Ronaldinho em estado de graça
A escolha dos seleccionadores e capitães das equipas nacionais não deixa margem para dúvidas Henry (Arsenal) e Shevchenko (Milan) ainda vão ter de esperar. O melhor jogador de 2004 responde pelo nome de Ronaldo de Assis Moreira e, aos 24 anos, sucede a Zinédine Zidane (1998, 2000 e 2003) que, nesta eleição, ainda chegou ao quinto lugar.
Campeão do mundo pelo Brasil, em 2002, Ronaldinho Gaúcho foi classificado 89 vezes em primeiro lugar pelo júri nomeado pela Federação Internacional de Futebol, composto por 302 eleitores (157 seleccionadores nacionais e 145 capitães), enquanto Thierry Henry recebeu 79 votos e Andryi Shevchenko 34, para a mesma posição.
Apesar do ucraniano do Milan ter, na semana passada, ganho a Bola de Ouro 2004, atribuída pela France Football, a tradição cumpriu-se e outro jogador foi escolhido, neste caso o brasileiro que da favela ao Grémio de Porto Alegre e do Paris Saint-Germain ao Barcelona, manteve sempre um crescendo em termos de evolução futebolística, com todas as dúvidas a ficarem pelo caminho após a exibição no Mundial da Coreia-Japão.
«Para mim, o simples facto de estar aqui - nomeado entre os três melhores - já era uma vitória, até porque nunca fui um grande goleador. Cada um tem a sua maneira de jogar e cada um de nós três merecia ganhar. Ainda fico mais feliz por ter sido eu o eleito», sublinhou o brasileiro que, na última época, foi o principal responsável da recuperação do Barcelona até ao segundo lugar do campeonato espanhol, após um débil início de prova.
Este ano, ajudado por reforços como Deco, Ronaldinho voltou a assumir o papel de maestro da formação orientada por Frank Rijkaard, que chega ao Natal com nove pontos de avanço sobre o Espanyol e qualificado para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, onde defrontará o Chelsea de Mourinho.
Em campo, Ronaldinho faz parte daquela minoria de jogadores que ainda inventam o futebol; dribla, arranca, troca as voltas aos adversários, sempre em progressão, e marca golos raros, muitos plenos de subtileza. Foi precisamente com um golo arrancado numa fracção de segundo que o jovem de Porto Alegre viu acenderem-se as luzes da ribalta, em 1999, na Copa América, frente à Venezuela.
Admirador do irmão, Roberto (jogou no Sporting), futebolista com alguma projecção, hoje orientador da carreira do «caçula», Ronaldinho assinou, aos 21 anos, o seu primeiro contrato profissional, com o Paris Saint-Germain. E se a sua saida deu início a uma longa batalha judicial, entre os clubes, também a sua permanência, em Paris, não se revelaria tranquila, apesar do apoio permanente da família. Scolari não hesitou em levá-lo à Coreia, deixando Romário no Brasil, mas ao voltar ao PSG as suas relações com o técnico Luis Fernandez deterioraram-se rapidamente, acabando por surgir a «solução» catalã, numa corrida ganha ao sprint a Manchester United e Real Madrid.
Ontem, para chegar ao actual estado de graça, Ronaldinho contou com o voto de Luiz Felipe Scolari, que é homem de convicções, enquanto o capitão português, Pedro Pauleta, optou por o classificar atrás de Shevchenko e Henry. A distinção, diga-se, assenta bem ao brasileiro que se afirma agora determinado em ficar na história do Barça «como um vencedor». Sensibilizado por casos recentes, Ronaldinho juntou-se a Henry numa campanha contra o racismo e afirma-se «motivado» para a luta.
No ranking dos mais votados neste Jogador Mundial do Ano 2004 passam ainda a figurar, para o registo futuro, o luso-brasileiro, Deco (Barcelona - 7.º), Cristiano Ronaldo (Man. United - 13.º) e Luís Figo (Real Madrid - 15.º), o vencedor de 2001.