Rodrigo Maia sucede a Cunha como novo líder dos deputados

Político de 46 anos, nascido no Chile, é do partido mais à direita da Câmara. No entanto, a sua eleição foi um mal menor tanto para o governo como para a oposição.
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A Câmara dos Deputados elegeu na madrugada de ontem Rodrigo Maia, do Democratas (DEM), partido mais à direita do órgão legislativo, como presidente. Na complicada teia de relações da política brasileira, tanto o governo liderado pelo presidente interino, Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), como o oposicionista Partido dos Trabalhadores (PT), da presidente afastada Dilma Rousseff, festejaram a vitória de Maia. Ou, pelo menos, consideraram-na um mal menor. O grande derrotado foi Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara de fevereiro de 2015 a maio deste ano, quando foi afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que apoiava Rogério Rosso (PSD), segundo classificado.

Rodrigo Maia tem 46 anos, é bancário e nasceu em Santiago, no Chile, cidade em que o seu pai, César Maia, prefeito do Rio de Janeiro por 12 anos conhecido por percorrer todo o espectro político do país, começando pela extrema-esquerda e acabando na extrema-direita, se exilou durante a ditadura militar brasileira. Maia - o filho - foi citado na Operação Lava-Jato por receber subornos da construtora OAS, votou pelo impeachment de Dilma, defende o governo Temer, mas obteve a maioria dos votos dos deputados da bancada do PT, por decisão do ex-presidente Lula da Silva.

Para entender, a Câmara dos Deputados divide-se hoje em três blocos: a nova oposição, composta por PT e partidos mais à esquerda, a velha oposição, composta por PSDB, DEM e outras forças que eram contrárias à gestão do PT e estão com o atual governo, e o centrão, enorme bloco de pequenos e médios partidos que transferiram o apoio de Dilma para Temer. Cunha, como líder na prática deste bloco, apostava em Rosso para continuar a exercer influência no órgão. O Palácio do Planalto também preferia Rosso mas, sobretudo, evitava a todo o custo que o candidato Marcelo Castro, curiosamente do mesmo PMDB de Temer e de Cunha, vencesse - terminou em terceiro. Castro, que foi ministro de Dilma e votou contra o impeachment, era o preferido do PT. Já Maia, o vencedor, não desagrada nem ao Planalto, que só não queria Castro, nem ao PT, que lutava acima de tudo para que Rosso, o protegido de Cunha, não ganhasse.

"Temos de pacificar o plenário", disse o vencedor no discurso de consagração. "Somos da mesma base, ambos apoiamos o governo", acrescentou o perdedor, Rogério Rosso, enquanto abraçava Maia. "Desejo sucesso à gestão de Maia e dou os parabéns pela elegância na hora da derrota a Rosso", comentou Temer. Inscreveram-se na eleição 17 deputados, dos quais três desistiram antes da votação e 12 não se apuraram para a segunda e decisiva volta. A maioria deles responde por acusações no STF, incluindo denúncias de formação de quadrilha, sequestro e cárcere privado (Fernando Giacobo, PR, quarto mais votado) ou de escravidão (Beto Mansur, PRB, que desistiu à última hora em favor de Rosso).

Na campanha eleitoral ao longo do dia, o candidato Gilberto Nascimento (PSC) surpreendeu ao instalar um holograma tridimensional onde apresentava, sem pausas, as suas propostas; por ser menos tecnológico, Rogério Rosso perdeu a voz a meio da tarde e recorreu a constantes chás de gengibre para conseguir discursar; Luiza Erundina (PSOL) distribuiu girassóis aos seus pares.

A presidência da Câmara dos Deputados é importante, em primeiro lugar porque é o segundo cargo mais alto da nação, enquanto durar o governo Temer. Como o peemedebista não tem vice-presidente no seu mandato, será Rodrigo Maia quem dirigirá o país na sua ausência. Depois, cabe-lhe dirigir sessões no plenário, determinar a ordem do dia, interromper ou expulsar deputados durante as discussões, nomear os presidentes das comissões e, claro, aceitar ou rejeitar pedidos de impeachment.

A votação sobre o teto dos gastos públicos, a renegociação das dívidas dos Estados com o governo federal e a reforma na segurança social serão, em concreto, os grandes desafios de Maia, cujo mandato dura até fevereiro de 2017, altura em que Cunha encerraria a sua gestão.

São Paulo

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