Rostos do comentário não mudam há 20 anos
O espaço do comentário não se renovou desde os anos 80. À excepção de novidades pontuais, pode dizer-se que, ao longo das duas últimas décadas, não se refrescaram as vozes que diária ou semanalmente dissertam sobre questões que marcam a vida nacional.
Uma conclusão surpreendente para Rita Figueiras, investigadora e autora do livro Os Comentadores e Os Media, que será hoje à tarde apresentado na Universidade Católica de Lisboa. "Independentemente dos jornais, encontramos sempre o mesmo tipo de comentadores. As mesmas pessoas vão--se prolongando. É um espaço muito fechado. Fiquei verdadeiramente surpreendida, porque foram duas décadas muito diferentes, com bastantes mudanças no sector dos media e de toda a sociedade", explica ao DN a do- cente da Faculdade de Ciências Humanas, que analisou seis jornais (Diário de Notícias, A Capital, Público, Expresso, Semanário e O Independente).
Apesar de serem vários os nomes presentes ao longo deste tempo, Rita Figueiras salienta o de Guilherme d'Oliveira Martins. "Foi o que esteve sempre presente nos jornais e com momentos de paragem não significativos", pormenoriza a docente.
Mas entre 1980 e 1999, o período que Rita Figueiras analisou, não foram apenas estes comentadores políticos que se destacaram. Se em 1980 havia uns 51 comentadores, o número sobe para 88 no ano de 1989, daí aumenta para 103 em 1990 e em 1999 cresce para 120. "A diferença entre os anos 80 e 90 é na maior quantidade de comentários, assim como a crescente visibilidade dos comentadores. De resto, é mais do mesmo. Os media vão buscar os conhecidos, que ficam cada vez mais conhecidos, enquan- to os desconhecidos continuam desconhecidos", observa a docente.
Neste universo, saliente-se, 90 por cento pertencem ao sexo masculino. Um terço dos comentadores são recrutados nos media, tratando-se de jornalistas e personalidades mediáticas, e os outros dois terços são compostos por comentadores ligados à Academia, Política e Profissões Liberais, nomeadamente advogados e alguns quadros superiores de empresas.
Talvez por isso, António José Teixeira, subdirector do Jornal de Notícias, destaca no prefácio desta tese de mestrado transformada em livro que o levantamento feito por Rita Figueiras "é muito útil". O também comentador político considera que esta avaliação dos espaços de opinião "traduzem a fraca renovação político-partidária", "espelham uma sociedade civil ainda frágil" e "denotam disfunções cívicas e os percalços de um mercado de dimensão reduzida".