Rosetta morre hoje mas os seus dados continuam vivos

Dados recolhidos pela sonda, numa missão histórica ao longo de 12 anos, vão ser analisados durante as próximas décadas. Rosetta "despediu-se" em português no Twitter.
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A sonda Rosetta "aterrou" hoje na superfície do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko às 11.39, terminando, assim, a sua missão espacial junto daquele que foi o seu companheiro nos últimos dois anos. Quarenta minutos depois de se desligar, às 12.19, os cientistas da Agência Espacial Europeia receberam o sinal de "final da missão". Mas esta só termina no espaço. Na Terra, os dados que foram recolhidos ao longo dos últimos 12 anos - e até ao último instante - vão ser analisados durante décadas.

A Rostetta "despediu-se" em várias línguas no Twitter, incluindo o português.

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Para Pedro Lacerda, professor na Queen's University Belfast e investigador no Astrophysics Research Centre, esta foi uma missão histórica. "Foi a primeira vez que vimos um cometa tão perto, que o seguimos durante uma boa parte da órbita, que vimos como muda quando se aproxima do Sol, que aterrámos um zingarelho na sua superfície", destaca o astrofísico que estuda os dados da Rosetta, em conjunto com o seu aluno de doutoramento, Sebastian Lorek, que trabalha no Instituto Max Planck para Investigação do Sistema Solar, em Göttingen. Até há bem pouco tempo, diz o investigador, isto eram "coisas de sonho".

A sonda foi lançada em março de 2004 e só dez anos mais tarde alcançou o cometa 67P - que viaja entre a órbita de Júpiter e da Terra. Passou por um longo período de hibernação, pelo que o seu acordar foi, para Pedro Lacerda, um dos momentos mais marcantes da missão. Seguiu-se a recolha de dados. "As primeiras imagens foram fantásticas. Ninguém esperava que o cometa tivesse uma forma tão esquisita [semelhante a um pato de borracha]", recorda. Meses depois, o módulo de aterragem da sonda - o Philae - aterrou no cometa. Outro ponto alto.

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Até ao momento da colisão com o cometa, a Rosetta continuará a enviar informações importantes. "Vamos aproximar-nos cada vez mais. É a primeira vez que vamos ver o cometa a uma distância tão interessante." E é no "topo da cabeça" que a sonda ficará. Nessa região, explica o docente, existe uma espécie de "fosso circular", onde tem origem um número significativo de jatos de poeira. Mas o fenómeno ainda é pouco conhecido, pelo que as últimas fotos "vão ser muito úteis".

Atualmente, trabalham na missão entre mil a dois mil cientistas, espalhados por todo o mundo. Mas, segundo Pedro Lacerda, a quantidade de dados recolhidos é tão grande que vão continuar a ser estudados nos próximos 20 a 30 anos. "Quem nascer agora e quiser ser cientista ainda vai estudar dados da Rosetta."

Muitos dos dados já analisados vieram pôr em causa o que se pensava. "Antes da missão, diria que os cometas eram feitos essencialmente de gelo. Agora sabe-se que 20% é gelo e o resto é poeira", explica o investigador. Outra descoberta importante, frisa, foi a presença de glicina. "Embora não tenha matéria orgânica, vida, tem aminoácidos." Quer isto dizer que "os ingredientes para a vida estão lá". Além disso, foram encontrados "compostos químicos - Oxigénio O2 - que mostram que se formou a temperaturas muito baixas, difíceis de atingir no sistema solar". E, ao descobrirem uma água diferente da dos oceanos, concluíram que não foram os cometas a trazer água para a Terra.

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