Rogue One: onde é que já vimos esta história?

Estreia hoje o primeiro de uma série de filmes ligados ao imaginário <em>Star Wars</em>, mas só com algumas das personagens do costume.
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"Há muito tempo, numa galáxia muito muito distante...". A nota de entrada dos filmes Star Wars, na sua singular familiaridade, surge em Rogue One como que a bafejar de sorte a empreitada. No entanto, desta vez, não se completa o ritual introdutório com a longa passadeira de texto que descreve uma conjuntura espacial: vai-se direto ao assunto. Mas o que nos quer contar este novo filme? Como se posiciona na saga? Estas são as primeiras questões que urgem ser esclarecidas relativamente ao lugar de Rogue One: Uma História de Star Wars na mitologia da franchise criada por George Lucas, há 40 anos.

Não é uma sequela nem é uma prequela. Consideremo-lo uma narrativa acólita da principal, como um ramo despontado do tronco medular. A ação arruma-se algures entre o Episódio III: A Vingança dos Sith (2005) e o Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977), e partilha a mesma estética dos outros filmes. Quer isto dizer que o realizador, Gareth Edwards (Godzilla), um confesso admirador da série, fez o trabalho de casa, mas não se preocupou em mostrar algo, pelo menos, ligeiramente fresco. E quando falamos de estética falamos do próprio alicerce da narração, sempre apostado em atribulações de pais e filhos, hologramas, os dois lados da Força...

É certo que no anterior Star Wars: O Despertar da Força (2015), J. J. Abrams também se tinha revelado um bom aluno nessa matéria de preservação da identidade, mas aí evidenciava-se como uma virtude, havia o fator da nostalgia que justificava a abordagem, e mesmo um sentido de evolução na continuidade.

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Precisamente, apoiando-se no déjà vu do fugitivo com que começava O Despertar da Força, Rogue One, depois de um preâmbulo familiar, coloca a ação sobre rodas a partir do momento em que um desertor faz chegar uma mensagem ao seu destinatário. Quem enviou essa mensagem foi Galen Erso (Mads Mikkelsen), um brilhante cientista que está por detrás da criação de uma arma de efeito nuclear, destinada a extinguir os planetas - a famigerada Estrela da Morte. Ele está preso nas malhas do Império, sob a ameaçadora vigilância de Orson Krennic (Ben Mendelsohn), mas nem por isso deixou de acreditar ser possível travar a calamidade em vias de suceder.

O charme de Darth Vader

Nesta história, contudo, a maior estrela é a filha desse cientista, Jyn Erso (uma Felicity Jones, apesar de tudo, sem grande chama), que reunirá um exército de inconformados (com o ator chinês, Donnie Yen, a dar um toque de Zatôichi, o mestre invisual das artes do sabre) para a concretização da vontade do pai. Eles fazem parte da Aliança Rebelde, determinada a derrubar o Império, e, como a certa altura se diz, "os rebeldes baseiam-se na esperança". Ora, é a esperança que faz mover Rogue One - a firmeza de que, até ao último minuto, alguma coisa nos pode surpreender. Mas fica-se pelo rastilho.

Na verdade, ao procurar afirmar-se como uma narrativa, simultaneamente, dentro e fora de Star Wars, Rogue One perde razão de ser, porque repete uma fórmula sem acrescentar substância à matriz. Além disso, o romance e o humor, dois dos elementos cruciais de vários dos filmes anteriores, estão claramente secundarizados no argumento de Chris Weitz e Tony Gilroy, restando uns lampejos nas deixas de um robot, K-2SO, a fazer as vezes de Chewbacca (e a falta que ele faz!), e uma troca de olhares entre Felicity Jones e Diego Luna, no papel de um dos rebeldes.

De facto, só dá para arregalar os olhos quando Darth Vader, vindo da sua característica escuridão, se presta a nutrir de simbolismo duas cenas do filme (que só duram uns minutos), acompanhado pelo séquito musical de Michael Giacchino, numa releitura da composição de John Williams.

À margem destes detalhes, recordemos que, quando a Disney adquiriu a Lucasfilm, em 2012, fê-lo com a explícita intenção de tirar o máximo proveito dos 4 mil milhões de dólares investidos. E como fazer para equilibrar as contas? Depois de O Despertar da Força, que inaugurou a nova trilogia da saga, Rogue One marca também o início de uma série de filmes, que ocorrem dentro da Galáxia criada por George Lucas, embora sem ligação direta aos assuntos familiares de Star Wars: estas são as cartas que, no fim, farão alguém de bolsos cheios dizer, "valeu a pena".

Cronologia:

São nove os episódios que deverão acabar por constituir a saga de Star Wars. Eis a sua lista, por ordem de produção:

A GUERRA DAS ESTRELAS

(episódio IV) - realizador: George Lucas (1977)

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA

(episódio V) - realizador: Irvin Kershner (1980)

O REGRESSO DE JEDI

(episódio VI) - realizador: Richard Marquand (1983)

A AMEAÇA FANTASMA

(episódio I) - realizador: George Lucas (1999)

O ATAQUE DOS CLONES

(episódio II) - realizador: George Lucas (2002)

A VINGANÇA DOS SITH

(episódio III) - realizador: George Lucas (2005)

O DESPERTAR DA FORÇA

(episódio VII) - realizador: J. J. Abrams (2015)

Episódio VIII - realizador: Rian Johnson (2017)

Episódio IX - realizador: Colin Trevorrow (2019)

O projeto de renovação da saga pelos estúdios Disney inclui três aventuras "paralelas": a primeira é a que hoje chega às salas de todo o mundo, Rogue One; a segunda, ainda sem título, com realização de Phil Lord e Christopher Miller, estreará em 2018; a terceira, com título e realizador a determinar, está agenda para 2020.

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