Roménia, um importante mercado para Portugal

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A Roménia ocupa um importante lugar enquanto parceiro comercial do nosso país e enquanto destino de investimento direto português no estrangeiro, num relacionamento que, longe de estar esgotado, antes revela uma dinâmica que permite perspetivar um incremento nas relações económicas bilaterais. A Roménia oferece inúmeras oportunidades às empresas portuguesas de praticamente todos os setores de atividade, dos mais tradicionais aos que apresentam produtos inovadores e com elevada incorporação tecnológica.

A Roménia é o nosso 19° cliente com as trocas comerciais bilaterais de bens e serviços a passar a marca dos 523 milhões de euros em 2019 (mais 4 por cento do que em 2018), com cerca de 1.565 empresas portuguesas já a exportar ou a operar neste que é o segundo maior mercado da Europa Central. O país tem potencial e merece atenção por parte das empresas portuguesas porque existem oportunidades de negócio. A Roménia é um mercado em desenvolvimento e isso é raro na Europa. Na realidade, o país apresenta uma das maiores taxas de crescimento da União Europeia (UE).


A Roménia é um importante mercado de 19,4 milhões de habitantes, localizado no sudeste da Europa central, e dotado de uma força de trabalho muito competitiva. A epidemia da COVID-19 continua a ser uma realidade a nível global, e na Roménia poderá ser difícil de superar esta conjuntura no curto prazo. As principais implicações económicas, além da queda global da procura, materializaram-se na aceleração das tendências digitais, como o teletrabalho, a formação online e o comércio eletrónico, como a melhor forma, em períodos de confinamento, de abastecer famílias e empresas. A Roménia irá, naturalmente, sofrer as consequências económicas da atual conjuntura, devido à desaceleração da atividade em geral. No entanto, o país tem uma visão clara do que pretende para o futuro, pelo que as reformas, ainda que revistas, certamente terão continuidade.


No que respeita à economia romena, a dinâmica do PIB registou um aumento de 4,3 por cento no quarto trimestre de 2019, encerrando um ano de rápido crescimento económico (4,1 por cento), impulsionado pelo consumo doméstico. Embora os primeiros sinais para 2020 apontassem para uma tendência ascendente em curso, as medidas adotadas para diminuir a propagação da pandemia COVID-19 pesarão na atividade económica do ano de 2020. No primeiro trimestre de 2020, o PIB apresentou uma quebra de menos 2,4 por cento no PIB, face ao mesmo período do ano anterior. Os economistas preveem que a economia deverá contrair 5,5 por cento em 2020 e expandir 5,1 por cento em 2021. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um aumento da taxa de desemprego na Roménia, que foi de 3,9 por cento em 2019 para 10,1 por cento em 2020, seguido de uma redução para 6 por cento em 2021. Na frente externa, as exportações de bens e serviços registaram contração de 5,5 por cento no primeiro trimestre do ano, contrastando com a expansão de 6,4 por cento no quarto trimestre de 2019 e marcando o pior resultado desde o terceiro trimestre de 2009.


As principais cidades romenas são Constanta, Iasi, Timisoara, Cluj-Napoca, Galati (entre Cluj-Napoca e Brasov), Brasov, Craiova, existindo 25 cidades com mais de 100.000 habitantes no país. A Roménia faz fronteira com cinco países: Moldávia, Ucrânia, Bulgária, Sérvia e Hungria. O território da Roménia está organizado em 41 distritos, mais o município de Bucareste, que tem um estatuto semelhante ao de um distrito. Bucareste, a capital, tem 1,8 milhões de habitantes e é a mais importante e maior cidade romena, sendo o centro político, administrativo e económico do país.


Trata-se do sétimo mercado com maior população da União Europeia e a sua capital, Bucareste, é a sexta maior cidade da UE. Desde a sua adesão à UE, em 2007, com a implementação de reformas e a modernização da economia, a Roménia tem vindo a apresentar um ciclo de crescimento económico impressionante. As projeções apontam para uma continuação do crescimento económico durante os próximos anos, acima da média da UE, dado que o país continuará a beneficiar dos fundos da União Europeia, do interesse por parte dos investidores estrangeiros e da manutenção de um ambiente de consumo privado robusto. O enquadramento atual incentiva uma continuada melhoria das infraestruturas e do acesso à internet, e a manutenção de um ambiente favorável de incentivo ao incremento dos projetos de investigação e desenvolvimento. O seu PIB per capita, em termos de paridade do poder de compra (PPC), é ainda um dos mais baixos da UE e dos países da região. Este diferencial poderá ser reduzido, caso as taxas de crescimento económico do país se mantenham superiores às dos outros países da zona, a par da implementação de reformas económicas e fiscais.


