Rua de São Bento recebe noites das antiguidades

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A Rua de São Bento, em Lisboa, revive até hoje à noite o ambiente do século XVI, através da 6.ª edição das "Noites de São Bento". Sob o tema "Lisboa quinhentista, centro do comércio mundial", 26 antiquários transformaram, desde quinta-feira, a zona num porto do tempo dos Descobrimentos.

"É uma forma de as pessoas perderem o medo de entrar nas lojas", explica ao DN Rui Aurélio, de 32 anos. É proprietário de uma loja de antiguidades no número 460, onde a peça mais rara é um prato rechaud em porcelana da china, da Companhia das Índias, à venda por 5500 euros. Um preço demasiado alto para José e Maria, um casal lisboeta que veio conhecer a iniciativa. "Viemos sobretudo ver, porque apreciamos muito estas coisas antigas", diz ela. "Aquele Santo António é muito bonito", refere, ao passar junto a mais uma montra iluminada por velas e tochas. Não planeiam fazer compras, mas "se houver saldos, vamos aos saldos", explica José.

A rua com o maior número de antiquários do país, perto de 30, "só anima quando há manifestações", lamenta Rui Aurélio. Apesar disso, este antiquário faz um balanço positivo da sua participação.

Quase em frente, no número 281, a montra está repleta de arte sacra. Ricardo Hogan participa desde o primeiro ano e diz que o evento "é importante em termos de vendas com cerca de 10% do volume anual de negócios". Vende sobretudo para clientes regulares, coleccionadores, alguns dos quais já se mostraram interessados na peça mais cara que tem em exposição: um presépio de três peças, de meados do século XVII. "Tem dimensões invulgares", mas "o preço prefiro não dizer".

O filho, Gonçalo, de 16 anos, é um dos animadores que na rua tentam cativar quem passa. Está vestido de marinheiro quinhentista junto a uma banca com alimentos e especiarias típicas da época. "As pessoas acham graça, são simpáticas e têm vontade de saber o que fazemos aqui", explica.

Rua abaixo, já depois da Assembleia da República, um grupo de espanhóis visita o antiquário do número 85. "Somos seis e viemos de Burgos propositadamente", explicam. "Gostamos muito de antiguidades", mas quanto a compras, "vai depender do preço. Umas podemos comprar, outras só ver", lamentam. Prometem voltar no dia seguinte. O proprietário orgulha-se de ser o terceiro antiquário mais antigo da rua de São Bento. Vasco Gomes, de 66 anos, está naquele espaço há 16 anos. Antes, estava numa loja em frente, num prédio que entretanto deu lugar a um novo empreendimento. Desde os 22 anos que trabalha com antiguidades. "Tento ser o mais honesto possível", diz. Para "manter o barco", opta por reduzir a margem de lucro e assim vender mais. E apesar dos anos, confessa que continua "enfeitiçado" pelo negócio. "Aprendo todos os dias", conta.

A última loja, no número 79, está recheada de móveis, louças e bonecas antigas. "Somos os primeiros nesta ponta da rua, mas estaríamos melhor do lado de cima", admite Fernanda Coelho, de 61 anos. Tem a loja há 20 anos, mas é o primeiro ano em que participa nas "Noites". Está satisfeita com a afluência de pessoas, mas diz que o negócio já esteve melhor. "Não vendemos artigos de primeira necessidade, a classe média está a desaparecer e os ricos querem coisas melhores", lamenta.

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