Roubos nos ecopontos alimentam mercado paralelo
Se a crise aumentou o número daqueles que fazem do cartão uma cama improvisada, também fez que começassem os roubos desta matéria-prima nos ecopontos. Desde 2008, desenvolveu-se um mercado paralelo com base no roubo de material reciclável. O secretário-geral da Sociedade Ponto Verde (SPV), Luís Veiga Martins, admitiu ao DN que "começou a haver roubos ou desvios de alguns materiais dos ecopontos, quer seja os de rua quer dos sistemas de recolha de porta a porta".
O secretário-geral da sociedade que gere o sistema de reciclagem de embalagens explica que "a maior incidência de roubos dá-se no papel/cartão porque são materiais com valor". E acrescenta: "Sabemos que existe um mercado paralelo e que os roubos aumentaram muito desde a crise, mas não conseguimos quantificar as perdas."
O coordenador do grupo de resíduos da Quercus também alertou o DN de que "existem empresas especializadas nesta recolha ilegal." E deixa uma sugestão ao Executivo: "Uma boa forma de o Governo aplicar dinheiro nos resíduos era aumentar a fiscalização sobre este fenómeno."
Luís Veiga Martins explica o porquê de se ter gerado esta espécie de máfia dos Ecopontos. "Estes produtos são fáceis de ser transacionados, fáceis de ser recolhidos e surgem essas atividades. Há municípios, nomeadamente Lisboa e Porto, que se queixaram de que quando iam recolher os contentores já não existia nada."
Estes roubos, de acordo com o secretário-geral, significam perdas para a SPV, que assim não consegue obter os ganhos que teria com a venda desses produtos à indústria que os transforma.
O assalto afeta assim o bolso da Sociedade Ponto Verde e, portanto, dos acionistas/clientes, que são basicamente todas as empresas que colocam embalagens no mercado.
600 milhões pagos em 17 anos
A tendência de aumento de roubos nos Ecopontos não impediu, no entanto, a Sociedade Ponto Verde de ter vindo gradualmente a recolher cada vez mais produtos com (e também sem) valor comercial positivo.
A SPV é a responsável por gerir Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagem (SIGRE), que é financiado pelos operadores económicos. Isto porque os custos de recolha são muito superiores ao valor conseguido com a venda de embalagens como matéria-prima. Só nos últimos 17 anos, a SPV pagou aos municípios mais de 600 milhões de euros para estes recolherem e fazerem a triagem das embalagens. Destes, menos de um quarto advêm da venda de produtos reciclados à indústria.
Luís Veiga Martins explica que "em bons anos o valor da venda pode chegar a 25% das receitas, mas em anos maus pode chegar a 5%. Tudo o resto têm de ser os operadores a pagar." Em 2010, o sistema custou 71,8 milhões de euros (o chamado Valor Ponto Verde) às empresas.
Além dos custos de recolha, segundo explica o líder da SPV, "há produtos com valor negativo, em que temos de pagar às empresas para reciclarem, como são exemplo os pacotes de batatas fritas ou as embalagens de iogurtes". Luís Veiga Martins acredita ainda que a SPV dará um bom contributo para o cumprimento do PERSU 2020 (ver texto ao lado). No entanto, alerta que a privatização da EGF "não deve afetar o que está contratualizado nem destruir o que de bom foi feito nos últimos 17 anos".
A Sociedade Ponto Verde garante que neste período foram "encaminhados para reciclagem perto de seis milhões de toneladas de resíduos de embalagens (fluxo urbano