A Roménia é um dos países que mais beneficiaram do apoio da UE. A dotação financeira dos fundos da política de coesão da UE para a Roménia ascende a 26,8 mil milhões de euros no atual quadro financeiro plurianual (2014-2020), equivalente a cerca de 2 por cento do PIB anual.


Economia aberta e em crescimento


A crise económico-financeira mundial teve um impacto negativo forte na economia romena, expondo as suas fragilidades e provocando uma contração do PIB de 6,8 por cento em 2009 e de 0,8 por cento em 2010. A partir de 2011, a economia romena, voltou a crescer, registando-se taxas reais de crescimento do PIB à volta de 3,5 por cento ao ano, entre 2013 e 2015. Em 2016, esse valor acelerou para 4,8 por cento, mantendo-se acima dos 5 por cento em 2017 e 2018, e com crescimento económico de 4,1 por cento em 2019. Este crescimento tem sido impulsionado, em grande medida, pela vitalidade do consumo interno, devido ao aumento do rendimento disponível decorrente de aumentos de salários (mínimo e da função pública) e de estímulos fiscais, e aumento das pensões de reforma, a par do aumento das remessas de emigrantes.


Este dinamismo da procura interna continuará a impulsionar a procura de bens importados, tal como no passado, oferecendo assim o mercado interno atraentes oportunidades de negócio às empresas estrangeiras. Mais, espera-se que haja, também, uma alteração do padrão de consumo, na próxima década, decorrente da subida real de rendimento dos romenos, marcada pela diminuição do peso dos bens alimentares e bebidas no consumo a favor do aumento da despesa nos produtos eletrónicos e material informático e outros, aproximando-se a sua estrutura de consumo, nomeadamente nas maiores cidades, da das economias ocidentais. Tal trará também a modernização do mercado de retalho.


A Roménia é uma economia aberta, que tem beneficiado bastante da sua progressiva integração no mercado da UE, que absorve cerca de 78 por cento das suas exportações. O perfil exportador do país em produtos de mão-de-obra intensiva poderá tornar-se uma desvantagem, no médio e longo prazo, dadas as condições internas do mercado de trabalho e a concorrência de países como a China e a Índia, com salários mais baixos. Os salários aumentaram significativamente na Roménia nos últimos anos. À medida que cresceram mais que a inflação, os salários reais também aumentaram, aumentando o poder de compra. Os salários permanecem baixos em comparação com a média da UE. O salário mínimo aumentou acentuadamente. Os salários no setor automóvel têm sido fortemente impulsionados pelo aumento das vendas de carros Dacia nos mercados interno e externo. Outros setores produtivos sofreram também aumentos nos salários, atingindo principalmente os setores de têxteis, couro e mobiliário. Embora ainda não seja diretamente visível, o ritmo sustentado de crescimento dos salários pode, no entanto, representar riscos à competitividade no futuro, se os salários continuarem a aumentar acima da produtividade.


As disparidades de rendimento estão entre as mais altas da UE, principalmente devido à grande diferença entre a região da capital Bucareste e o resto do país.
A economia romena está especializada no desenvolvimento e produção de bens industriais e agrícolas, sendo fortemente orientada para a exportação. Desde a sua adesão à UE, a economia tem incrementado de forma sistemática o seu grau de abertura, com a quota-parte das exportações a aumentar rapidamente e de forma contínua. O progresso mais importante na indústria romena foi a venda à Renault, em 1999, de participação acionista maioritária no maior fabricante de carros da Roménia, a Dacia. O desenvolvimento da indústria automóvel criou, igualmente, um ambiente positivo para o investimento no fabrico de peças e componentes automóveis, que veio impulsionar o crescimento e a modernização industrial do país. Atualmente existem dois grandes fabricantes de automóveis localizados em Craiova - Ford e em Mioveni - Dacia, e mais de 600 fabricantes de componentes e subcontratados instalados na Roménia.

