Roy Keane, o último pregador do 'kick and rush' está de volta

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Roy Keane é como um terramoto: algo devastador que vem de dentro, naturalmente. É por isso que é tão amado em Inglaterra: o ex-futebolista do Manchester United, de 36 anos, agora treinador do Sunderland, diz a verdade - o que pensa - e prefere o futebol ao dinheiro e à fama. É o último cavaleiro em quem os ingleses ainda acreditam na era em que a mediatização é mais importante que o kick and rush (não confundir com o outrora tradicional estilo tosco do futebol inglês, mas assimilar como a alma do Jogo). Ele aí está de volta à Premier League, e com um séquito de cépticos esperançosos de se reconciliarem através de Keano.

A advertência, à partida tem de ser feita: Roy Keane não é simpático. Mas é genuíno. O jogador alcoólico, agressivo, duro e intratável transformou-se com o tempo num treinador ainda desbocado, devastador e sem contemplações nas análises. Mas sóbrio, mais confiante, menos solitário e com um início prometedor: estreou-se em Agosto de 2006 no banco do Sunderland (clube do Nordeste inglês controlado por um forte grupo financeiro irlandês, cujo rosto público é o antigo companheiro de selecção da Irlanda, Nial Quinn) e em Dezembro desse ano já andava nas bocas das Ilhas. Porque no início era o caos, com o Sunderland precipitado nos lugares de descida, e no fim do ano já o paraíso estava na mira. Em Abril, antes do fim da FootballLeagueChampionship(segunda divisão inglesa) Roy Keane garantia o primeiro título da carreira - e a promoção, e regresso, do Sunderland à PremierLeague.

Mas para trás ficou muito caminho, muita polémica, muitas medalhas (do Nottingham Forest ao colossal Manchester United, acabando no Celtic), muito suor, muito futebol. Alan Hansen, respeitado comentador de futebol na BBC, disse apenas que Roy Keane foi o melhor jogador britânico da PremierLeague desde que esta foi criada nestes moldes, em 1992. Relevante, para se perceber o alcance, é que o escocês Hansen jogou sempre no Liverpool, que não é propriamente um aliado do United.

O início de Roy Keane não foi aleatório. Empurrado para o desconhecido Cobh Ramblers (na Irlanda vigorava uma norma que limitava a cada equipa a presença de apenas um jogador de topo - e Keane já era um aos 18 anos), o rebelde da ultra-rebelde Cork City chegou ao Nottingham Forest de Brian Clough. O desbocado, temperamental e genial Clough, que colocou o Forest no mapa europeu - dos 20 maiores títulos do clube de Nottingham, apenas seis não tiveram a chancela do treinador falecido em 2004. "O conselho de [Brian] Clough para mim, antes da maior parte dos jogos, era: 'Mal a recebes, passa-la a outro jogador de camisola vermelha.' E isso foi o que sempre tentei fazer no Forest e no United - passar e desmarcar-me - e fiz disso uma carreira", admitiu recentemente Keane.

Com esta receita, e com um coração que inundava os relvados (é épico o jogo de 1999 com a Juventus, que colocou o United na final da Champions - ganha dramaticamente nos últimos minutos ao Bayern -, em que carregou a equipa sabendo que falharia a final por ter visto um amarelo), Keane conquistou respeito e admiração. Sempre sem abdicar de si. E é por isso que Roy Keane, o nome, está associado a uma expressão: "For his standards" (para o seu padrão). Que quer dizer: duro, directo, cortante, incisivo, devastador. Como um furacão, um tornado. Natural como um terramoto que se limita a ser uma força da Natureza. Eis Roy Keane de volta.|

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