubí?". Apareceram os media: locais, nacionais e internacionais. E até o ator e produtor mexicano Gael García Berna fez um vídeo a gozar com a situação.

"As pessoas não dominam a ferramenta, não dominam a linguagem e, de repente, veem-se confrontados com os limites desse tipo de comunicação que, ao contrário dos meios tradicionais, não têm controlo", diz Gustavo Cardoso, acrescentando que as "entidades que podem tratar destas situações não estão sensibilizadas para isso".

A prova está nas autoridades policiais, cujos avisos de utilização são a nível da segurança e dos crimes via internet. As redes sociais não trazem livro de instruções.

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