O investimento direto estrangeiro (IDE) tem contribuído para a transferência de tecnologia, a aceleração da reestruturação da economia da Roménia e a dinamização das exportações. A orientação para o comércio externo é a característica das empresas estrangeiras, responsáveis por mais da metade do total das exportações. Embora essas empresas estejam geralmente integradas nas cadeias de produção internacionais, o valor agregado capturado a nível nacional como uma parcela da procura externa permanece alto, ou seja, de cerca de 75 por cento para a Roménia. Além de sua contribuição direta na economia, as firmas estrangeiras exercem efeitos indiretos nas firmas locais por meio de uma concorrência mais forte, formulação de modelos de negócios, melhoria da qualidade do capital humano como resultado do treino da força de trabalho, integração das empresas locais nas cadeias de fornecimento de empresas estrangeiras.


Em termos de Investimento Direto de Portugal no Exterior (IDPE), a Roménia tornou-se num destino relevante, sendo que perto de 50 empresas nacionais têm presença direta neste mercado e em áreas tão diversas como a construção, as energias renováveis, a distribuição (retalho), a agricultura, a indústria automóvel ou ainda, os serviços de consultoria. Outros setores estratégicos com elevado potencial, incluem as tecnologias de informação, indústria aeroespacial, bioindústria e indústrias criativas. No que diz respeito à posição de investimento direto entre os dois países, o stock dos ativos de Portugal na Roménia totalizava 308,7 milhões de euros, no final de dezembro de 2019, representando 0,6 por cento do total do stock dos ativos portugueses no estrangeiro. A título de exemplo algumas companhias portuguesas que apresentam bons resultados na Roménia: Coindu Romania SRL (Coindu SA), Confrasilvas - Cofraje SRL (Confrasilvas SGPS SA), Copefi Components SRL (Copefi, LDA), Efacec SRL (Efacec SGPS SA), Martifer Romania SRL (Grupo Martifer), Pragosa Romania SRL (Pragosa SGPS SA), Sierra Romania Shopping Centers Services SRL (Sonae Sierra).


Refira-se que 77 por cento das exportações romenas destinam-se a países da UE (Alemanha - 23 por cento, Itália - 11 por cento, França - 7 por cento). Das exportações para o exterior da UE, 3 por cento destinam-se à Turquia e 2 por cento aos Estados Unidos. No que respeita às importações, 75 por cento provêm de países da UE (Alemanha - 20 por cento, Itália - 9 por cento, Hungria - 7 por cento). Das que provêm de fora da UE, destacam-se as importações provenientes da China (5 por cento) e as da Turquia (4 por cento).


Oportunidades para as empresas portuguesas
O mercado romeno tem potencial para se tornar um mercado ainda mais importante para as empresas portuguesas, mas é um mercado que exige algum investimento em tempo e dinheiro, e uma boa preparação. É muito dinâmico e existem oportunidades em praticamente todos os setores de atividade para as empresas nacionais.

Como exemplos de tendências futuras e setores de oportunidade para as empresas portuguesas, para além dos tradicionais onde se continua a assistir a uma dinâmica positiva, podemos referir:
• O modelo de negócio clássico dos fabricantes de automóveis está a mudar dado que o valor da criação continua a cair. As marcas foram apanhadas num ciclo onde mais e melhores funções tecnológicas são exigidas para cada novo modelo. Os avanços tecnológicos, historicamente do lado dos construtores, estão a passar para os seus fornecedores, o que constitui uma boa pool de novas oportunidades para as nossas empresas exportadoras que aparecem com avanços tecnológicos e produtos inovadores. Aqui detetamos oportunidades para empresas portuguesas de moldes e componentes automóveis, no fornecimento às unidades de produção automóvel na Roménia.


