Rouhani tenta ganhar vantagem nas urnas para os moderados
O presidente do Irão espera hoje ver traduzida em votos a sua mensagem moderação e abertura ao Ocidente. A reeleição de Hassan Rouhani para a Assembleia de Peritos é quase certa, ao mesmo tempo que os seus aliados moderados esperam conquistar a maioria dos 290 lugares do Parlamento.
A campanha entre moderados e conservadores não tem sido pacífica, com os primeiros a fazerem-se valer de trunfos como o acordo nuclear conseguido pelo presidente Rouhani e os segundos, próximos do ayatollah Khamenei, a tentarem, por todos os meios, impedir a abertura ao Ocidente da sociedade iraniana. Uma das formas de o fazerem foi através da desqualificação de milhares de candidatos moderados tanto para o Parlamento como para a Assembleia de Peritos, o órgão que elege o Líder Supremo, feita pelo Conselho dos Guardiães, um organismo clerical. Um dos candidatos banidos foi Hassan Khomeini, próximo do presidente e neto do ayatollah Khomeini, fundador e primeiro Líder Supremo da República Islâmica do Irão.
Perante as acusações feitas pelos conservadores de que os moderados estão sob a influência do Ocidente, Rouhani tem respondido que tal alegação é um insulto à inteligência dos iranianos, os quais, defende, estão sedentos de desenvolvimento económico.
"Abusos verbais, acusações e insultos estão abaixo da dignidade da nação iraniana e do país. Não vale a pena minar a República Islâmica e o governo por um lugar no Parlamento. Em vez de insultos e acusações temos de procurar objetivos mais elevados", disse Rouhani esta quarta-feira, segundo o seu site.
Apesar de moderado, Rouhani tem estado a salvo das críticas da linha conservadora graças ao apoio que lhe tem sido dado pelo ayatollah Khamenei. Esse apoio foi materializado pela sua eleição para a presidência em 2013, mas também pelo acordo nuclear.
Neste caso, no entanto, os dois discordam da sua finalidade - o Líder Supremo do Irão estava interessado no acordo para melhorar o estado da economia do país, graças ao levantamento das sanções, e não no restabelecimento de laços com o Ocidente.
"Os conservadores de linha dura estão preocupados com a popularidade de Rouhani e o apoio que ele tem, tanto dos moderados, como da população. Um Rouhani poderoso poderá prejudicar o delicado equilíbrio de poder do sistema político iraniano", explicou à Reuters um antigo governante do Irão.
Nas eleições de hoje está também em jogo o futuro político de outro moderado, o antigo presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, que tentará segurar o seu lugar na Assembleia de Peritos.
Rafsanjani começou a perder a sua influência ao ser derrotado por Mahmoud Ahmadinejad nas presidenciais de 2005 e ao apoiar a oposição quatro anos mais tarde. Mas se conseguir hoje renovar o seu mandato, o antigo presidente poderá usar o peso político que ainda tem para influenciar a escolha do próximo Líder Supremo.
Inflação já desceu
Uma sondagem para o site de notícias Tabnak a propósito das eleições de hoje, e citada pela AFP, mostra que a economia é a maior preocupação para 64% dos iranianos. Apenas 17% afirmam que a política é mais importante, enquanto que os problemas sociais estão no topo das prioridades de apenas 11,5%.
A descida dos preços do petróleo em cerca de 70% desde meados de 2014 antigiu duramente o Irão, que tem a quarta maior reserva mundial. A produção caiu por força das sanções e, apesar do Irão ter aumentado as exportações para 1,5 milhões de barris diários graças ao acordo nuclear, o nível das transações ainda é menos de metade do verificado antes do embargo imposto em 2012.
Mas a crise do petróleo e o embargo não explicam na totalidade o atual estado da economia. Rouhani herdou muitos problemas do seu antecessor, o conservador Mahmoud Ahmadinejad - a inflação estava acima dos 40% quando o atual presidente foi eleito, em 2013, e o rial, a moeda do Irão, tinha perdido dois terços do seu valor face ao dólar. No primeiro ano de mandato, Rouhani conseguiu reduzir a inflação para os 13%.
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