• As tecnologias digitais são um setor importante e em crescimento na Roménia. Há uma forte procura por tecnologia da informação relacionada com cidades inteligentes, Internet das Coisas (Iot), computação em cloud e segurança cibernética.
• E-Govern: apesar do progresso, existe ainda uma margem considerável para melhorias nos serviços públicos digitais. A interoperabilidade entre serviços de administração pública é geralmente baixa, pois cada instituição pública desenvolveu o seu próprio serviço público digital. O governo decidiu estabelecer um Quadro Nacional de Interoperabilidade, baseado no Quadro Europeu de Interoperabilidade, que ainda necessita de implementação.
• A Roménia procura diversificar as suas fontes de energia e modernizar os seus sistemas de geração e distribuição de eletricidade. As empresas encontrarão oportunidades na engenharia e construção de infraestruturas, na modernização da rede elétrica, incluindo tecnologias de redes inteligentes.
• Oportunidade para empresas de serviços de engenharia e construção que oferecem produtos que melhoram a eficiência energética de edifícios.


A Roménia é também uma importante plataforma de negócios no sudeste da Europa Central. Para quem quer mostrar e divulgar os seus produtos, a Roménia conta com um número significativo de feiras e exposições nacionais e internacionais, realizadas periodicamente em Bucareste e nas principais cidades romenas. As feiras, especialmente as internacionais, beneficiam da participação das companhias romenas mais importantes na sua área de especialidade, o que demonstra a grande importância que lhes é atribuída. A feira internacional mais importante do país é a TIBCO (Feira Internacional de Bens de Consumo de Bucareste), que este ano, devido a pandemia COVID-19, e que devia ter ocorrido entre 28 e 31 de maio, foi cancelada pela organizadora ROMEXPO e reprogramada para o próximo ano em maio. Esta variedade de cidades reflete o carácter descentralizado da economia e da produção industrial na Roménia.


Embora a Roménia assuma uma importância modesta no turismo português, com uma quota de cerca de 0,28 por cento no valor global das receitas do turismo português em 2019, é ainda assim de notar que, ao longo do período 2015-2019, a receita de turistas romenos em Portugal cresceu à taxa média anual de 19,9 por cento, passando de 26 milhões de euros, em 2015, para 51 milhões de euros, em 2019.
O lockdown motivado pela pandemia provocou o encerramento temporário de lojas, galerias comerciais e indústrias de lazer. Os consumidores foram obrigados a ficar em casa, refletindo-se numa alteração no comportamento do consumidor, que orientou as suas compras para o canal online, que assim aumentou muito a sua importância no comércio a retalho, sendo expectável que esta mudança comportamental se venha a manter no futuro.

A fase atual de desenvolvimento da economia romena e, nomeadamente do seu setor industrial, podem representar oportunidades para as empresas portuguesas que queiram apostar neste mercado. Tendo em conta a experiência de internacionalização das empresas portuguesas em setores como o automóvel; a energia e a construção de infraestruturas de transporte, a Roménia posiciona-se na captação de investimento estrangeiro, por via de amplos e ambiciosos planos nacionais de reforma e modernização, acompanhados pela criação de instrumentos acessíveis de divulgação de concursos públicos e por programas de financiamento multilateral disponíveis, como um país a ter em conta no panorama europeu. A apetência do consumidor por produtos alimentares importados e a necessidade de uma completa modernização e mesmo constituição de uma indústria de transformação agroalimentar abrem também oportunidades para as empresas portuguesas.


No entanto, este potencial é acompanhado por algum risco associado à atual incerteza da pandemia COVID-19 e à própria estrutura económica, com alguma concentração dos principais setores de atividade económica e alguma opacidade legislativa e insegurança jurídica, apesar de inúmeros progressos obtidos nesta matéria. O relativo maior controle nas variáveis da gestão do risco envolvido nas operações de exportação (face às de investimento) conduz a que se tenha em conta que, para as empresas portuguesas, o mercado da Roménia deverá ser especialmente considerado como um destino de oportunidade para as suas exportações. Neste período de dificuldades não é aconselhável olhar para a Roménia como um país para a "saída da crise", mas sim como um mercado a abordar com uma estratégia de médio prazo numa lógica de diversificação de mercados para as empresas portuguesas.
Convido os empresários portugueses a equacionar este mercado nas suas estratégias de internacionalização, para que em conjunto possamos projetar uma imagem de um Portugal moderno e produtor de produtos de excelência.

DIRETOR DO CENTRO DE NEGÓCIOS DA AICEP NA POLÓNIA E RESPONSÁVEL PELO MERCADO DA ROMÉNIA

(Artigo originalmente publicado na revista da AICEP )

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